TÓQUIO 2020

Naomi Osaka: quem é atleta multirracial e antirracista que acendeu a Pira Olímpica em Tóquio

Naomi fez história ao jogar com máscaras com o nome de estadunidenses assassinados por policiais. Ela também fala sobre saúde mental e virou Barbie Role Model

Talita de Souza
postado em 23/07/2021 21:12
 (crédito: Instagram/Reprodução)
(crédito: Instagram/Reprodução)

O Japão fez história ao escolher a tenista Naomi Osaka para acender a Pira Olímpica na abertura dos Jogos Olímpicos, na manhã desta sexta-feira (23/7). Apesar das restrições sanitárias que deixaram o Estádio Olímpico de Tóquio quase todo vazio, o momento foi ímpar para reconhecer não só uma estrela do tênis, mas também uma atleta que utiliza a notoriedade e talento para combater a desigualdade social.

Ao subir a escada colocada no centro do palco do estádio, levou a representatividade negra, a luta antirracista e a esperança para centenas de jovens que, como ela, sofreram ou sofrem com depressão. Nas redes sociais, Naomi afirma que o momento foi “sem dúvida, a maior conquista e honra atlética que terei em minha vida”. “Não tenho palavras para descrever os sentimentos que tenho agora, mas sei que estou cheia de gratidão e gratidão. Amo vocês, obrigada”, escreveu.

 
 
 
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São muitas as bandeiras levantadas pela atleta, que afirma que “nunca se encaixará em apenas uma descrição, mesmo que todos tentem defini-la”. A tenista se considera uma mulher “multicultural” e “multirracial”, japonesa-haitiana-americana. Ela é filha de imigrantes, o pai é haitiano e a mãe, japonesa. Aos 3 anos, deixou o Japão e passou a morar nos Estados Unidos. “Naomi representa o mundo moderno dentro e fora das quadras”, diz o site da atleta.

Naomi se considera introvertida, no entanto, é destemida nos objetivos que tem. Deve ser por este motivo que, com apenas 20 anos, ela conseguiu vencer a ídola de infância e a 23 vezes campeã do Grand Slam, Serena Williams, no Aberto dos Estados Unidos, em 2018. Um ano depois, venceu o Aberto da Austrália, título que a levou a se tornar a primeira asiática número 1 do mundo no esporte.

Com o grande sucesso nas quadras, a estrela mostrou ao mundo, em agosto de 2020, que o esporte também pode e deve lutar por causas sociais. Ela não participou das semifinais do torneio de tênis de Cincinnati após os jogadores da NBA boicotarem a competição de basquete em protesto contra a brutalidade policial e o racismo cometido por um agente ao disparar sete vezes nas costas de Jacob Blake, um homem negro de 29 anos do estado de Wisconsin.

Na ocasião, Naomi afirmou que o momento demandava audiência para outros assuntos, além da competição. "Antes de ser uma atleta, eu sou uma mulher negra. E como uma mulher negra eu sinto que há questões muito mais importantes que precisam de atenção imediata, em vez de me ver jogando tênis", escreveu Osaka, número 10 no ranking WTA.

Ela ainda afirmou que a desistência era para “iniciar uma conversa em um esporte predominantemente branco”. Após o posicionamento, a organização do evento decidiu suspender as partidas.

Naomi Osaka usou sete máscaras diferentes durante o aberto dos Estados Unidos com nomes de vítimas de violência policial no país
Naomi Osaka usou sete máscaras diferentes durante o aberto dos Estados Unidos com nomes de vítimas de violência policial no país (foto: Naomi Osaka/Reprodução)

Logo depois, durante o US Open do mesmo ano, ela protestou, mais uma vez, ao usar sete máscaras com o nome de uma vítima de violência policial nos Estados Unidos. Jacob Blake, George Flood, Elijah McClain e Breonna Taylor foram alguns dos nomes.

Naomi foi a primeira atleta de tênis a falar de saúde mental

Em 31 de maio deste ano, Naomi fez história mais uma vez. Sincera e transparente, a atleta de 23 anos se tornou um símbolo de jovens ao redor do mundo que sofrem com depressão e ansiedade.

Após a partida de estreia do torneio Roland Garros, da qual foi a vencedora, ela foi criticada por deixar a quadra sem falar com jornalistas e sem participar da coletiva de imprensa. No momento, ela afirmou que não participou para evitar estresse. O público a acusou de estrelismo, já que os atletas são obrigados a participarem do momento com a imprensa após as partidas.

