SKATE

Raiz candanga

Dono da prata olímpica no park em Tóquio-2020, Pedro Barros fez do DF sua pista. Com família brasiliense, o skatista tem carinho especial pela capital, onde abriu, com o pai, uma filial de empreendimento em que desenvolveu projeto esportivo

Júlia Mano*
postado em 12/08/2021 23:27 / atualizado em 12/08/2021 23:28
 (crédito: Marcelo Maragni/RedBull Pool Content)
(crédito: Marcelo Maragni/RedBull Pool Content)

Medalha de prata no Skate Park nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, Pedro Barros tem na veia sangue de pai candango e até investimento no Distrito Federal na modalidade. É o que contam ao Correio a avó e a tia do atleta de 26 anos que emocionou o Brasil com as manobras no Ariake Urban Sports Park. Alguns endereços do quadradinho fazem parte da trajetória de Pedro, como a pista Sukata, no Cruzeiro, ao lado do Terraço Shopping, além de um empreendimento no Setor Hoteleiro Turístico Norte, na orla do Lago Paranoá. Os avós do atleta chegaram a Brasília em 1967, ano do nascimento de André, pai do atleta que teve idas e vindas à capital.

A matriarca da família, Leopoldina Barros, mudou-se para o Distrito Federal com o marido Manoel Barros — ele morreu em 2001 — após aprovação dele no concurso para trabalhar no Hospital de Base. No cerrado, ela teve os quatro filhos: Marcelo, Anna Paula, Sandra e André, o único que saiu do quadradinho. Ao retornar do intercâmbio nos Estados Unidos, em 1992, onde aprendeu a surfar, ele não conseguiu ficar sem o mar. Em busca das ondas, foi para o polo do esporte no país, Florianópolis, onde viria a ter Pedro, em 1995.

Instalado em Floripa, André mergulhou no desenvolvimento do Skate no bairro Rio Tavares, que atualmente é o coração do esporte na cidade catarinense. Com isso, a história de Pedro acabou se misturando com a da modalidade. A primeira pista do local foi erguida no quintal da casa do brasiliense, em 1996, uma modesta minirrampa. No ano seguinte, os amigos do pai do medalhista de prata olímpico, Leonardo Godoy Barbosa (conhecido como Léo Kakinho) e Rafael Bandara, também natural do DF, construíram o primeiro bowl (pista côncava que lembra uma piscina) no terreno de casa. Em 2002, ela viria a ser transformada na pousada Hi-Adventure. Atualmente, diversas casas do bairro têm pistas.

Os 1.686 km que separam Brasília de Florianópolis não impactaram na união da família Barros. “Por acaso, Pedro nasceu por lá. Nós do DF, de uma certa forma, tivemos influência na formação dele. Eu o considero parte de Brasília e, para mim, (o skatista) é brasiliense. Só que ele é muito apaixonado (pela capital catarinense e não fala dessa forma”, relata Anna Paula, tia do atleta. Ela o levava para andar na pista Sukata, localizado no Cruzeiro, ao lado do Terraço Shopping, quando era criança. Adulto, o medalhista de prata olímpico migrou para a Concha Acústica e a Esplanada.

Orgulho da família

Longe, mas, ao mesmo tempo, bem perto, os três tios, a avó e os primos viram Pedro decolar no esporte com pouca idade. Aos 15 anos, foi campeão de um dos maiores torneios da modalidade, o X-Games. Barros acumula mais cinco troféus do campeonato estadunidense e no Mundial: duas medalhas de prata e uma de ouro. Onze anos depois, a família brasiliense pôde assistir, na madrugada de 5 de agosto, mais uma conquista: a presença no pódio na primeira Olimpíada em que o Skate foi incluído no programa. No entanto, para Pedro, o que realmente importa não são os títulos, mas transmitir aos brasileiros a crença no esporte e mostrar o potencial que o país tem em lançar grandes atletas.

Leopoldina estava tranquila e convicta de que Pedro conseguiria uma medalha para o Brasil por todo o esforço empreendido. O skatista chegou a deixar a escola para se dedicar totalmente à carreira. Todavia, ao ver o neto recebendo a medalha e a bandeira brasileira subindo no mastro, a tranquilidade cedeu lugar a outro sentimento. “A emoção e alegria que senti foram tantas, que tive vontade de chorar”, desabafa, orgulhosa.

Anna Paula compartilha do mesmo sentimento da mãe. “Ver meu sobrinho representando o país nas Olimpíadas e ainda ganhando a medalha foi uma das coisas mais emocionantes que eu já senti na minha vida, é algo que não tem como descrever. A minha vontade era que o meu pai estivesse vivo para poder presenciar esse momento”, conta.

Os feitos de Pedro e André pelo desenvolvimento do Skate não se restringiram a Florianópolis. Em 2018, pai e filho abriram, em Brasília, uma filial do Layback Park, que fica no Setor Hoteleiro Turístico Norte, na orla do Lago Paranoá. No empreendimento, foi construída uma pista de alto nível. Especialmente para o Distrito Federal, desenvolveram, em parceria com a Cia Athletica, um programa em que oferecem aulas para jovens e crianças com o intuito de formar novos campeões.

* Estagiária sob supervisão de Marcos Paulo Lima

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Documentário em Brasília

Em 2020, Pedro Barros realizou o sonho de muitos skatistas e transformou as curvas das obras de Oscar Niemeyer, em Brasília, em pista. Com uma autorização especial concedida para a gravação do documentário Sonhos Concretos: O Skate Encontra Niemeyer, ele e o paulista Murilo Peres droparam em monumentos da capital federal. O projeto saiu justamente da imaginação do skatista, que cresceu idealizando o feito. “Se eu fosse um arquiteto e pudesse desenhar obras, faria apenas tudo que fosse ‘skatável’, para conseguir andar em tudo. De certa forma, Niemeyer fez isso há muitos anos. São tantas linhas, tantas curvas… parece que ele andava de skate e não sabia”, disse, à época.

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