Cobrir os Jogos Olímpicos de Tóquio in loco é um misto de sentimentos: felicidade por realizar um sonho e medo de vê-lo se tornar um pesadelo. Curiosamente, estava com as mãos úmidas de álcool 70% quando li a notícia de que um atleta, que esteve no mesmo espaço que eu, havia testado positivo para covid-19. Era o tenista holandês Jean-Julien Rojer, ex-duplista do mineiro Marcelo Melo.
Nós nos sentávamos nas arquibancadas quase vazias da quadra 10 do Ariake Tênis Park quando Marcelo Melo e Marcelo Demoliner foram eliminados, ainda nos primeiros dias da Olimpíada.
Se eu fosse contaminado, acabaria ali - com menos de uma semana de competições - a cobertura do evento para o qual todo jornalista esportivo se prepara a vida toda. Além, é óbvio, do temor pela própria saúde e pela possibilidade de transmitir a doença, reduzidas por conta da vacina.
Dos mais de 90 mil credenciados para a Olimpíada, apenas 160 haviam sido diagnosticados com o coronavírus naquele momento. Nesse sábado, o número de casos confirmados de COVID-19 subiu para 264. Destes, 27 são atletas. O Comitê Olímpico Internacional (COI) registrou quatro episódios de sanções, oito suspensões e algumas advertências por infração às regras do protocolo. As credenciais de seis pessoas foram retiradas.
O desespero que instantaneamente tomou conta de mim deu lugar à negação: nós estávamos longe um do outro, num espaço aberto e bem ventilado, eu usava a máscara mais segura disponível no mercado brasileiro de EPI's. Não era possível ter tido contato com o vírus.
Cientificamente, era possível, sim, eu ter me contaminado - embora improvável. Por sorte, eu já teria de fazer um teste de COVID-19 no dia seguinte, previsto pela organização. Nós temos a saliva analisada nos quatro primeiros dias no Japão e, depois disso, são realizados exames a cada 96 horas.
O resultado provou o que, racionalmente, já imaginava: eu não havia sido contaminado. Outro bom sinal foi que o sistema de GPS obrigatório para quem está no Japão, que mapeia as pessoas que tiveram contato com contaminados, não havia feito nenhum alerta.
Comecei, então, a rascunhar esta coluna para publicá-la horas depois. Mas preferi esperar. E se o vírus ainda não tivesse se manifestado? Aguardei o exame seguinte - também atestando a ausência da doença - para, enfim, concluí-la e publicá-la agora. Alívio. E o sonho continua.
*João Vítor é o enviado especial dos Diários Associados a Tóquio
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