COPA AMÉRICA

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Um ano depois de negar garantias ao Mundial Feminino 2023, Brasil cai em contradição. Com aval de Bolsonaro, país se apodera do principal torneio masculino de seleções do continente. Brasília receberá abertura

Marcos Paulo Lima
postado em 02/06/2021 00:01
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press - 7/7/19)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press - 7/7/19)

Ao acolher oficialmente ontem a Copa América, com sede em Brasília, Goiânia, Cuiabá e Rio de Janeiro, o Brasil, especialmente o governo do presidente da República, Jair Bolsonaro, e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), caíram em contradição no que diz respeito, principalmente, à questão de gênero. Há um ano, a CBF enviou carta à Fifa retirando a candidatura do país da disputa com Colômbia, Japão e as parceiras vencedoras Austrália e Nova Zelândia para receber o Mundial Feminino de 2023.

Um dos motivos apontados pela CBF para a desistência foi este: “uma combinação de fatores levou a esta decisão, tomada com grande responsabilidade. Análise da Fifa sobre a documentação da candidatura brasileira considerou que não foram apresentadas as garantias do Governo Federal e documentos de terceiras partes, públicas e privadas, envolvidas na realização do evento. A CBF compreende a necessidade da Fifa de obter tais garantias e sabe que elas fazem parte do protocolo padrão da entidade internacional, sendo elemento fundamental para conferir a segurança necessária para efetiva realização de eventos deste porte”, argumenta a carta.

Mais à frente, o documento publicado em 8 de junho de 2020, ou seja, três meses depois do início da pandemia no Brasil, acrescenta: “O Governo Federal, por sua vez, elaborou para a Fifa uma carta de apoio institucional na qual garantiu que o país está absolutamente apto a receber o evento do ponto de vista estrutural, como já o fez em situações anteriores. No entanto, ressaltou que, por conta do cenário de austeridade econômica e fiscal, fomentado pelos impactos da pandemia da covid-19, não seria recomendável, neste momento, a assinatura das garantias solicitadas pela Fifa”, informa.

Alinhada com o governo, a CBF admite o momento execpcional, diz compreender a cautela do governo brasileiro e de outros parceiros públicos e privados e cita o boom de competições esportivas no país como outro fator relevante para a desistência.

“Soma-se a isso a nossa percepção, construída durante o processo, de que o acúmulo de eventos esportivos de grande porte realizados em curto intervalo de tempo no Brasil — Copa das Confederações 2013, Copa do Mundo 2014, Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio- 2016, Copa América 2019 e Copa do Mundo Sub-17 2019 — poderia não favorecer a candidatura”.

O futebol feminino vive ótimo momento no país. Hoje, há três divisões no Brasileirão. Mas o Mundial em 2023 foi um sonho jogado para escanteio. Na contramão, uma tabelinha entre Conmebol, CBF e o governo brasileiro deram garantias à realização da Copa América em 48 horas. O torneio seria na Argentina e na Colômbia, mas ambos enfrentam grave crise sanitária e política, respectivamente.

Naquele 8 de junho de 2020, o Brasil abriu mão do Mundial quando o país registrava 37.134 mortes causadas por covid-19. Onze meses depois, aceita receber a Copa América masculina no auge da pandemia. São mais de 465 mil vidas perdidas no país.

Curiosamente, o Mané Garrincha era um dos estádios candidatos a receber o Mundial Feminino 2023. Neste mês, abrigará o jogo de abertura da improvisada Copa América, como antecipou o blog Drible de Corpo do Correio na última segunda-feira. A final será novamente no Maracanã, como há dois anos, quando o Brasil venceu o Peru na final.

A arena da capital do país está com gramado novinho depois do plantio de sementes de inverno, trocará placas do campo desgastadas pela maratona de jogos durante e depois das partidas e colocará quatro vestiários à disposição da Conmebol para a necessidade de rodadas duplas. O torneio terá 28 jogos distribuídos por Mané Garrincha, Arena Pantana, Olímpico e Maracanã.

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