Em uma carta aberta postada nas redes sociais, ela abriu o jogo e falou que a atitude foi para preservar a saúde mental, que estava abalada nos últimos anos.

"A verdade é que tenho sofrido longas crises de depressão desde o US Open em 2018 e tenho tido muita dificuldade em lidar com isso. Embora a imprensa do tênis sempre tenha sido gentil comigo (...) tenho grandes ondas de ansiedade antes de falar para a mídia internacional." Ela também afirmou que já se sentia ansiosa e vulnerável em Paris e, por isso, foi um ato de “autocuidado” não participar das conferências.

Naomi Osaka levou a representatividade negra, a superação e a importância da igualdade social ao topo ao subir até a Pira Olímpica em Tóquio 2020
Naomi Osaka levou a representatividade negra, a superação e a importância da igualdade social ao topo ao subir até a Pira Olímpica em Tóquio 2020 (foto: Instagram/Reprodução)

O post reúne mais de 400 mil curtidas no Twitter e mais de 60 mil respostas, a maioria de apoio e de pessoas que se identificaram com ela, essas, agradeceram pela “vulnerabilidade”, “coragem e força” de Naomi para “se abrir e falar dos limites” dela.

A história e os dilemas da atleta podem ser conhecidos no documentário Naomi Osaka, jogando pelas próprias regras dela, na Netflix.

Tenista é homenageada pela Mattel e Barbie que a representa esgota

A Mattel, criadora de uma das bonecas mais famosas do mundo, decidiu homenagear a trajetória de Naomi ao incluí-la na coleção Barbie Role Models, que também inclui nomes como a artista mexicana Frida Kahlo. De acordo com a empresa, a atleta é “uma força dentro e fora da quadra” e “está usando sua plataforma para falar sobre questões que envolvem os direitos humanos e a injustiça racial”.

“Um modelo para todas as meninas, em todos os lugares. Elas precisam de mais modelos como Naomi, porque imaginar que podem ser qualquer coisa é apenas o começo. Na verdade, ver que podem ser é o que faz toda a diferença”, pontua a Mattel.

O designer da boneca, Carlyle Nuera, fez coro à opinião da empresa e disse que apesar da “habilidade atlética de Naomi ser incomparável”, ele a admira “como ela usa a notoriedade, os holofotes sobre ela e sua voz para aumentar a conscientização sobre justiça social”.

A boneca usa um vestido branco da Nike com estampa pincelada, inspirada em um look que ela usou em uma partida de 2020, no Aberto da Austrália. Com uma viseira branca, tênis azul claro e uma réplica da raquete de tênis que ela usa, a Barbie lançada na segunda-feira (19/7) já está esgotada.

 

Naomi Osaka ganhou Barbie em coleção de homenagens a modelos a serem seguidos. A boneca esgotou em três dias
Naomi Osaka ganhou Barbie em coleção de homenagens a modelos a serem seguidos. A boneca esgotou em três dias (foto: Mattel/Reprodução)

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  • Naomi Osaka usou sete máscaras diferentes durante o aberto dos Estados Unidos com nomes de vítimas de violência policial no país
    Naomi Osaka usou sete máscaras diferentes durante o aberto dos Estados Unidos com nomes de vítimas de violência policial no país Foto: Naomi Osaka/Reprodução
  • Naomi Osaka ganhou Barbie em coleção de homenagens a modelos a serem seguidos. A boneca esgotou em três dias
    Naomi Osaka ganhou Barbie em coleção de homenagens a modelos a serem seguidos. A boneca esgotou em três dias Foto: Mattel/Reprodução
  • Naomi Osaka, a atleta antirracista e ativista que acendeu a Pira Olímpica em Tóquio 2020
    Naomi Osaka, a atleta antirracista e ativista que acendeu a Pira Olímpica em Tóquio 2020 Foto: Instagram/Reprodução
  • Naomi Osaka levou a representatividade negra, a superação e a importância da igualdade social ao topo ao subir até a Pira Olímpica em Tóquio 2020
    Naomi Osaka levou a representatividade negra, a superação e a importância da igualdade social ao topo ao subir até a Pira Olímpica em Tóquio 2020 Foto: Instagram/Reprodução
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