Tóquio — O palco da final olímpica já era sagrado para a Seleção Brasileira. Afinal, em 2002, o Estádio Internacional de Yokohama foi o cenário do título mundial contra a Alemanha. E, sob as bênçãos dos pentacampeões, o Brasil voltou a comemorar um título no local quase 20 anos depois. Na manhã de ontem (noite no Japão), a equipe olímpica derrotou a Espanha por 2 x 1, em partida definida na prorrogação, e conquistou o bicampeonato em Jogos Olímpicos. O ouro da Olimpíada de Tóquio foi o segundo seguido, cinco anos após a vitória nos pênaltis diante dos alemães, no Rio de Janeiro.
O Brasil abriu o placar nos acréscimos do primeiro tempo, com Matheus Cunha. Mais cedo, Richarlison havia perdido um pênalti. Na volta para a etapa complementar, a Espanha melhorou e logo buscou o empate com Oyarzabal. O gol do ouro saiu no segundo tempo da prorrogação, em contra-ataque magistral definido com perfeição por Malcom.
Antes do Brasil, só quatro seleções haviam conquistado dois ouros seguidos no futebol masculino: Grã-Bretanha (1908 e 1912), Uruguai (1924 e 1928), Hungria (1964 e 1968) e Argentina (2004 e 2008).
A modalidade passou a integrar o programa olímpico na segunda edição do evento na Era Moderna (em Paris, 1900) e nunca teve um tricampeão. A Seleção Brasileira se credencia a buscar o feito inédito nos Jogos de 2024, que serão disputados novamente na capital francesa.
Ganhar dois ouros consecutivos é raro para o Brasil em qualquer modalidade. O país conseguiu a sequência dourada apenas quatro vezes. A primeira foi com o lendário Adhemar Ferreira da Silva, campeão no salto triplo nos Jogos de Helsinque (1952) e Melbourne (1956).
Depois, foi preciso mais de meio século para um novo bicampeonato. Em Pequim (2008) e Londres (2012), a Seleção Brasileira Feminina de Vôlei levou o título contra os Estados Unidos.
A dupla da vela formada por Kahena Kunze e Martine Grael também conquistou o ouro em duas edições consecutivas de Jogos Olímpicos: no Rio de Janeiro (2016) e em Tóquio (2020, disputada em 2021). Agora, a dobradinha se completa também com o futebol masculino, que tanto demorou a ganhar o primeiro título, mas já emendou dois.
O Brasil é o país com mais medalhas olímpicas no futebol masculino (sete), duas a mais que Hungria, União Soviética e Iugoslávia. Em Paris, o país tentará igualar os maiores campeões. Hungria e Grã-Bretanha contabilizam três medalhas de ouro cada.
Irreverência
Na comemoração do bi, o técnico André Jardine entrou na sala de coletiva em ritmo de rock. Surgiu cantando a canção Don´t look back in anger (não olhe para trás com rancor). Ele tinha uma banda cover do grupo na juventude. “Eu tinha o sonho de viver isso. Agora no hotel, na comemoração, a gente vai gravar. Já entrei cantando Oasis porque idealizei isso se fosse campeão. Ia entrar cantando, extravasar um pouco”, comentou o mentor do bi. André Jardine, de fato, relaxou. Tomou até cerveja com o volante Douglas Luiz. “Hoje pode”, brincou.
Enquanto isso, o lateral-direito Daniel Alves atualizava a lista de títulos. Agora, são 43: 42 como profissional e um na base, o Mundial Sub-20 de 2003. Aos 38 anos e 93 dias, o baiano de Juazeiro tornou-se o medalhista mais velho na história do futebol masculino. Tietado, o ex-jogador do Barcelona viu até os mexicanos, que receberam o bronze, fazerem fila para tirar foto com ele.
Na comemoração, Daniel Alves voltou às origens. Ele, Isaquias Queiroz, Herbert Souza, Ana Marcela Cunha e Beatriz Ferreira, que disputaria o ouro nesta madrugada no boxe, têm em comum o fato de serem baianos.
“Poder estar representando a minha Bahia, o meu Nordeste, é muito incrível. Gostaria de compartilhar isso com todos eles, gostaria de agradecer todos que acreditaram em mim. Graças ao grande trabalho feito, a Deus, conseguimos realizar um sonho. Não só por ser um atleta olímpico, mas subir na parte mais alta do pódio. Sabíamos que a luta ia ser muito difícil, mas que ia valer a pena. É um momento indescritível, que temos que desfrutar. Temos que comemorar essa honra de colocar uma medalha no peito”, comentou o jogador.
