TOKYO 2020

O mar tá pra ouro

Depois do surfe e da vela, Brasil conquista mais uma medalha na água. Ana Marcela Cunha supera tristeza da Rio-2016 e realiza o sonho dourado no Japão. Baiana conta que se inspirou em Fernando Sheffer e Bruno Fratus para brilhar

Maíra Nunes
postado em 04/08/2021 00:30
 (crédito: Oli Scarff/AFP)
(crédito: Oli Scarff/AFP)

“Finalmente medalhista olímpico”. A frase foi pronunciada por Bruno Fratus ao fim dos 50m na natação dos Jogos Olímpicos de Tóquio, mas valeria perfeitamente para outra referência da natação brasileira: Ana Marcela Cunha. Dona do prêmio de maior nadadora de águas abertas do mundo por seis vezes, a baiana de Salvador chegou na capital japonesa com 33 medalhas de ouro, 16 de prata e 17 de bronze em etapas internacionais. Porém ainda faltava uma. Depois de a favorita ficar sem medalha nos Jogos do Rio-2016, ela, enfim, pode gritar que é campeã olímpica. Ana Marcela ganhou o ouro nos 10km da maratona aquática, ontem, na Marina de Odaiba.

“Todas as medalhas olímpicas conquistadas pelo Brasil me inspiraram muito, principalmente as do Fernando Scheffer e do Bruno Fratus por serem da natação”, comentou Ana Marcela ao fim da prova. Bruno Fratus correspondeu com os parabéns publicados nas redes sociais. Assim como o amigo da piscina, a baiana precisou persistir até subir ao pódio olímpico. Ana Marcela participou pela primeira vez dos Jogos Olímpicos em Pequim-2008, aos 16 anos. Naquela edição, terminou na quinta colocação nos 10km da maratona aquática.

No ciclo seguinte, Ana Marcela era campeã mundial em uma prova não olímpica, a dos 25km, em Xangai, na China, mas não se classificou para os Jogos de Londres-2012. A redenção poderia vir numa Olimpíada em solo brasileiro. Na Rio-2016, ela chegou como favorita ao pódio, mas enfrentou problemas na hidratação durante a prova e terminou apenas em 10º lugar. A espera da nadadora foi ainda maior devido ao adiamento dos Jogos de Tóquio. Mas o destino lhe reservava o melhor lugar do pódio quando ele chegasse, aos 29 anos.

“Finalmente”, desabafou Ana Marcela, após ter sido a primeira nadadora a bater a mão na linha de chegada na capital japonesa. “Por mais nova que tenha ido em Pequim-2008, foi a minha primeira Olimpíada. Estou no meu quarto ciclo olímpico. Eu vim de uma não classificação em 2012, de uma frustração no Rio, em 2016, e de um amadurecimento muito grande. O que posso dizer é para que acredite no seu sonho”, afirmou, emocionada. “Eu queria muito ganhar uma medalha olímpica, mas tem um gostinho especial por ter sido campeã olímpica”.

Ana Marcela Cunha largou entre as 25 competidoras buscando o pelotão da frente. A partir dos primeiros 20 minutos, com cerca de 5km nadados, Ashley Twichell, atleta de 32 anos dos Estados Unidos, assumiu a ponta, puxando o ritmo de Ana Marcela Cunha no início da competição, e se manteve na segunda colocação. As duas estavam acompanhadas de perto por Anastasiya Kirpichnikova, do Comitê Olímpico Russo (ROC). Ao fim da primeira volta (1,4 km), com 18m15s60, a brasileira optou por não se hidratar na primeira oportunidade e assumiu a liderança. Mas ditar o ritmo da prova não é característica de Ana Marcela.

Prova acirrada

Na segunda volta, a americana Twichell ultrapassou a brasileira, que viu a alemã Leonie Beck se aproximando em terceiro. As três brigaram na ponta na maior parte da prova. Próximo dos 8km, a brasileira sofreu o ataque da holandesa Sharon van Rouwendaal, atual campeã olímpica da prova, caindo para a quarta posição. Mas a emoção ficou guardada para os últimos 1,5km. Na reta final, todas as nadadoras aceleraram muito, provocando novo alinhamento. Ana Marcela colocou um corpo de vantagem no último 1km e manteve-se na liderança até se consagrar como a primeira campeã olímpica do Brasil na maratona aquática.

“Eu sabia o quanto eu estava preparada. Eu fiz a minha prova e aprendi a ser feliz. Estava sendo muito feliz fazendo o que amo”, comentou Ana Marcela sobre a prova, já como campeã olímpica.


Rio-2016
Essa foi a quarta participação da maratona aquática dos 10 km nos Jogos Olímpicos. Na Rio-2016, a brasileira Poliana Okimoto faturou o bronze na praia de Copacabana. A comemoração acabou acontecendo de forma inusitada, porque Poliana terminou a prova em quarto lugar, mas acabou pegando o pódio após a desclassificação da francesa Aurielle Muller. A brasileira soube da notícia ainda nas areias, minutos após o término da prova.

 

1h59m31s7
Tempo da prova de Ana Marcela Cunha. A prata ficou com a holandesa Sharon Van Rouwendaal (1h59min31s7), que foi campeã olímpica na Rio-2016, e a australiana Kareena Lee completou o pódio, com o bronze (1h59min32s5).

 

 

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