Terapia de grupo

Quartas de final colocam ex-jogadores que viraram técnicos no divã. Comandantes da Inglaterra, Espanha, Ucrânia e Itália trocam os pés pelas mãos e curam traumas de quando vestiam a camisa de suas seleções

Marcos Paulo Lima
postado em 30/06/2021 00:26
 (crédito: Laurence Griffiths/AFP)
(crédito: Laurence Griffiths/AFP)

Vinte e nove de junho de 2021 ficará marcado na biografia do técnico da Inglaterra, Gareth Southgate, como o dia em que ele eliminou a Alemanha e libertou-se de um trauma de 25 anos que o atormentava desde as semifinais da Euro-1996. A vingança teve requinte de crueldade. O triunfo por 2 x 0 pelas oitavas de final encerrou a era Joachim Löw . O comandante do tetra germânico na Copa de 2014, no Maracanã, entrega o cargo a Hans-Dieter Flick sem o último título que faltou no currículo: a Euro. Além do Mundial, o protagonista do 7 x 1 ganhou a Copa

 

das Confederações, em 2017. A Euro exorciza fantasmas de outros treinadores. Prejudicado no histórico lance em que fica ensanguentado contra a Itália nas quartas de final da Copa de 1994 depois de ser agredido por Tassotti, Luis Enrique está entre os oito à frente da Espanha. Por falar na Itália, Roberto Mancini, que fazia parte do elenco da Itália na Copa de 1990 e não entrou em campo em casa, lidera uma seleção candidata ao título. Eliminado do Mundial de 2006 pela Suíça nas oitavas, Shevchenko insere a Ucrânia pela primeira vez no G-8 da Eurocopa.

 

Vinte e cinco anos de pesadelo

Em 26 de junho de 1996, Gareth Bale frustrou a Inglaterra nas semifinais da Eurocopa. A Inglaterra havia empatado por 1 x 1 com a Alemanha, em Wembley, nas semifinais. A decisão da vaga avançou à decisão por pênaltis. Shearer, Platt, Pearce, Gascoigne e Sheringham converteram as cobranças dos anfitriões. Na hora dos alternados, Southgate errou a única cobrança, e o país desperdiçou a chance de conquistar o título inédito. Ontem, o ex-zagueiro foi à forra. Com gols de Sterling e Kane, a Inglaterra quebrou tabu de 55 anos em casa contra a Alemanha — o último triunfo havia sido na decisão da Copa de 1966 — , confirmou a presença nas quartas de final contra a Ucrânia e sonha com o retorno a Wembley na decisão de 11 de julho.

 

Pacto de sangue

Em 1994, Luis Enrique era uma das estrelas da Espanha na Copa dos Estados Unidos ao lado de Guardiola, Hierro, Zubizarreta, Abelardo, Ferrer... Nas quartas de final, a Fúria cruzou com a Itália. Luis Enrique foi vítima de um dos lances mais polêmicos daquele torneio. Agredido com uma cotovelada pelo zagueiro Tassotti, ficou ensanguentado no gramado, mas o árbitro húngaro Sandor Puhl nem cartão amarelo deu no lance. À época, a Fifa usou, pela primeira vez, imagens para punir um jogador. Tassotti foi banido do torneio. Nada amenizou a frustração de Luis Enrique. Agora técnico, ele tem uma dívida consigo: ganhar um título à frente da Espanha. E olha que o cara é vencedor. Na temporada de 2014/2015, o Barcelona conquistou tudo sob a batuta dele.

 

Dívida com uma nação

Pessoalmente, Andryi Shevchenko não tem muito o que reclamar da vida. Numa das poucas vezes em que os prêmios da revista France Football e da Fifa divergiram, ele ganhou a Bola de Ouro e viu Ronaldinho Gaúcho ser eleito número 1 pela entidade máxima do futebol. Colecionador de cinco títulos pelo Milan, entre eles, a Champions League em 2002/2003, o ídolo do país tem uma frustração: a eliminação precoce por pênaltis nas oitavas de final da Copa de 2006, na Alemanha. Ele abriu aquela série e errou. A falha teve efeito devastador na sequência. A Ucrânia perdeu todas as cobranças e a Suíça avançou às quartas. Ontem, Shevchenko classificou a Ucrânia pela primeira vez para as quartas da Euro com a vitória por 2 x 1 sobre a Suécia, em Glasgow.

 

Ador da Copa de 1990

Roberto Mancini não curte muito ouvir um nome: Azeglio Vicini. Em 1990, o técnico da Itália na segunda vez em que o país foi sede da Copa, usou todos os jogadores de linha na competição, menos um: Mancini! Talvez, por isso, ele seja tão democrático. Nesta Euro, deu chance a todos os jogadores de linha nas quatro exibições contra Turquia, Suíça, País de Gales e Áustria. A saga para levar a Squadra Azzurra ao bicampeonato depois de 43 anos — o único título continental foi em 1968 — continuará na sexta-feira em um jogão contra a Bélgica nas quartas de final. O treinador empilha 31 jogos de invencibilidade, 11 vitórias seguidas, sendo a última na prorrogação, e terá a chance dar a maior prova de força contra a trupe de Lukaku, De Bruyne, Hazard, Courtois...

 

 

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