Gabriel Barbosa tem 70 gols e 23 assistências em 101 jogos com a camisa do Flamengo. Bruno Henrique coleciona 56 bolas na rede e 27 passes decisivos em 115 exibições. Ambos são protagonistas da série de sete títulos conquistados pelo clube carioca em duas temporadas, mas em pelo menos dois episódios perderam a noção do que é ser ídolo de uma “nação” com 40 milhões de torcedores e da responsabilidade social como cidadãos.
Em fevereiro do ano passado, Bruno Henrique foi parado em uma blitz da Lei Seca na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. O atacante apresentou carteira de habilitação falsa aos agentes e recusou-se a realizar o teste do bafômetro para apurar se havia traços de álcool no sangue. O jogador foi multado por conduzir o veículo sem habilidade válida, se recusar a realizar o teste de bebida alcoólica e depôs na 16ª Delegacia de Polícia do Rio.
Um ano depois, o pivô de uma nova polêmica é Gabriel Barbosa. Na madrugada de ontem, o ídolo rubro-negro foi flagrado pela Polícia Civil em cassino clandestino, em Vila Olímpia, Zona Sul de São Paulo. Havia aglomeração, com cerca de 300 pessoas. O jogador estava em recesso até ontem depois da conquista do bicampeonato brasileiro e se reapresentará hoje ao técnico Rogério Ceni, no Ninho do Urubu. Gabigol entra em uma lista de outros jogadores e técnicos que tentaram driblar a pandemia e se deram mal, como Cazares, Neymar, Moisés, Arboleda e Jorge Sampaoli (leia memória).
“Tivemos a informação por meio de uma força-tarefa montada pelo governo do estado com a Polícia Civil, Polícia Militar, Procon, Corpo de Bombeiros, vigilância sanitária e outros órgãos como a Guarda Civil Metropolitana de que, no lugar, haveria uma festa clandestina com aglomeração, que é o que combatemos. Ao chegarmos no local, para a nossa surpresa, não se tratava de uma festa clandestina, e sim de um cassino clandestino. Na verdade bastante grande. Com diversas pessoas aglomeradas, se expondo ao contágio”, explicou Eduardo Brotero, delegado de polícia e supervisor do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos.
Gabigol e MC Gui, outro famoso flagrado no cassino, foram conduzidos à delegacia para prestar esclarecimentos. Em entrevista ao programa Fantástico da tevê Globo, o camisa 9 do Flamengo deu a versão dele para a presença dele no evento no auge da pandemia. “Não tenho costume de ir a cassino, a única coisa que eu jogo é videogame. Estava com meus amigos, fomos comer. Quando estava indo embora, a polícia chegou mandando todo mundo ir para o chão. Faltou sensibilidade da minha parte. Era meu último dia de férias, e estava feliz de estar com meus amigos. Faltou sensibilidade. Mas usei máscara, álcool gel... Quando percebi que tinha um pouquinho mais de gente, estava indo embora”, contou Gabriel.
O jogador assinou um Termo Circunstanciado e se comprometeu a participar de atos judiciais quando requisitado e a não aglomerar mais. O caso será repassado ao Ministério Público para abertura ou não de processo. Segundo a polícia, a denúncia sobre o cassino partiu do deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP). O artigo 268 do código penal prevê detenção de um mês a um ano, além de multa. Gabigol teria sido flagrado escondido debaixo de uma mesa. Os agentes teriam orientado a todos que ficassem no chão.
“A Polícia Civil lavrou, por meio do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), pelo artigo 268, transgressão da lei sanitária, e, também, por jogo de azar. Vai ser ouvido posteriormente”, disse o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, que comandou a operação na madrugada, SporTV.
Assim como no episódio da carteira falsa de Bruno Henrique, o vice de futebol Marcos Braz acompanhou o episódio em que Gabriel Barbosa se meteu. A princípio, a diretoria rubro-negra não pretende multar Gabigol. “Isso é assunto pessoal dele. Não viola qualquer vínculo contratual com o Flamengo. Aguardamos Gabriel na representação e torcemos que tenha um grande de ano, disse ao blog do jornalista Mauro Cezar Pereira o vice-presidente jurídico rubro-negro, Rodrigo Dunshee de Abranches.
O ex-jogador Casagrande criticou Gabigol publicamente. “O Gabigol não tem a mínima noção do que é ser um ídolo. Deveria incentivar a vacinação, o uso de máscara, o distanciamento social. Aproveitar a grande fase que atravessa para ajudar na informação correta, mas, em vez disso, é detido pela polícia”, afirmou.
O comentarista também cobrou a diretoria. “O Flamengo está entrando numa estrada muito perigosa. Gabriel manda e é mais importante do que a direção do clube. O que o Flamengo fará agora? Passará a mão na cabeça?”
Memória
Outras cinco tentativas de driblar as regras na pandemia
» Cazares - Em meio à pandemia, promove festa com aglomeração em casa, em Belo Horizonte. Atlético-MG decide multar o jogador em R$ 130 mil. Cazares foi emprestado pelo Galo ao Corinthians.
» Neymar - Suposta festa do astro do PSG e da Seleção Brasileira teria levado 500 convidados à mansão do atacante, em Mangaratiba (RJ). Neymar negou e disse que o evento foi íntimo, para familiares e amigos.
» Moisés - Festa de aniversário na casa do pai do lateral-esquerdo do Internacional é denunciada por aglomeração em condomínio na Zona Sul de Porto Alegre e a Polícia Civil entra em ação.
» Arboleda - O zagueiro é multado pela diretoria do São Paulo depois de comparecer a um baile funk. O jogador aparece sem máscara em postagens do Dj Guuga e compartilhadas por torcedores.
» Jorge Sampaoli - Uma festa organizada pelo então gerente de futebol Gabriel Andreatta, com as presenças de Jorge Sampaoli e da comissão técnica do Atlético-MG, teria iniciado o surto de covid-19 no elenco do Galo no Brasileirão.
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