TOKYO 2020

Antes de brilhar em Tóquio, Fadinha Rayssa precisou de ajuda de equipe do DF

A aventura é contada pelo professor Welton Martins, que hospedou, por dois dias, a primeira vice-campeã olímpica do skate da história

Júlia Mano*
postado em 29/07/2021 06:00
Maria Eduarda, Laura e Lígia: apesar das dificuldades, skatistas de Brasília mostram dedicação e projetam evolução da modalidade no país -  (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
Maria Eduarda, Laura e Lígia: apesar das dificuldades, skatistas de Brasília mostram dedicação e projetam evolução da modalidade no país - (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

Quem imaginaria que, na madrugada da última segunda-feira, o Brasil estaria de frente para a televisão vibrando a cada manobra concluída com sucesso por uma skatista de apenas 13 anos? A maranhense Rayssa Leal ficou com a medalha de prata nas Olimpíadas de Tóquio-2020. A conquista da menina foi resultado de muito empenho dela e dos pais. Há dois anos, a Fadinha estava de carona em um ônibus rumo ao Distrito Federal para retornar ao estado natal, depois de participar do Campeonato Brasileiro Mirim de 2015, em Blumenau (SC). A aventura é contada pelo professor Welton Martins, que hospedou, por dois dias, a primeira vice-campeã olímpica do skate da história.

Empenhados em apoiar Rayssa, os pais da menina pagaram a passagem de ida ao Sul do Brasil. Para voltar ao Maranhão, no entanto, tiveram de embarcar com o grupo do Distrito Federal ao Planalto Central. Depois, retornaram para Imperatriz (MA) com apoio dos atletas candangos, que organizaram uma vaquinha para bancar as despesas. “Eles acreditaram no sonho dela desde o começo, tanto a mãe quanto o pai, e deram todo apoio que, às vezes, falta para muitos skatistas”, destaca Welton Martins.

No campeonato em Blumenau, a delegação do DF, Rayssa e os pais ficaram no mesmo alojamento. Assim, a aproximação foi inevitável. Chegaram a fazer uma festinha antes do início da competição. Ao fim do campeonato, Welton e a avó de uma das atletas brasilienses convidaram Rayssa e os pais para embarcarem no ônibus cedido pelo Governo do Distrito Federal (GDF), por meio do programa Compete Brasília. A vaga foi preenchida e, por dois dias na estrada, puderam ver o mesmo sorriso e descontração que esteve presente na pista do Ariake Urban Sports Park, em Tóquio-2020.

Durante a passagem rápida pela capital do país, Rayssa deixou marcas nas pistas da Candangolândia, do Núcleo Bandeirante e do Núcleo Escola de Skate, onde Welton dava aulas na época. “A galera ainda não consegue entender que o skate vai além de um esporte. Apesar de sermos adversários na pista, mesmo assim, a gente não deixa de torcer pelo colega para acertar as manobras. Eu vi isso na Rayssa e em outras crianças daqui de Brasília”, comenta o treinador

Avanço feminino

Mesmo com as dificuldades de se praticar a modalidade em espaços públicos, a presença feminina no skate se mostra cada vez mais presente no DF. Lígia Almeida, 22 anos, Laura Carneiro, 14, e Maria Eduarda Fajardo, 12, são exemplos disso. Elas integram o grupo de skatistas AC Girls, que treina no AC Bowl, localizado na praça da quadra 107 de Águas Claras.

Lígia começou a se interessar pelo esporte há quatro anos, mas só passou a subir no skate com mais regularidade em 2019. Agora, dedica cinco horas da semana ao esporte. Para ela, a modalidade vai além de competições ou profissão: é a forma que encontrou de se compreender melhor e superar os medos. “Qualquer coisa que vier para mim em relação ao skate, vou abraçar. Quero experimentar e vivenciar tudo que for possível”, diz.

Meses dentro de casa devido à pandemia de covid-19, uma pista no meio de uma praça em Águas Claras e a vontade de praticar um esporte fizeram com que Laura voltasse a subir no skate em meados de 2020. O interesse pela modalidade surgiu bem antes, quando assistiu, aos seis anos, a um desenho que tinha uma skatista como personagem principal.

Com o desejo de ingressar no meio, Laura ganhou o primeiro skate. O pai passou a levá-la a uma pista perto de casa. Contudo, ela parou pouco tempo depois, porque não tinha ninguém para ensiná-la. Agora, é uma das atletas instruídas por Welton Martins, assim como Lígia e Maria Eduarda. A adolescente alimenta a esperança de participar das próximas Olimpíadas e pretende treinar bastante para estar em Paris-2024. “Treino cinco vezes por semana e, quando tenho tempo livre, dedico ao skate”, conta.

Caçula do grupo, Maria Eduarda começou a praticar a modalidade aos três anos. O pai da menina é skatista. Então, desde que nasceu, estava em contato com o esporte, envolta por uma coleção de pranchas em casa. Ela dedica cerca de sete horas semanais ao skate. “Sonho construir uma profissão na modalidade, mas pretendo conciliar com uma graduação, para o caso de o esporte não render retorno”, planeja.

As jovens perceberam o crescimento da modalidade no DF no último ano. Lígia ressaltou o aumento de mulheres que passaram a frequentar a pista Sukata, que fica ao lado do Terraço Shopping, na Octogonal. Contudo, as atletas apontam a falta inclusão em alguns campeonatos locais, que não têm a categoria feminina, além de investimentos na manutenção das 18 pistas públicas do DF, dificultando o aprendizado e o desenvolvimento pessoal.

“As meninas estão tomando a cena em Brasília, sendo respeitadas dentro da pista. Está começando a ter evento voltado para elas. Infelizmente, antes, havia campeonato, mas não as incluíam”, diz Welton Martins. O treinador estima que tem por volta de 30 alunos e mais da metade são mulheres.

* Estagiária sob supervisão de Fernando Brito

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Festa para a campeã

 (crédito: Reprodução/Instagram)
crédito: Reprodução/Instagram

Rayssa Leal desembarcou, ontem, em Iperatriz, no Maranhão, e foi celebrada pelas ruas da cidade. Para evitar aglomerações, devido à pandemia de covid-19, a Fadinha do Skate desfilou em carro aberto, acenou para os fãs e agradeceu pela torcida recebida.

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