TOKYO 2020

Estrelas enfrentam o inferno

Simone Biles sofre crise depressiva e vê Rússia bater EUA. Diva local, Naomi Osaka cita pressão mental

A participação de Simone Biles no restante dos Jogos Olímpicos de Tóquio se transformou em incerteza, ontem, depois que ela foi retirada de maneira inesperada da final por equipes da ginástica artística. “Assim que eu piso no tatame, sou só eu e a minha cabeça, lidando com demônios. Tenho de fazer o que é certo para mim e me concentrar na minha saúde mental e não prejudicar minha saúde e meu bem-estar”, explicou a norte-americana, depois que a equipe foi derrotada pelo quarteto russo na ausência dela.

A superestrela da ginástica norte-americana saiu da final por equipes após um resultado no salto que ficou abaixo do padrão habitual (nota 13.766). Ela deixou a área de competição por alguns minutos, antes de retornar para ficar ao lado das companheiras de time. A equipe dos Estados Unidos a substituiu nos três aparelhos seguintes: barras assimétricas, trave e solo.

Depois que ela se juntou às companheiras para receber a medalha de prata, a tetracampeã olímpica confirmou que não havia se machucado. “Só não confio tanto em mim mesma como antes e não sei se é a idade. Fico um pouco mais nervosa”, desabafou. “Sinto que também não estou me divertindo tanto e sei que esses Jogos Olímpicos... Eu queria que fossem para mim”, disse, começando a chorar. “É uma droga que isso aconteça aqui nos Jogos Olímpicos. Mas com o ano que tem sido, eu realmente não estou surpresa com a forma como aconteceu”, completou.

A Federação Internacional de Ginástica (FIG) confirmou posteriormente que ela seria suplente para o resto da competição por equipes, que foi vencida pelas russas, que competem sob bandeira neutra devido às sanções que pesam sobre o país pelos escândalos de doping do passado. As americanas ficaram com a prata e a Grã-Bretanha com o bronze.

Vencedora de quatro medalhas de ouro nos Jogos Rio-2016, a norte-americana conseguiu se classificar para as seis finais de Tóquio-2020, mas o desempenho nas classificatórias, no domingo passado, foi repleto de erros atípicos. Em um post no Instagram, na segunda-feira, a atleta de 24 anos afirmou que, às vezes, sente “o peso do mundo” sobre os ombros.

Se Biles não puder continuar em Tóquio, seria um golpe para um evento em que ela é, para muitos, a grande estrela. A atleta era cotada como a primeira mulher em mais de meio século a ganhar todos os títulos da ginástica e parecia ter uma chance real de superar a ginasta soviética Larisa Latynina, que conquistou nove ouros em Jogos Olímpicos.

Antes das Olimpíadas, Biles revelou que lutou contra a depressão ao apontar que é uma das centenas de ginastas que sofreram abusos sexuais do ex-médico da equipe olímpica Larry Nassar, condenado à prisão perpétua por esses crimes.

Em uma série de posts no Facebook, Biles também revelou que sofreu de problemas no tornozelo este ano, após um exercício de treinamento em maio. A norte-americana tem seis medalhas olímpicas e 25 em Mundiais. Ela não perde uma competição individual geral desde 2013.

Chama apagada

As Olimpíadas de Tóquio-2020 receberam um duro ontem. Naomi Osaka, a grande estrela do esporte japonês, escolhida para acender a pira olímpica na cerimônia de abertura dos Jogos, foi eliminada do torneio de tênis. Número dois do mundo, sucumbiu à pressão em casa e caiu nas oitavas de final, depois de perder para a tcheca Marketa Vondrousova por 6/1 e 6/4.

Osaka aspirava a dar ao Japão o primeiro ouro no tênis, mas, em Tóquio, voltava às quadras depois de mais de dois meses de ausência. Ela havia se retirado de Roland Garros por problemas de saúde mental. Após a partida, Osaka reconheceu que havia “muita pressão” sobre ela nestes Jogos, como uma das principais atletas do país-sede, mas tentou ver um lado positivo. “Estou satisfeita, levando em consideração que não competia há muito tempo. Ao longo da minha carreira, fiz longas pausas e sempre consegui voltar bem”, comentou.

Brasil tem jogo duro contra os russos na terceira rodada

MARIA EDUARDA CARDIM

As Seleções Brasileiras de vôlei parecem testar o coração da torcida no início dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Depois de o time masculino vencer a Argentina, no tie-break, na segunda-feira, a equipe feminina, comandada por José Roberto Guimarães, também passou sufoco, ontem, para garantir a vitória sobre a República Dominicana, no tempo extra. Hoje, às 9h45, os homens voltam à quadra para enfrentar a Rússia, pelo Grupo B. A disputa não deve ser fácil.

