Atletismo Paralímpico

Ela venceu o etarismo: conheça Beth Gomes, medalha de ouro aos 56 anos

Ela ignorou opiniões do tipo "você não tem mais idade para isso" e escreveu uma das histórias mais lindas dos Jogos Paralímpicos de Tóquio: a trajetória da paulista de Santos que trocou o vôlei pelo atletismo e virou uma das mulheres douradas do Brasil

Júlia Mano*
postado em 03/09/2021 21:44 / atualizado em 03/09/2021 21:55
 (crédito: Wander Roberto/CPB)
(crédito: Wander Roberto/CPB)

Aos 56 anos, Elizabeth Rodrigues Gomes escreveu uma das páginas memoráveis na história dos Jogos Paralímpicos de Tóquio. A conquista da paulista de Santos vai além do ouro e do recorde no lançamento de disco na classe F52 ao atingir a marca de 17,62m logo na primeira tentativa. Mulher e portadora de uma deficiência como a esclerose múltipla, Beth também venceu o etarismo, opinião do tipo: "Você não tem mais idade para isso!"

Beth compete no atletismo, mas a relação dela com o esporte começa na adolescência. Aos 14 anos, começou a jogar vôlei na cidade natal como levantadora. A carreira foi interrompida em 1993, quando estava com 27 anos. À época, ela foi diagnosticada com esclerose múltipla. A doença autoimune afeta o cérebro e a medula, podendo reaparecer em forma de surto. A atleta achava que a vida dela havia acabado até que, em 1996, conheceu o basquete em cadeira de rodas e percebeu que teria longa trajetória no esporte.

Não demorou muito até que a paulista fosse convocada para a Seleção Brasileira. Em 1998, vestiu a camisa verde-amarela pela primeira vez. Só que a estreia nos Jogos Paralímpicos veio somente 10 anos mais tarde, em Pequim-2008. Beth ficou nas quadras até 2010, quando teve um surto de esclerose e deixou a modalidade.

No atletismo, Beth reencontrou caminhos para reinserção no esporte. Em 2012, a paulista passou a treinar o lançamento de disco e o arremesso de peso. Preparou-se de forma enérgica para retornar aos Jogos Paralímpicos na Rio-2016. Contudo, a categoria foi retirada do programa daquele ano e a atleta teve de reservar o retorno à competição para 2020 — ano em que estavam marcados os Jogos em Tóquio.

Contudo, nesse meio tempo, Beth sofreu outro surto, em 2018, que paralisou o lado esquerdo do corpo dela. Apesar do drama, a paulista foi reclassificada para a classe F52 do lançamento de disco devido e precisou deixar o arremesso de peso.

Diante de uma coragem indescritível e persistência inigualável, a atleta ficou conhecida como "A Fênix", igual ao pássaro da mitologia grega que, quando morria, entrava em combustão e renascia de suas próprias cinzas. A guerreira seguiu acreditando que poderia vencer as dificuldades, quebrar recordes e entrar para a história do esporte brasileiro.

Não deu outra. Em 2019, ela se transformou em sinônimo de glória. Sagrou-se bicampeã no ParaPan-Americano de Lima e conquistou o título no Mundial de Dubai no lançamento de disco. As conquistas lhe renderam o prêmio paralímpico daquele ano, além de colocar Beth no topo entre as candidatas ao ouro nos Jogos de Tóquio 2020. Assim como na mitologia, a Fênix brasileira ressurgiu, brilhou na Terra do Sol Nascente e, com a medalha no peito, agora traça sonhos maiores, batendo asas rumo a Paris, sede dos Jogos de 2024.

 

Nome: Elizabeth Rodrigues Gomes
Nascimento: 15/01/1965
Modalidade: Atletismo - lançamento de disco
Classe: F52
Instagram: @atletabethgomesoficial

 

*Estagiária sob supervisão de Marcos Paulo Lima

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