Do peso real...

Astros de Brasil e Argentina carregam missão de quebrar jejum de seus países na Copa, mas sofrem com crises na CBF e na AFA. Tite é o quarto técnico de Neymar em 11 anos na Seleção. Scaloni, o nono de Messi. Alemanha teve 11 na história

Marcos Paulo Lima
postado em 05/09/2021 00:50
 (crédito: Lucas Figueiredo/CBF)
(crédito: Lucas Figueiredo/CBF)

Protagonistas de mais um superclássico, hoje, às 16h, na Neo Química Arena, casa do Corinthians, em São Paulo, pelas Eliminatórias para a Copa do Qatar-2022, Neymar e Lionel Messi carregam fardos que não pertencem somente a eles. Fora das quatro linhas, ambos são sabotados pela desordem na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e na Associação de Futebol Argentina (AFA), com direito a renúncias, prisão e afastamento de presidentes. Atos inconsequentes dos cartolas, como o entra e sai de técnicos, minam duas das maiores potências do futebol mundial. A Europa conquistou as últimas quatro edições da Copa.

Apontado como salvador da pátria, responsável por tirar o Brasil da fila de 20 anos e brindá-lo com o hexa, Neymar teve quatro técnicos diferentes em 11 anos de Seleção. Estreou sob a batuta de Mano Menezes em 2010. Na sequência, Luiz Felipe Scolari, Dunga e Tite lideraram o camisa 10. Nesse período, a Seleção ganhou a Copa das Confederações (2013), a Copa América sem Neymar (2019) e chegou à semifinal do Mundial (2014) na humilhação do 7 x 1.

O tempo de permanência dos treinadores à frente da Seleção desde 2010 é de 31 meses (2,7 anos). No cargo desde 2016, Tite curte estabilidade rara. Para se ter uma ideia, a Alemanha teve apenas dois treinadores na Era Neymar. Mentor do tetra, Joachim Löw foi o dono da prancheta por 15 temporadas até ser trocado por Hansi Flick depois da Eurocopa deste ano.

De 2012 para cá, há uma dança das cadeiras no cargo de presidente da CBF. Ricardo Teixeira renunciou ao cargo. Condenado a 41 meses de prisão no caso Fifagate, José Maria Marin cumpriu pena domiciliar em Nova York até o ano passado. A defesa do acusado de receber US$ 6,5 milhões de propinas de empresas de marketing esportivo para assinar contratos de direitos comerciais de competições de futebol na América do Sul usou a pandemia do novo coronavírus e os problemas de saúde de Marin para trazê-lo de volta ao Brasil no ano passado.

Os ex-presidentes Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero também foram denunciados pela Justiça dos Estados Unidos por formação de organização criminosa, fraude bancária e lavagem de dinheiro, mas como o Brasil não extradita seus cidadãos, ambos não foram julgados em Nova York. