Ao acolher oficialmente ontem a Copa América, com sede em Brasília, Goiânia, Cuiabá e Rio de Janeiro, o Brasil, especialmente o governo do presidente da República, Jair Bolsonaro, e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), caíram em contradição no que diz respeito, principalmente, à questão de gênero. Há um ano, a CBF enviou carta à Fifa retirando a candidatura do país da disputa com Colômbia, Japão e as parceiras vencedoras Austrália e Nova Zelândia para receber o Mundial Feminino de 2023.
Um dos motivos apontados pela CBF para a desistência foi este: “uma combinação de fatores levou a esta decisão, tomada com grande responsabilidade. Análise da Fifa sobre a documentação da candidatura brasileira considerou que não foram apresentadas as garantias do Governo Federal e documentos de terceiras partes, públicas e privadas, envolvidas na realização do evento. A CBF compreende a necessidade da Fifa de obter tais garantias e sabe que elas fazem parte do protocolo padrão da entidade internacional, sendo elemento fundamental para conferir a segurança necessária para efetiva realização de eventos deste porte”, argumenta a carta.
Mais à frente, o documento publicado em 8 de junho de 2020, ou seja, três meses depois do início da pandemia no Brasil, acrescenta: “O Governo Federal, por sua vez, elaborou para a Fifa uma carta de apoio institucional na qual garantiu que o país está absolutamente apto a receber o evento do ponto de vista estrutural, como já o fez em situações anteriores. No entanto, ressaltou que, por conta do cenário de austeridade econômica e fiscal, fomentado pelos impactos da pandemia da covid-19, não seria recomendável, neste momento, a assinatura das garantias solicitadas pela Fifa”, informa.
Alinhada com o governo, a CBF admite o momento execpcional, diz compreender a cautela do governo brasileiro e de outros parceiros públicos e privados e cita o boom de competições esportivas no país como outro fator relevante para a desistência.
“Soma-se a isso a nossa percepção, construída durante o processo, de que o acúmulo de eventos esportivos de grande porte realizados em curto intervalo de tempo no Brasil — Copa das Confederações 2013, Copa do Mundo 2014, Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio- 2016, Copa América 2019 e Copa do Mundo Sub-17 2019 — poderia não favorecer a candidatura”.
O futebol feminino vive ótimo momento no país. Hoje, há três divisões no Brasileirão. Mas o Mundial em 2023 foi um sonho jogado para escanteio. Na contramão, uma tabelinha entre Conmebol, CBF e o governo brasileiro deram garantias à realização da Copa América em 48 horas. O torneio seria na Argentina e na Colômbia, mas ambos enfrentam grave crise sanitária e política, respectivamente.
Naquele 8 de junho de 2020, o Brasil abriu mão do Mundial quando o país registrava 37.134 mortes causadas por covid-19. Onze meses depois, aceita receber a Copa América masculina no auge da pandemia. São mais de 465 mil vidas perdidas no país.
Curiosamente, o Mané Garrincha era um dos estádios candidatos a receber o Mundial Feminino 2023. Neste mês, abrigará o jogo de abertura da improvisada Copa América, como antecipou o blog Drible de Corpo do Correio na última segunda-feira. A final será novamente no Maracanã, como há dois anos, quando o Brasil venceu o Peru na final.
A arena da capital do país está com gramado novinho depois do plantio de sementes de inverno, trocará placas do campo desgastadas pela maratona de jogos durante e depois das partidas e colocará quatro vestiários à disposição da Conmebol para a necessidade de rodadas duplas. O torneio terá 28 jogos distribuídos por Mané Garrincha, Arena Pantana, Olímpico e Maracanã.
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