A fase mais dramática da pandemia do novo coronavírus no Brasil, com mais de 3 mil mortes por dia, colocou o futebol para correr do segundo maior estádio do Distrito Federal. Reinaugurado em 2008 com o badalado amistoso entre Brasil e Portugal; palco da conquista do tricampeonato consecutivo do São Paulo no Brasileirão do mesmo ano; e do tetra da Seleção no Mundial Sub-17 da Fifa, em 2019, o gramado do Bezerrão receberá um dos três hospitais de campanha do Governo do Distrito Federal. Acredite: houve quem fizesse bico contra o plano emergencial para salvar vidas e quem tentasse mexer os pauzinhos pela montagem da estrutura na área externa, a fim de que a bola continuasse rolando no campo. No entanto, uma avaliação técnica frustrou teimosos e insensíveis.
Na noite de domingo, um caminhão começou a despejar a estrutura para o hospital de campanha no gramado do Bezerrão. A movimentação surpreendeu interessados diretos: a Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF), a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Liga do Nordeste tinham partidas marcadas para o estádio nesta semana. No último dia 26, o Diário Oficial do DF previa a montagem no Complexo Esportivo do Gama. O espaço compreende o estádio com capacidade para 20 mil pessoas e o Centro Olímpico e Paralímpico da cidade.
Era o início de uma queda de braço. Principal usuário do estádio, o Gama receberia o Brasiliense no clássico de amanhã pelo Candangão. Diante do impasse, a FFDF tratou logo de mudar o local da partida para o campo do Real Brasília — o Defelê, na Vila Planalto. Mas havia outro problema: a CBF transferiu o duelo entre Treze e Botafogo, na quinta-feira, pela Copa do Nordeste, para o Bezerrão. Havia expectativa para que ao menos o clássico paraibano fosse mantido para o estádio. Motivo: o caminhão retirou a parafernália de dentro do campo e levou para o estacionamento. No início da noite de ontem, houve mais uma reviravolta.
O Correio apurou que uma avaliação técnica no asfalto do estacionamento do Bezerrão acusou desnível de 2,4 m no piso da área externa. Obviamente, uma diferença muito grande para a montagem da estrutura do hospital. Foi a senha para o GDF bater o martelo e definir pela montagem do hospital no gramado. Um dos efeitos colaterais deve ser a rescisão do contrato com a firma responsável pela manutenção do campo. Nos últimos sete anos, o gramado recebeu pelo menos três investimentos pesados da Fifa para a Copa 2014, os Jogos Olímpicos e o Mundial Sub-17. Para este último, a entidade máxima do futebol despejou mais de R$ 1 milhão no reforço híbrido.
A transformação temporária do Bezerrão em hospital de campanha fez com que a Secretaria de Esporte realocasse o Clássico Tradição entre Treze e Botafogo. Marcado originalmente para o Albertão, em Campina Grande (PB), o duelo havia mudado de endereço para o Bezerrão — a 1.619km da casa do mandante. Agora, o jogo acontecerá no Serejão, em Taguatinga, na quinta-feira, às 15h30. Opções como Arena Pernambuco e Arruda foram descartadas na última sexta-feira pelo departamento técnico da CBF.
Em entrevista ao Correio, o presidente do Treze, mandante do jogo, confirmou o embarque do time para amanhã. “Sairemos de Campina Grande para Recife e, de lá, seguiremos para Brasília. Esse é o nosso planejamento”, afirmou Walter Júnior.
O discurso é o mesmo no arquirrival Botafogo. O diretor-executivo de futebol, Francisco Sales, disse à reportagem que o Botafogo-PB virá ao DF. “Estamos em contato com a Liga do Nordeste e CBF para saber onde será o jogo e, em paralelo, mandamos a nossa logística para que o bloqueio das passagens e reservas de hotel sejam feitas. Enquanto não houver um posicionamento contrário ao atual, vamos nos organizar para ir a Brasília”. A preocupação é com a quantidade reduzida de voos de João Pessoa para Brasília.
Não é a primeira vez que a CBF recorre ao DF em meio à pandemia. No início deste ano, a entidade transferiu para cá partidas dos representantes de Amazonas na Copa Verde. À época, as partidas do Fast e do Manaus foram disputadas no campo do Defelê e no Bezerrão.
Sem-teto
Segundo a Secretaria de Esporte, que administra o Bezerrão, as demais partidas do Candangão marcadas para o estádio, cujo principal mandante é o Gama, serão realocadas para o Rorizão, em Samambaia. A tabela do campeonato local prevê mais quatro partidas na arena até o fim da primeira fase. Representante do DF na Série A1 do Brasileirão, o Minas Brasília também terá de procurar um novo estádio.
Candangão
Após três semanas de paralisação, o torneio recomeçará na manhã de hoje. O Taguatinga terá pela frente o Sobradinho, às 10h30, no Serejão. O Real Brasília receberá o Santa Maria no Defelê, às 15h30. No Abadião, o Samambaia medirá forças com o Capital. Os três duelos dão sequência à terceira rodada, que começou em 6 de março com vitória do Ceilândia sobre o Unaí, por 1 x 0, e do Luziânia, por 2 x 1, diante do Formosa. Gama e Brasiliense completam a jornada amanhã,
às 15h30, no Defelê.
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