Acusado pela torcida do São Paulo de abandonar o clube para disputar a Olimpíada, Daniel Alves aproveitou para responder o clube. “A única coisa que eu quis foi realizar meu sonho de jogar no São Paulo. Assim como eu respeito o São Paulo, peço que o São Paulo me respeite, porque tudo que eu faço pelo São Paulo não está ao alcance do que o São Paulo faz por mim”, desabafou ao UOL. O São Paulo limitou-se a parabenizar o lateral.
Artilheiro do torneio com cinco gols, Richarlison perdeu um pênalti no primeiro tempo e acertou o travessão no segundo. Ficou tenso, mas extravasou na cerimônia de entrega das medalhas ao brincar com o presidente da Fifa, Gianni Infantino. “Ano que vem é no Catar, hein, careca!”, brincou, enquanto colocava o ouro no pescoço.
Autor do gol do título, Malcom foi o último a se apresentar. O Zenit São Petersburgo não queria liberá-lo. O atacante peitou os russos e seguiu para o Japão.
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Ouro, Reinier é o melhor brasiliense na Olimpíada
Os jogos Olímpicos de Tóquio-2020 terminam hoje, mas deixam lembranças alegres e de orgulho para Brasília. O jogador de futebol Reinier sai do Japão campeão olímpico pela Seleção, que venceu a Espanha, por 2 x 1. Ele repete o feito de Felipe Anderson. O menino de Santa Maria havia sido ouro na Rio-2016.
Aos 19 anos, Reinier foi um dos reservas mais utilizados no torneio e teve momentos decisivos. Deu assistência para o gol de Richarlison contra a Arábia Saudita e converteu pênalti contra o México que garantiu passagem para final.
Reinier pode ser o único brasiliense medalhista em Tóquio. Tandara disputaria a final do vôlei feminino contra os EUA, mas testou positivo em exame antidoping e retornou ao Brasil. Se provar a inocência, o Comitê Olímpico Internacional (COI) entregará a prata ou ouro à jogadora.
Mas teve atleta de Brasília que, mesmo sem voltar com a
medalha no pescoço, fez história em Tóquio. Nascido no Piauí e radicado em Brasília, Kawan Pereira tornou-se o primeiro brasileiro a classificar-se para a final da plataforma de 10 metros dos saltos ornamentais.
Na estreia olímpica do atleta do Instituto Pró-Brasil (DF), ele terminou com 392.85 pontos na 10ª colocação, a melhor de um brasileiro na prova durante os Jogos Olímpicos. “Estou com sentimento de dever cumprido e de que pude fazer história aqui em Tóquio”, comemorou Kawan.
A judoca brasiliense Ketleyn Quadros foi porta-bandeira da Cerimônia de Abertura. Desfilou ao lado do levantador da Seleção masculina de vôlei, Bruninho.
No tatame, a medalhista olímpica em Pequim-2008 se despediu de Tóquio com uma sétima colocação na categoria até 63kg, após perder a repescagem para a holandesa Franssen.
O brasiliense Bruno Schmidt foi com o parceiro carioca Evandro em busca do bi. A dupla venceu os três jogos da fase de classificação, mas foi eliminada nas oitavas por rivais da Letônia, Edgar Tocs e Martins Plavins. Apesar da frustração, Bruno lembrou o drama que passou por causa da covid-19 e agradeceu por estar vivo. “Mesmo com isso tudo, tive o privilégio de, com um excelente parceiro, estar jogando uma Olimpíada”, ponderou.
Caio Bonfim foi outro representante da capital que não conseguiu repetir o bom desempenho dos Jogos Olímpicos da Rio-2016, quando terminou na quarta colocação nos 20km da marcha atlética. Em Sapporo, ao norte do Japão, o atleta de Sobradinho encarou um calor de 31ºC e terminou a prova em que é especialista na 13ª posição, em 1h23m21s. O brasiliense destacou o altíssimo nível da disputa. “Me preparei muito bem. Queria passar a linha de chegada com a sensação que dei tudo. Foi o que fiz. Ganhei de dois campeões mundiais e medalhistas olímpicos”, avaliou.