MARATONA AQUÁTICA

A profecia do Lago Paranoá

O dia em que o ex-presidente da CBDA Coaracy Nunes flexibilizou a idade da etapa do Brasileiro no DF, deixou Ana Marcela Cunha competir aos 13 anos e previu sucesso da medalhista de ouro

Júlia Mano*
postado em 20/08/2021 00:31
 (crédito: Carlos Silva/CB/D.A Press)
(crédito: Carlos Silva/CB/D.A Press)

A corrente que levou Ana Marcela Cunha à medalha de ouro no mar aberto da Marina de Odaiba nos Jogos Olímpicos de Tóquio começou com uma marola nas águas do Lago Paranoá. Em 2005, a jovem baiana desembarcou em Brasília para participar do Campeonato Brasileiro. À época, tinha 13 anos. O regulamento impedia a participação dela na competição. A idade mínima era 14. Aí entrou em cena o visionário presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), à época Coaracy Nunes.

O dirigente morreu no ano passado, aos 82 anos, mas uma testemunha ocular do início do sucesso de Ana Marcela Cunha mora em Brasília e conta ao Correio como a nadadora conseguiu participar do evento. Ex-presidente da Federação de Desportos Aquáticos do Distrito Federal, Magda Gomes foi questionada por Coaracy Nunes se algo poderia ser feito para que a atleta competisse. Profético, disse que a menina teria um futuro brilhante.

Magda se reuniu com os clubes para debater sobre a liberação de Ana Marcela. A decisão foi de que a jovem atleta poderia participar desde que não fossem contados pontos para o Clube Olímpico de Natação da Bahia, ao qual ela era vinculada. Na passagem pelo quadradinho, a campeã olímpica de Tóquio-2020 treinou no Complexo Aquático Cláudio Coutinho, antigo Departamento de Educação Física, Esportes e Recreação (Defer).

Ana Marcela Cunha terminou o percurso na sexta colocação. Como combinado, a posição não contou pontos para o clube, mas credenciou a nadadora a participar do Sul-americano. Porém, em assembleia, a Confederação da Bahia decidiu não levá-la por causa da idade.

“As pessoas gostavam muito de vir nadar aqui em Brasília. Os torneios eram bem organizados, o Lago Paranoá por muito tempo foi referência na maratona aquática”, recorda Magda. Ana Marcela retornou ao DF para participar de outras etapas do Campeonato Brasileiro. Também veio ao DF em 2011 para uma das fases do Mundial.

No próximo 17 setembro, Brasília receberá a quarta etapa do Campeonato Brasileiro de Maratona Aquática. A expectativa é por mais braçadas de Ana Marcela Cunha no Lago Paranoá, representando não mais o Clube Olímpico de Natação da Bahia, mas, agora, o Unisanta, de São Paulo, ao qual é vinculada desde 2007.

Antes da estreia no Distrito Federal, Ana Marcela Cunha participou de algumas provas na capital baiana. Entre elas, a Travessia dos Fortes 2005. Terminou na segunda colocação. Com apenas 13 anos, estava determinada a participar dos Jogos Pan-americanos do Rio-2007 e das Olimpíada de Pequim-2008. O esforço foi recompensado. Aos 16 anos, esteve nos dois torneios. Aos 29, acumula na estante 33 medalhas de ouro, 16 de prata e 17 de bronze em Mundiais, além do ouro olímpico conquistado no início deste mês, em Tóquio.

A relação da nadadora com a modalidade começou bem antes, aos dois anos. Os pais a matricularam na natação. Aos nove, a soteropolitana entrou para o Clube Olímpico de Natação da Bahia. Quatro anos depois, a medalhista de ouro estreou no Campeonato Brasileiro nas águas do Lago Paranoá com o inesquecível empurrão de Coaracy Nunes.

* Estagiária sob a supervisão de Marcos Paulo Lima

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