TOKYO 2020

Fé nos punhos de Bia

Com três pódios nos Jogos , Brasil tem a melhor Olimpíada no boxe. Beatriz Ferreira é a maior esperança de ouro na modalidade e terá combate sonhado por ela contra a adversária irlandesa Anne Kellie Harrington

João Vítor Marques
postado em 05/08/2021 23:02
 (crédito: Luis Robayo/AFP)
(crédito: Luis Robayo/AFP)

Tóquio — A centenária história do boxe na Olimpíada é marcada por reviravoltas, grandes estrelas e predomínio dos Estados Unidos e de Cuba. Na Europa, Grã-Bretanha, Itália e a extinta União Soviética conquistaram dezenas de medalhas desde que a modalidade passou a fazer parte do programa olímpico, nos Jogos de 1904, em Saint Louis. Só não houve disputa em 1912 (Estocolmo), já que a lei sueca proibia a prática da modalidade. Aos poucos, com o passar das décadas, as tradições são revistas, e novos protagonistas surgem. É o caso do Brasil. Em Tóquio, o país emplacou três medalhistas — e dois deles podem pintar o prêmio de dourado nos últimos dias de competição.

Os baianos Hebert Conceição (na categoria até 75kg) e Beatriz Ferreira (até 60kg) disputam finais neste fim de semana. Na madrugada deste sábado, ele encara o ucraniano Oleksandr Khyzhniak, a partir das 2h45. “A cada luta, vamos ganhando mais confiança, o que faz toda a diferença. Seja o evento que for, sempre entro mais travado e, conforme vai passando o tempo, vou ganhando mais confiança. E estou muito seguro para fazer um bom trabalho na final e trazer mais uma medalha de ouro”, disse o brasileiro.

No domingo, às 2h, soa o gongo para a decisão feminina de Bia contra a irlandesa Anne Kellie Harrington. “É degrau por degrau. Fui alimentando isso, estudando as adversárias e hoje estou feliz aqui, mas ainda não acabou. Queria muito essa luta. Participamos de alguns campeonatos, mas, infelizmente, não chegamos a lutar. Ela é campeã mundial, tem todo o meu respeito e estou bem ansiosa para esse espetáculo. Espero sair com a vitória e mandar essa medalha para o meu pai”, declarou a brasileira, atual campeã do mundo.

Os dois combates decisivos terão como palco a Kokugikan Arena, templo do sumô japonês e uma das instalações mais tradicionais desta edição dos Jogos Olímpicos. A outra medalha brasileira na modalidade foi conquistada pelo paulista Abner Teixeira, que caiu na semifinal da categoria até 91kg e levou o bronze.

As projeções da equipe olímpica da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe) não previam um sucesso tão grande nos Jogos de Tóquio. “Se alcançarmos uma medalha no masculino e uma no feminino, cumprimos o prognóstico”, disse, antes das quartas de final de Bia e Hebert, o técnico Mateus Alves. E a meta foi batida com os três pódios conquistados no Japão.

Este é o melhor desempenho brasileiro na história do boxe olímpico. Antes das medalhas de Tóquio, o país havia conquistado cinco — uma de ouro, uma de prata e três de bronze. A primeira foi de Servílio de Oliveira, terceiro colocado do peso mosca (até 51kg) na Cidade do México, no longínquo 1968 — mais de 60 anos depois da estreia da modalidade nos Jogos.

Depois dele, surgiram nomes importantes no boxe brasileiro. O maior deles foi Acelino “Popó” Freitas, que conquistou quatro vezes o título mundial e se tornou uma das estrelas do esporte nacional. O baiano de Salvador, porém, nunca disputou a Olimpíada. Segundo ele, isso se deveu à falta de valorização dos pugilistas brasileiros.

“Eu ganhei a prata no Pan de Mar del Plata, em 1995, e fazia 17 anos que o Brasil não ganhava uma medalha. Mas eu voltei a dormir na mesma casa, a passar a mesma dificuldade, a passar fome. Essa medalha não me deu dinheiro, essa medalha não me deu patrocínio, essa medalha não me deu nada. Aí, eu pensei em virar profissional. O Evander Holyfield estava lutando na Bahia e me convidaram para fazer as preliminares. Eu ganhava R$ 400 por luta e dava para ajudar a minha casa, dava para comer”, desabafou, em 2020, numa entrevista à Band.