Os dois times buscam seguir invictos na fase classificatória. Os russos derrotaram os norte-americanos e os argentinos nos últimos dois jogos, com vitórias consistentes por 3 sets a 1. O Brasil vem de sofrido triunfo contra a Argentina, de virada, por 3 sets a 2. Antes, venceu a Tunísia, sem dificuldades, por 3 sets a 0. O resultado sobre os hermanos mexeu com o time e pode ser usado como combustível diante dos russos.

“Temos o que é fundamental em vitórias como essa, o que me deixa muito orgulhoso. São 12 jogadores que atuam juntos. Todos deram contribuição nos momentos de dificuldade. Mais uma vez, mostramos que temos um grupo muito bom. Isso é uma demonstração de força da Seleção Brasileira. Nossa equipe fez a diferença”, destacou o levantador e capitão Bruninho. Será a terceira partida pela chave B, considerada o grupo da morte, pois reúne Brasil, Estados Unidos, França, Rússia, Argentina e Tunísia.

Do lado feminino, o grupamento parece menos complicado, mas isso não é sinônimo de vida fácil. Ontem, as mulheres passaram sufoco no segundo jogo, contra a República Dominicana. Mas, apesar de terem sofrido, as brasileiras conquistar a segunda vitória nas Olimpíadas, por 3 sets a 2 (22/25, 25/17, 25/13, 23/25 e 15/12).

Intercalando momentos de equilíbrio com outros de queda do ritmo e do rendimento, o Brasil fechou o jogo no tempo extra. Os destaques foram a ponteira Fernanda Garay, que terminou como a maior pontuadora do confronto, com 26 acertos, e a ponteira Gabi, com 20 pontos. A vitória foi ainda mais especial para a central Carol Gattaz, que completou 40 anos, comemorados na primeira Olimpíada da carreira.

Com o triunfo no tie-break, o Brasil conquistou mais dois pontos e atingiu cinco no total. Ocupa o segundo lugar do Grupo A, atrás da Sérvia, que ganhou o segundo jogo da rodada contra as anfitriãs dos Jogos. Em terceiro, aparecem Japão e Coreia do Sul, com três pontos. Em seguida, vêm República Dominicana, com um ponto, e Quênia, ainda sem pontos. No próximo jogo, a Seleção Brasileira enfrentará as japonesas, amanhã, às 7h40 (horário de Brasília).

Paradinhas

Classificada às quartas de final

Uma vitória difícil, com direito a uma substituição a mais e 14 minutos de acréscimo no primeiro tempo. Nem todos os obstáculos conseguiram tirar o brilho da Seleção Brasileira feminina de futebol ao vencer a Zâmbia por 1 x 0, ontem, e avançar para as quartas de final nas Olimpíadas de Tóquio-2020. “Foi um jogo bem truncado e, infelizmente, saímos com algumas jogadoras machucadas”, comentou a zagueira Rafaelle, que assumiu a braçadeira de capitã com as saídas de Formiga e Marta. O próximo confronto, contra o Canadá, acontecerá na sexta-feira, às 5h (de Brasília), no Miyagi Stadium, na cidade de Miyagi.

Hugo Calderano faz história

Mais um feito histórico aconteceu na Olimpíada de Tóquio-2020 para o esporte brasileiro. Hugo Calderano venceu uma batalha, ontem, contra o sul-coreano Jang Woojin por 4 sets a 3 — com parciais de 11/7, 9/11, 6/11, 11/9, 4/11, 11/5 e 11/6 –, avançando às quartas de final e se tornando o melhor do tênis de mesa do Brasil em uma edição de Jogos Olímpicos. O mesa-tenista carioca, atual sexto colocado do mundo, enfrentará o alemão Dimitrij Ovtcharov, 12º no ranking mundial, que venceu o japonês Koki Niwa. A partida está marcada para hoje, às 9h (de Brasília). “Todo mundo do Brasil veio me abraçar, senti a emoção de todos, eu até estou ficando emocionado. O último ano não foi fácil, não tive os melhores resultados, mas continuei muito confiante que eu conseguiria voltar a jogar no meu melhor nível. Agora, vou descansar, comemorar um pouco e me concentrar para mais uma batalha”, disse Canderano.

A uma vitória da medalha

Em duelo muito equilibrado, Abner Teixeira venceu o britânico Cheavon Clarke, ontem, e passou para as quartas de final na categoria peso-pesado (até 91kg) no boxe dos Jogos Olímpicos. O brasileiro venceu por 4 x 1, em decisão dos jurados: 29 x 28 (três vezes), 30 x 27 e 27 x 30. Com o resultado, Abner volta ao ringue na sexta-feira, às 7h39, para enfrentar Hussein Eishaish, da Jordânia. Se vencer, o medalhista de bronze nos Jogos Pan-americanos de Lima-2019 garantirá pelo menos um lugar no pódio, pois, no boxe, não existe a disputa do terceiro lugar. O lutador que perde na semifinal, automaticamente, fica com o bronze.