TOKYO 2020

Triunfo no templo sagrado

No mítico Nippon Budokan, Mayra Aguiar ganha medalha de bronze, celebra superação e bate recorde nacional

João Vítor Marques
postado em 29/07/2021 23:21
 (crédito: Jack Guez/AFP)
(crédito: Jack Guez/AFP)

Tóquio — O som dos grilos e o verde das árvores centenárias contrastam com o cenário urbano a poucos passos dali. Andar pelo Parque Kitanomaru é como sentir a essência de uma Tóquio de décadas atrás, que resiste em meio à tecnológica megalópole que se esparrama do centro à periferia e simboliza o processo de gentrificação das grandes cidades globais. Neste ambiente bucólico, um pouco místico, fica o Nippon Budokan. O templo sagrado do judô japonês marca a soberania dos donos da casa na modalidade, mas também viu brasileiros brilharem nos Jogos Olímpicos. Foi assim com Mayra Aguiar.

A gaúcha de 29 anos viveu um ciclo olímpico desafiador até conquistar a histórica medalha de bronze, na madrugada de ontem (tarde no Japão), na categoria até 78kg. Em novembro, Mayra se viu obrigada a fazer uma cirurgia no ligamento cruzado anterior no joelho esquerdo. A gravidade da lesão quase a tirou dos Jogos de Tóquio.

Pensar nisso logo a emocionou. “Nunca chorei tanto. Estava chorando igual criança. É que está muito entalado. Tudo o que eu vivi, foi muito tempo de superação, uma atrás da outra. Concretizar com uma medalha é muito importante para mim. É a maior conquista que tive em toda a minha carreira. Por tudo o que aconteceu, tudo o que vivi, estar com isso concretizado é muito gostoso, está sendo muito bom”, comentou.

E não havia lugar melhor para a brasileira coroar a volta por cima na carreira. Feito para os Jogos de Tóquio de 1964, o Budokan é, mais do que tudo, um lar espiritual. Do lado de fora, o projeto arquitetônico faz lembrar construções do Japão antigo. O espaço está localizado nas proximidades do Palácio do Imperador e do Santuário Yasukuni, centenário templo xintoísta.

O primeiro passo ao adentrar a arena é suficiente para ver um enorme painel com explicações sobre o Budô (em japonês, o “caminho marcial”). O Budokan recebeu, ao longo das últimas décadas, eventos de judô e karatê. “O Budô tem origem no tradicional espírito marcial do judô. Ao longo dos séculos, as formas culturais se transformaram de lutas (Bujutso) a modos de evolução pessoal (budô)”, lê-se numa das placas do local.

São mais de 11 mil lugares disponíveis nas arquibancadas. Quase todos estiveram vazios ao longo do dia de competições. Quase. Quando chegou a hora das finais, o número de jornalistas presentes se multiplicou — os japoneses eram maioria. Do outro lado das tribunas, atletas que não competiram vibravam pelos amigos e companheiros de delegação. O esporte é tão amado no Japão que há momentos em que voluntários, trabalhadores e até policiais deixam o trabalho para acompanhar as lutas decisivas.

E a trajetória de Mayra rumo ao pódio foi digna do local onde atuou. A brasileira avançou bem na primeira luta, contra a israelense Inbar Lanir. Depois, foi eliminada no golden score pela alemã Anna-Maria Ger Wagner — que também conquistaria o bronze. A repescagem foi diante da russa Aleksandra Babintseva. Depois, na decisão do bronze, Mayra se impôs com um ippon por imobilização sobre a sul-coreana Hyunji Yoon.

Mayra se torna a primeira brasileira com três medalhas olímpicas em esporte individual. Antes, conquistou o terceiro lugar nos Jogos de Londres, em 2012, e no Rio de Janeiro, em 2016. O judô do país tem 24 conquistas.

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Modalidade tradicional de volta para casa

 (crédito: João Vítor Marques/CB/D.A Press)
crédito: João Vítor Marques/CB/D.A Press

Historicamente, japoneses já dominam as premiações na modalidade durante os Jogos Olímpicos. Para esta edição, a expectativa e a pressão foram maiores sobre os donos da casa. E, até agora, as coisas estão saindo como o planejado. Em 12 categorias disputadas (seis masculinas e seis femininas), o país-sede levou 10 medalhas (oito de ouro, uma de prata e uma de bronze).

As capas dos principais jornais japoneses estampam, quase diariamente, fotos dos campeões. Entre as medalhas de ouro conquistadas, chama a atenção as que os irmãos Abe alcançaram em um mesmo dia. Primeiro, Uta subiu ao lugar mais alto do pódio, entre as mulheres, na categoria até 52kg. Minutos depois, foi a vez de Hifumi brilhar no grupo de atletas com no máximo 66kg.

“Tivemos muita determinação, essa é a razão. Este era o nosso sonho desde a infância”, disse Uta, após a final. “Sim, eu vi a luta da minha irmã. Tinha certeza de que ela ganharia e que daria forças para a minha vitória. Fiquei mais determinado para vencer, não me senti pressionado, entrei com mais espírito combativo”, reforçou Hifumi.

