TOKYO 2020

Defesa e constrangimento

Advogado da brasiliense Tandara diz que a substância ostarina entrou acidentalmente no organismo da jogadora

Marina Barbosa
Marcos Paulo Lima
postado em 06/08/2021 23:25 / atualizado em 07/08/2021 00:48
 (crédito: Miriam Jeske/COB)
(crédito: Miriam Jeske/COB)

Afastada dos Jogos de Tóquio depois de testar positivo para a substância ostarina, que pode ajudar no ganho de massa muscular e pertence a uma classe de anabolizantes, a jogadora brasiliense da Seleção Brasileira feminina de vôlei, Tandara Caixeta, pronunciou-se pela primeira vez sobre o resultado apresentado pela Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD). Desligada do time, Tandara não participou da vitória contra a Coreia do Sul, ontem, na semifinal, e não participará da decisão da medalha de ouro, contra os Estados Unidos, na madrugada deste domingo. Se absolvida no processo, a jogadora poderá receber a medalha.

Em nota publicada nas redes sociais com papel timbrado do escritório de advocacia contratado pelo estafe da atleta, a defesa afirmou: “Confiamos plenamente que comprovaremos que a substância ostarina entrou acidentalmente no organismo da atleta e que não foi utilizada para fins de performance esportiva”, diz o texto assinado por Marcelo Franklin.

A defesa diz, ainda, que o caso de Tandara não é o primeiro desse tipo. “Recentemente, inúmeros atletas no Brasil foram vítimas de incidentes envolvendo a ostarina (Sarm-S22), a ponto de a Anvisa intervir para proibir a comercialização de tal substância em território nacional”, argumenta a nota apresentada pelos advogados.

O texto também informa: “Até o momento, sequer foi analisada a contraprova da urina da atleta (amostra B), portanto, salvo melhor juízo, não se afigura razoável qualquer pré-julgamento de uma atleta íntegra, sem quaisquer antecedentes e que há anos contribui para as conquistas do voleibol brasileiro”.

O exame de Tandara foi realizado em 7 de julho, quando ela estava com a Seleção no Centro de Treinamento de Saquarema, no Rio de Janeiro, na pré-temporada antes do embarque para os Jogos Olímpicos de Tóquio. O técnico José Roberto Guimarães falou sobre o assunto, ontem, depois da vitória por 3 sets a 0 contra a Coreia do Sul, na semifinal.

“Foi uma situação difícil, tudo muito rápido. Quando soube da notícia, eu tinha preocupação com ela e com o grupo, como o time absorveria isso. Conversei com ela. Cabe a ela fazer a defesa. Garantiu que não consumiu absolutamente nada e acredito nisso. E, depois, no encontro com o grupo, todo mundo ficou de boca aberta, sem chão”, afirmou o técnico José Roberto Guimarães.

O treinador também falou como trabalhou o grupo psicologicamente. “A gente tinha uma causa para lutar. Uma medalha, representando um país, 220 milhões de pessoas, e temos que focar nisso. Vamos jogar por ela e correr por ela. Depois do jogo, a gente pensa e chora, sente a ausência dela. Mas, no momento, não temos tempo. Absorver rápido isso e fazer o que temos de fazer. Todas se juntaram, falaram sobre isso e assimilaram”, disse.

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Brasil defende ouro em final contra Espanha

 (crédito: Lucas Figueiredo/CBF)
crédito: Lucas Figueiredo/CBF

Tóquio — Apenas quatro países na história conseguiram conquistar o ouro olímpico no futebol masculino duas vezes seguidas. E o Brasil pode se tornar, hoje, o quinto nesta seleta galeria. Para isso, precisa vencer a final contra a forte Espanha, em jogo marcado para 8h30, em Yokohama.

Campeã no Rio de Janeiro (2016), a Seleção Brasileira tenta repetir o feito na Olimpíada de Tóquio. Somente Grã-Bretanha (1908 e 1912), Uruguai (1924 e 1928), Hungria (1964 e 1968) e Argentina (2004 e 2008) ganharam o bicampeonato consecutivo na história centenária do futebol olímpico, que passou a integrar o programa do evento em 1900 (Paris), na segunda edição da Era Moderna.

Desde o início do torneio olímpico, Brasil e Espanha eram apontados como os principais favoritos ao título. A Seleção Brasileira, ao contrário de outras equipes com vasta tradição no esporte, costuma levar mais a sério a Olimpíada e, por isso, fazer convocações com jogadores importantes. No Japão, por exemplo, nomes como os do goleiro Santos e do lateral-direito Daniel Alves encabeçam a lista dos destaques acima dos 24 anos. A eles, soma-se o zagueiro Diego Carlos.

Para enfrentar o forte time espanhol, o Brasil deve contar com um reforço importante. O atacante Matheus Cunha se recuperou de uma contratura muscular na coxa esquerda sentida ainda nas quartas de final diante do Egito, treinou normalmente com os companheiros e deve voltar ao time titular. Nesse caso, Paulinho retorna ao banco de reservas.

Essa deve ser a única modificação feita pelo técnico André Jardine para a decisão de sábado. O restante do time deve ser o mesmo que iniciou a semifinal contra o México, vencida no drama dos pênaltis. E é com ele que o Brasil vai tentar buscar o raro e tão sonhado bicampeonato olímpico.

