Copa América

Tite: 'Pedimos para a Copa América não ser no Brasil'

Técnico conta que a Seleção solicitou ao presidente afastado da CBF que não realizasse o evento no país. Sem papas na língua, treinador critica calendário e protesta contra assédio sexual

A entrevista coletiva de Tite na véspera da estreia do Brasil na Copa América contra a Venezuela neste domingo, às 18h, no Mané Garrincha, fugiu à regra. O comandante verde-amarelo subiu o tom nas críticas aos organizadores da 47ª edição da competição. Transferido da Colômbia e da Argentina para o Brasil por causa de questões políticas e sanitárias nos anfitriões originais, o torneio será disputado sob protesto pelos donos da casa. Isso ficou claro nas declarações de Tite, em São Paulo, antes do embarques para Brasília. A delegação tem chegada prevista para 22h40 no Aeroporto Internacional JK.

Sincerão, Tite revelou que intercedeu ao então presidente Rogério Caboclo, afastado do cargo depois de denúncias de assédio sexual e moral, para que o país não recebe o evento. "Pedimos antes ao presidente da CBF. Eu pedi, os atletas pediram, o Juninho pediu antes de ser definido que ela fosse no Brasil. Antes, nós pedimos antes. Nós fomos leais e pedimos antes. Antes de levar ao presidente da República (Jair Bolsonaro), ao país, colocamos essa situação de que não gostaríamos, pelo respeito, por tudo o que estava envolvendo, por um lado sentimental", reforçou Tite.

A Seleção Brasileira não foi ouvida. "Ficamos à mercê, pediram tempo para nós, aí a situação ficou definida e ficamos expostos. Esse é o real, o que acompanhei em relação a essa situação toda. Então decidimos nos manifestar de forma conjunta, mas já que ela foi definida, temos orgulho do nosso país, de representar a Seleção, eu tenho orgulho de ser técnico da Seleção", discursou o dono do cargo desde julho de 2016.

Neste sábado, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal confirmou que 12 integrantes da delegação da Venezuela, primeira adversária do Brasil na Copa América, testaram positivo para covid-19. Tite criticou o Comitê Organizador, que passou a ser liderado pela Conmebol depois da troca de sede. "Quando um campeonato é feito de forma atabalhoada, rápida, excessivamente como a Conmebol fez, ela está sujeita a isso. E vai mudar de novo. Vai modificar de novo. Independentemente do país que fosse", reclamou Tite.

Atual campeão, o Brasil defenderá o título em casa. Busca o deca. Há temor de que as críticas pesem contra a Seleção nos bastidores do torneio, mas Tite alerta que a indignação antes da estreia não é muleta. "Colocamos que somos contrários à realização da Copa América e não vai ter desculpa agora. Não tem bengala, muleta. Vai jogar. Vamos nos cuidar da melhor maneira possível e vamos jogar com a exigência. Eu disse a eles: 'o técnico vai cobrar, vocês vão nos cobrar a nossa performance, porque é essa nossa responsabilidade, foi isso o que optamos'", detalhou o treinador.

Tite também falou sobre o desgaste político causado pelos manifestos. O treinador chegou a ser o assunto mais comentado nas redes sociais na guerra entre lulistas e bolsonaristas. "Gostaria que não tivesse esses problemas todos, não só com a Venezuela. Isso aqui não tem viés político nenhum, isso aqui tem uma crítica direta à Conmebol e a quem decidiu da CBF ser a Copa América aqui. A crítica não tem viés político e eu tenho um respeito muito grande a tudo isso e à minha história. Eu não tenho partido político nenhum ao longo da minha trajetória, não tenho, sempre votei em pessoas, não partidos, por isso me sinto em paz para falar. Politizaram essa situação, infelizmente politizaram", lamentou.

Pressionada nos bastidores pelo Flamengo, que cedeu Gabriel Barbosa e Everton Ribeiro para a Copa América, a CBF viu Tite criticar o calendário da entidade. "O calendário precisa ser ajustado. Como? Não sei. Talvez todas essas situações precisem de um ajuste maior ao longo do tempo, e talvez a premissa básica desse calendário universal possa trazer os ajustes inclusive nacionais. Toda ponderação é justa", ponderou.

Ao contrário das entrevistas anteriores, Tite saiu do muro e falou sobre a situação delicada do presidente afastado da CBF, Rogério Caboclo. Eu tenho uma opinião e vou repeti-la. "O fato é gravíssimo. Assédio não! Tenho respeito à coragem da funcionária por um assunto tão difícil de ser exposto. Eu torço para que a Justiça de todos os envolvidos venha de forma clara e justa", cobrou o treinador.