A expectativa é que o número de pódios do Japão cresça nos dois últimos dias de disputa da modalidade, que se encerram amanhã. O judô está, enfim, de volta para casa. (JVM)

Brasil tenta superar a retranca egípcia

 (crédito: Yoshikazu Tsuno/AFP)
crédito: Yoshikazu Tsuno/AFP

Na primeira fase do futebol nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, a Seleção Brasileira cumpriu bem o papel de favorita e manteve uma escrita de 45 anos no torneio ao se classificar para o mata-mata. Na reta inicial da campanha de defesa do ouro, porém, o time verde-amarelo enfrentou dificuldades, principalmente diante de rivais acuados. Amanhã, nas quartas de final, a equipe deve ter um desafio semelhante diante do Egito, às 7h, no Estádio de Saitama, no Japão. A partida terá transmissão da Globo e do SporTV.

Querendo deixar o nome na lista de traumas africanos do Brasil em Olimpíadas, o Egito deve recorrer à forma de atuação mais incômoda para o time do técnico André Jardine e se fechar na defesa. Adepto de uma ideia de jogo cautelosa, os egípcios foram vazados apenas uma vez no torneio olímpico, pela eliminada Argentina. Por outro lado, pouco produziu ofensivamente e só marcou dois gols na fase de grupos. Diante das posturas retraídas de Costa do Marfim e Arábia Saudita, a Seleção Brasileira passou mais aperto do que o esperado.

O adversário por um lugar na semifinal dos Jogos Olímpicos também trouxe problemas recentes ao Brasil. Em amistoso contra o rival de amanhã, em novembro do ano passado, a Seleção Brasileira foi surpreendida e derrotada por 2 x 1. Ciente da provável postura do Egito, o atacante Richarlison ligou o alerta. “As equipes vêm jogando contra o Brasil por uma bola. Vimos a dificuldade de penetrar na defesa adversária”, advertiu o artilheiro do torneio, com cinco gols marcados em três partidas.

“Então, é estar focado nesses últimos três jogos, porque é agora que vale tudo mesmo. É mata-mata e sabemos que, se errarmos, estamos fora. Vamos consertar tudo no treinamento. Precisamos melhorar e entrar 100%”, projetou. Ontem, porém, a Seleção Brasileira optou pelo descanso. Para preservar os jogadores da maratona de jogos em sequência, a comissão técnica cancelou o treino previsto para o JFA Yume Field. O time retoma os trabalhos hoje, quando André Jardine definirá a equipe titular.

De folga, o time canarinho aproveitou o dia para conhecer a Vila dos Atletas em Tóquio. Durante a participação nos Jogos Olímpicos, a delegação está hospedada em um hotel fora do espaço. O time defende o bicampeonato da competição após o ouro conquistado no Rio-2016.

Curtas

Laura e Luisa tentam o bronze

Laura Pigossi e Luisa Stefani perderam para as suíças Belinda Bencic e Viktorija Golubic, ontem, em duelo válido pela semifinal do torneio de duplas femininas de tênis dos Jogos Olímpicos de Tóquio, por 2 sets a 0, com parciais de 7/5 e 6/3, em 1h35. As brasileiras voltam à quadra, amanhã, para enfrentar as russas Veronika Kudermetova e Elena Vesnina, que perderam para as checas Barbora Krejcikova e Katerina Siniakova, por 2 sets a 1, com parciais de 6/3, 3/6 e 10/6.


Fernanda e Ana vencem regata

O Brasil obteve bons resultados na vela nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Ontem, o destaque nas disputas realizadas na Baía de Enoshima foi a vitória de Fernanda Oliveira e Ana Luiza Barbachan na terceira regata na categoria 470 feminino. Na quinta colocação geral, as duas continuam vivas na briga por medalha. O veterano Robert Scheidt, na categoria laser, caiu para o quarto lugar na classificação. Ainda tem mais duas disputas antes da final, que vale medalha.


Hebert nas quartas de final

O baiano Hebert Conceição, 23 anos, estreou com vitória no torneio de boxe dos Jogos Olímpicos de Tóquio, ontem, ao vencer o chinês Erbieke Tuoheta, por pontos, em decisão dividida dos jurados, por 3 a 2. Medalha de bronze no Mundial de 2019 e prata no Pan-Americano de Lima no mesmo ano, Hebert volta a lutar pelas quartas de final no domingo, diante de Abilkhan Amankul, do Casaquistão.


Brasil perde no feminino

A Seleção Brasileira feminina de handebol conheceu o primeiro revés nos Jogos Olímpicos em Tóquio. O Brasil fez um bom jogo, mas caiu diante da Espanha e foi derrotado por 27 x 23, muito graças à atuação espetacular da experiente goleira Navarro, grande destaque da partida. Apesar do resultado negativo, o time brasileiro soma três pontos no Grupo B e segue na zona de classificação para as quartas de final. O próximo adversário será a Suécia, amanhã, às 4h15 (de Brasília).

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