FUTEBOL

Mães e jogadoras

Atletas dos clubes candangos da elite do futebol nacional transformam as adversidades da distância dos filhos em inspiração para seguirem o sonho no esporte e servirem de exemplo

Maíra Nunes
postado em 08/05/2021 23:16 / atualizado em 09/05/2021 08:19
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Acima das dificuldades, jogadoras de futebol salientam a motivação que os filhos trazem para que elas sigam o sonho dentro do esporte. Esse é o discurso da atacante Evelyn Feitoza, conhecida como Gadu, principal reforço do Real Brasília para o bom começo da equipe na estreia no Campeonato Brasileiro A1 Feminino — o time ocupa a sexta posição, com 10 pontos, em cinco rodadas. Mãe do Théo, de 5 anos, a atacante de 23 anos encara a saudade do filho, que está com os avós, no interior da Bahia, para viver a primeira experiência profissional dela fora do estado baiano.

“A saudade e a distância são um pouco tristes, porque acabo perdendo muita coisas da infância do meu filho. Mas, graças à tecnologia, temos as chamadas de vídeo, ligações e fotos que ajudam”, comenta Gadu. A jogadora defendeu o primeiro clube de futebol em 2017, quando Théo tinha por volta de 1 ano. Apesar de começar apenas aos 20 anos no futebol de alto rendimento, quando mudou-se para Salvador, Gadu não demorou para se destacar. Marcou oito gols em 17 jogos nas duas temporadas em que atuou pelo Vitória. O desempenho rendeu contrato com o Bahia para disputar o Brasileiro A2, em 2019, competição na qual terminou como artilheira, com 11 gols em seis jogos.

Nascida em São Paulo, Gadu mudou-se aos 11 anos com os pais para Serrolândia, distante cerca de 5 horas da capital baiana, onde cresceu jogando bola na rua com os primos e amigos. Na primeira temporada da carreira fora do estado da Bahia, ela não deixa de se apegar ao filho para seguir firme em busca do sonho. “Talvez, se eu não tivesse o meu filho, não estaria aqui hoje. Ele é aquele empurrão que preciso para seguir. Em situações que penso em desistir, ele vem na minha mente, faço por ele, e isso me ajuda muito, estou aqui por ele”, diz Gadu.

Outra jogadora do Real Brasília a compartilhar a experiência de ser mãe é Luciana. A volante de 32 anos chegou a pensar em desistir da carreira. “Eu quis parar de jogar futebol quando descobri que seria mãe, mas recebi todo o incentivo da minha família, que foi um grande pilar para mim”, conta. A pequena Ana Luísa ficava aos cuidados da avó para Luciana poder treinar até que conseguisse um meio de levar a filha com ela para os treinamentos. Desde setembro, Luciana tem a companhia da filha dentro do alojamento do clube a semana inteira e volta para casa, onde mora com o marido, nos finais de semana.

“Agradeço muito à diretoria do Real Brasília por ter me dado a oportunidade de trazer a minha filha comigo. Agora, posso estar 24 horas por dia com ela e seguir vivendo o futebol”, comemora Luciana, que tem longa trajetória por equipes do Distrito Federal, como Gama, Ceilândia, Santa Maria, Cresspom e Ascoop, além de passagem pelo Vitória. A volante, que pensou em desistir do futebol quando engravidou, enxerga essa mudança na vida dela como uma inspiração. “É muito gratificante ser mãe e atleta, Hoje, eu sou mais atleta por ela, porque o esporte é o meu ganha-pão”, orgulha-se.

Com a pandemia e a suspensão das aulas presenciais, a pequena Ana Luísa encontrou nas companheiras de time da mãe a socialização da qual sentiu tanta falta longe da escola. “Em casa, minha filha chorava muito pela falta da escola, que ela gostava bastante. No Centro de Treinamento do clube, ela até esquece da saudade e vive no meio das jogadoras”, conta Luciana. Os trajes entregam a identificação da menina com o local. Vestida com uniforme do Real Brasília e chuteiras, Ana Luísa sente-se em casa na companhia da mãe e das demais atletas que viraram tias dela também.

Em recuperação de uma ruptura no joelho direito sofrida na final do Candangão, em dezembro de 2020, Luciana passa a maior parte do tempo na fisioterapia e não precisa se ausentar para competir. Antes de ela se machucar, a filha ficava com o marido durante as viagens para a disputa do Brasileiro A2 na campanha que rendeu o acesso do Real Brasília à elite. Uma das remanescentes do elenco que originou o futebol feminino no clube, em 2019, ela aguarda com ansiedade o retorno aos gramados. E novamente a tarefa de conciliar a maternidade com uma profissão que exige tantas viagens e abdicações não será fácil.

Outro representante do DF na elite do futebol nacional, o Minas Brasília tem uma mãe no elenco. Isadora é só alegria ao falar do filho Miguel, de 5 anos. “É uma experiência muito boa, é muito bom ser mãe. É dificil consciliar a saudade e a distância, mas é muito bom e tento sempre ser presente na vida dele”, diz Isa.

Enquanto está em competição, o pequeno fica com os avós, em São Paulo. Mas, em qualquer folga que surja nas competições, Isa aproveita para viajar e ficar perto do filhote, além das ligações para se falarem todos os dias. “O Miguel é a minha inspiração. Tenho que dar o meu melhor todos os dias, para valer a pena tudo de que abrimos mão”, reconhece. Esforço que faz parte da criação deles. “Também me preocupa em como ele me vê. Quero que veja que a mãe dele é uma atleta de futebol”, orgulha-se.

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