Bia socava pneu e, agora, quer o topo do pódio

 (crédito: Luis Robayo/AFP)
crédito: Luis Robayo/AFP

Tóquio — O sol acabara de raiar quando a pequena Bia, aos quatro anos, corria para a garagem de casa. Com a luva do pai — muito maior do que o tamanho que lhe serviria com perfeição —, a garota, ainda meio sem jeito, passava o tempo disparando socos contra os pneus do carro até não aguentar mais. Era o prelúdio de uma história que, mais de duas décadas depois, alcançaria aquele que parece o clímax. Em Tóquio, a 17 mil quilômetros do lar onde deu os primeiros passos na Bahia, Beatriz Ferreira busca a consagração máxima: a medalha de ouro olímpica.

O sonho pode se cumprir na madrugada de amanhã, último dia de competições da Olimpíada do Japão. Para isso, Bia precisa derrotar a irlandesa Kellie Anne Harrington, campeã mundial da categoria até 60kg em 2018. O desafio não é simples, mas a baiana de 28 anos também ganhou o mundo uma temporada depois da adversária, que enfrentará, a partir das 2h, na lendária Kokugikan Arena, templo do sumô japonês.

Ainda nova, Bia teve de lidar com a separação dos pais, com quem morava em Salvador. Aos 14 anos, decidiu acompanhar a empreitada do pai Raimundo Ferreira, que aceitou uma oferta de emprego em Juiz de Fora. Na Zona da Mata mineira, a garota percebeu que o boxe poderia ser mais do que uma simples brincadeira de criança.

O início da trajetória da principal estrela da delegação brasileira em Tóquio foi na academia do pai. “Sergipe”, como é conhecido Raimundo, foi tricampeão baiano e conquistou o Campeonato Brasileiro profissional em duas oportunidades: 1999 (peso-galo) e 2002 (peso super galo). Treinou com Acelino “Popó” Freitas, campeão mundial da modalidade. Era o sparring. Em Juiz de Fora, o ex-pugilista abriu uma academia, pois não conseguia abandonar a paixão, que também transmitiu para a mais velha das três filhas.

Não existe alguém a quem Bia agradeça mais do que o pai. Ela prometeu lhe dedicar a medalha – seja a de prata ou a dourada. “Queria muito essa luta. Participamos de alguns campeonatos, mas, infelizmente, não chegamos a lutar. Ela é campeã mundial, tem todo o meu respeito e estou bem ansiosa para esse espetáculo. Espero sair com a vitória e mandar essa medalha para o meu pai”, disse.

Entre idas e vindas por Bahia e Minas, ela chamou a atenção da Seleção Brasileira de boxe. Nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016, colaborou com os treinamentos de Adriana Araújo, primeira brasileira medalhista olímpica na modalidade (conquistou o bronze em Londres).

A partir dali, a carreira de Bia deslanchou. Após vitórias sequenciais no Brasil, ela alcançou a glória internacional com o título mundial em 2019. A conquista a colocou sob holofotes e a transformou na grande estrela da categoria entre 57kg e 60kg. Por isso, chegou a Tóquio como a boxeadora a ser batida.

“Eu não me prendo ao favoritismo. Até esqueço que sou o alvo. Os treinadores que me lembram. Mas eu estou pronta para qualquer uma. Os treinadores me mandam usar isso a meu favor, mas eu não me apego. Quando subo no ringue, pode ser contra quem for. Se está contra mim, eu vou para cima”, disse. E vai mesmo. Seja contra os pneus do carro do pai, seja contra uma campeã mundial.

Curtas

Marcha atlética

Punição afasta o terceiro lugar

Érica Sena viveu, ontem, uma das maiores frustrações de um atleta brasileiro nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Ela estava perto de ganhar o bronze na marcha atlética feminina dos 20km, mas recebeu a terceira advertência nos metros finais da prova, teve de parar por dois minutos e terminou o percurso na 11ª colocação, com o tempo de 1h31min39, perdendo o terceiro lugar para a chinesa Hong Liu, que marcou 1h29min57. O ouro foi para Antonella Palmisano, da Itália (1h29min12), país que também venceu a prova masculina na quinta-feira, e a prata ficou com a colombiana Lorena Sandra (1h29min37).


Hipismo

Rodrigo Pessoa descarta final

Um percurso técnico, uma nova regra e uma noite tensa para os cavaleiros. Na fase classificatória por equipes do hipismo saltos, ontem, muitos cavalos refugaram e acabaram eliminando as equipes, como aconteceu com a forte Irlanda, nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020. O cavalo Carlito’s Way 6, de Rodrigo Pessoa, terceiro e último cavaleiro a entrar no picadeiro pelo Brasil, deu um susto no atleta, refugou mais de uma vez e derrubou dois obstáculos. A experiência de Pessoa, que está na sétima edição olímpica, fez com que ele terminasse o percurso e garantisse a classificação do país para a final. Mas a participação na decisão, marcada para hoje, às 7h, está praticamente descartada. “Para mim, Tóquio acaba aqui. O meu cavalo não está em condições de ajudar a equipe”, disse Pessoa.


Futebol feminino

Atleta trans conquista ouro

A jogadora de futebol da seleção canadense Quinn tornou-se a primeira atleta abertamente transgênero e não binária a ganhar uma medalha olímpica, ontem, após a final vencida contra a Suécia (3 x 2, nos pênaltis, após 1 x 1, no tempo normal), em Yokohama. Quinn, que tem apenas um nome, começou como titular e foi substituída no final do primeiro tempo. Meio-campista de 25 anos, ela tem uma longa história no time feminino canadense. Estreou em 2014 e conquistou a medalha de bronze nos Jogos do Rio-2016. Declarou-se transgênero no ano passado. “Queria ser autêntica em todas as esferas da minha vida”, disse.

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