Jogos Olímpicos

Aumento de casos de covid-19 no Japão coloca em xeque segurança das Olimpíadas

Antes de começar o evento, quase 60 casos de covid-19 já foram identificados entre as pessoas que irão participar do evento; cinco delas já estavam na Vila Olímpica quando testaram positivo

Thays Martins
postado em 23/07/2021 10:06 / atualizado em 23/07/2021 10:19
 (crédito: YUKI IWAMURA)
(crédito: YUKI IWAMURA)

O aumento de casos de covid-19 no Japão e a infecção entre atletas acendeu um alerta sobre um debate que está em curso desde que o Comitê Olímpico Internacional (COI) decidiu pela manutenção das Olimpíadas em meio à pandemia: é seguro realizar os jogos? A cerimônia de abertura do maior evento esportivo mundial acontece nesta sexta-feira (23/7) com o fantasma da covid-19 assustando os atletas, a população japonesa e o mundo.

Até agora o COI informou que 110 pessoas credenciadas testaram positivo para a doença desde 2 de julho. Na ultima atualização, mais 19 casos foram contabilizados.

O aumento de casos no Japão levou a decisão de que não haverá público nos jogos. No mês passado, a organização tinha permitido uma lotação máxima de 10 mil espectadores, todos residentes no Japão, mas com a chegada da variante Delta no país, a decisão foi revista. Nesta quarta-feira (21/7), Tóquio registrou 1.832 casos de covid-19, o maior número de infecções desde a metade de janeiro.

Placa mostra orientações de segurança contra a covid-19 em Tóquio
Placa mostra orientações de segurança contra a covid-19 em Tóquio (foto: Martin BERNETTI / AFP)

A preocupação é que, ao todo, 56 mil pessoas irão ao Japão para participar do evento e depois irão retornar para seus países de origem, podendo levar variantes. Além disso, o temor da variante Delta deixa o mundo em alerta. A cepa considerada mais contagiosa fez o Japão entrar no quarto estado de emergência desde o início da pandemia. As medidas irão continuar durante todos os dias do evento.

Os japoneses também não estão muito felizes com a manutenção dos jogos. De acordo com uma pesquisa feita pelo jornal Asahi Shimbum, dois terços dos japoneses não acreditam que a organização dos jogos conseguirá manter um ambiente seguro para a realização do evento.

O baixo apoio do público, fez a Toyota, patrocinadora das Olimpíadas, desistir de veicular anúncios na televisão relacionados aos jogos. Nenhum funcionário da empresa também participará da cerimônia de abertura do evento.

Nesta terça-feira (20/7), o chefe do comitê organizador da Olimpíada de Tóquio, Toshiro Muto, chegou a dizer que não descartava um cancelamento do evento na última hora. Em entrevista coletiva, ele disse que se os casos de covid-19 aumentassem no Japão eles teriam que pensar no que fazer. “Não podemos prever o que acontecerá com o número de casos do novo coronavírus. Por isso, continuaremos as discussões se houver um aumento de casos", afirmou.

A declaração vem depois de uma fala polêmica do presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, que chegou a dizer na semana passada que o risco dos atletas contaminarem a população era “zero”.

Preocupação mundial


O alto índice de contaminação no Japão fez o Departamento de Estado dos Estados Unidos emitir um aviso de viagens de nível três para o país, a recomendação é que os viajantes evitem ir para o Japão. Segundo José David Urbaez, infectologista do Exame Imagem e Laboratório/Dasa, um evento como esse deveria ser cancelado e jamais feito nas atuais condições. "Partindo do princípio epidemiológico, um evento dessa magnitude não deveria ser feito durante uma pandemia. Só está sendo permitido por essa pressão econômica gigantesca. Não tem como garantir segurança contra um vírus respiratório", destaca. 

Ela afirma que as ações feitas para diminuir os riscos de transmissão do vírus não são 100% seguros e que o evento pode se tonar um propagador de variantes. "Mesmo não tendo público no local e com todas as medidas não há como garantir a segurança. Vão ficar todos ali aglomerados na Vila Olímpica e precisando se movimentar. E as consequências ficam para o próprio Japão, que poderá passar a ter variantes que ainda não tinham tido contato", explica. 

Um artigo publicado na revista Scientific American aponta vários erros cometidos pelo COI nas orientações para que os jogos ocorram de forma segura. Segundo os autores, o principal erro é de tratar todas as modalidades como se elas tivessem o mesmo risco de contaminação, quando deveriam estar sendo tratadas de forma diferente.

O mesmo problema foi apontado em maio, em um artigo publicado pelo The New England Journal of Medicine. Nele, especialistas em saúde pública criticaram as medidas adotadas pelo Comitê Olímpico para impedir a proliferação do vírus. Os especialistas defendiam que o cancelamento dos jogos seria a opção mais inteligente.

Para eles, os manuais de regras sanitárias divulgados pelo COI não seguem as melhores evidências científicas e apresentam várias falhas, como a não distinção entre os riscos apresentados por cada atividade. De acordo com eles, esportes praticados ao ar livre com a possibilidade de distanciamento social deveriam ser considerados de um risco baixo de transmissão, já os que ocorrem em locais fechados com muito contato entre os atletas, como boxe e luta livre, são de alto risco.

Os protocolos de segurança

Todas as medidas de segurança para os jogos foram divulgadas em um Código de Conduta. Entre as mudanças para que a edição possa ser realizada em meio à pandemia estão nos alojamentos. Os atletas serão estimulados a fazer as refeições sozinhos. Nos refeitórios, terão divisões plásticas entre as cadeiras e álcool em gel disponível. Em Tóquio, os atletas só poderão se deslocar para as competições.

Além de todas as medidas de distanciamento, todos os envolvidos no evento serão testados diariamente para a covid-19, caso testem positivo serão isolados de imediato e todas as pessoas que tiveram contato com a pessoa também serão testadas e monitorados.

Uma parceria entre o Comitê Olímpico Internacional (COI) com a Pfize garantiu doses para todas as delegações nacionais que participarão da Olimpíada. Porém, nem todos foram imunizados. No caso brasileiro, somente 75% da delegação foi completamente imunizada. 

Entenda os protocolos 

  • Orientações para evitar contaminação pela covid-19 nas Olimpíadas
    Orientações para evitar contaminação pela covid-19 nas Olimpíadas CB com dados do Playbook
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O saldo da Copa América 

A Copa América que terminou em 10 de julho deixou de saldo para o Brasil uma nova variante. Após o evento controverso, o Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo, identificou uma nova cepa por aqui, a B.1.621. A variante tinha sido primeira identifica na Colômbia e  integra uma "lista de alerta" da Organização Mundial da Saúde (OMS) por ser potencialmente mais transmissível. 

Além disso, o instituto constatou um aumento na circulação da variante Gama, primeiro identificada em Manaus e é considerada mais contagiosa. 


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