Dificuldade

Popó, porém, deixou um legado — construído com o auxílio de Luís Cláudio. Pelas portas que os irmãos Freitas reabriram, passaram importantes boxeadores da história olímpica brasileira. Depois de 44 anos, o país voltou a conquistar uma medalha na modalidade. Nos Jogos de Londres, em 2012, Yamaguchi Falcão, Esquiva Falcão e Adriana Araújo subiram ao pódio. A medalha dela foi bastante significativa, afinal, foi vencida na primeira edição dos Jogos em que a modalidade foi disputada também por mulheres.

O primeiro ouro veio com Robson Conceição, no Rio de Janeiro, em 2016. Nascido em Salvador, ele retomou a tradição do boxe da Bahia, celeiro de talentos para a modalidade. Na capital, nasceram Hebert e Bia, esperanças do Brasil para melhorar no quadro geral de medalhas no Japão. Com dois ouros, o país poderia, a depender do desempenho das outras delegações, saltar da 16ª para a 12ª colocação — que seria a melhor posição do país na história. O recorde atual foi registrado com o 13º lugar de cinco anos atrás.

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Reinier busca o quarto título em dois anos

 (crédito: Pedro Pardo/AFP)
crédito: Pedro Pardo/AFP

Há dois anos, o brasiliense Reinier estreava no time profissional do Flamengo contra o Emelec do Equador, no Maracanã, no jogo de volta das quartas de final da Libertadores. Dois meses depois, balançava a rede pela primeira vez em um jogo oficial na vitória contra o Avaí, no Mané Garrincha. De lá para cá, o meia-atacante de 19 anos não para de empilhar títulos: Brasileirão e a Copa Libertadores da América em 2019, ambos pelo clube carioca, e a Copa da Alemanha na temporada 2020/2021 vestindo a camisa da Borussia Dortmund.

Uma quarta conquista pessoal está garantida. Com a classificação do Brasil para a final do torneio de futebol masculino nos Jogos de Tóquio-2020, Reinier assegurou, no mínimo, uma medalha de prata. Mas ele cobiça o ouro no duelo de amanhã contra a Espanha, às 8h30, no Estádio Internacional de Yokohama, para igualar o feito olímpico do conterrâneo Felipe Anderson. Há cinco anos, o meia de Santa Maria fez parte da inédita conquista dourada contra a Alemanha, no Maracanã. Pode repetir, também, o sucesso de outros dois candangos. Lúcio e Kaká comemoraram o penta, em 2002, no mesmo palco da decisão.

Reinier tem sido importante no projeto olímpico do técnico André Jardine. O torneio é sub-24, mas o menino é tão promissor que disputa a competição com 19. É o caçula do elenco. Entrou em quatro dos cinco jogos. Deu assistência para o gol de Richarlison contra a Arábia Saudita e converteu o pênalti que garantiu a classificação contra o México na semifinal.

Questionado pelo Correio sobre as alternativas táticas oferecidas pelo versátil Reinier ao time, André Jardine elogiou um de seus xodós neste ciclo olímpico. “O Reinier realmente tem esse potencial de jogar como um segundo atacante por trás do nove ou até mesmo como falso 9. Eu também o vejo assim, a gente o enxerga como um 10 à moda antiga, daqueles que se relacionam muito bem com o gol, a grande área, a parte terminal do campo”, comentou.

Com a lesão de Matheus Cunha, Reinier passou a disputar posição com Paulinho e Malcom no ataque verde-amarelo. Paulinho começou contra o Egito, mas foi substituído na etapa final. Malcom e Reinier terminaram a partida ao lado de Richarlison e de Gabriel Martinelli. “Ele realmente é uma alternativa, uma das opções que nós podemos usar no início ou até mesmo durante o jogo. A gente tem pensado muito sobre isso”, reconheceu Jardine.

No último dia 31, Reinier usou a conta no Instagram para comemorar o segundo aniversário da estreia no time profissional do Flamengo. “Quando eu era criança, sonhava demais com esse momento. Foi melhor do que eu era capaz de imaginar. Meus heróis (pais) na arquibancada, a ‘nação’ me abraçando na torcida, o grito de gol tomando conta do estádio e aquele sentimento de vitória na vida. O futebol me deu tudo e eu faço tudo por ele. Faço tudo pelos meus e por vocês. Sou um eterno garoto do ninho. Hoje (sábado) faz dois anos que eu comecei a jogar profissional e quer saber? Tô sonhando acordado. Vamos pra mais! Obrigado a todos que me acompanharam”, escreveu Reinier.

Amanhã, o menino criado no Guará certamente atualizará a conta no Instagram com uma medalha. Pode ser prateada ou dourada.


Memória

Os três títulos de Reinier em 736 dias como profissional

Flamengo
Campeonato Brasileiro (2019)
Libertadores (2019)

Borussia Dortmund
Copa da Alemanha (2020/2021)

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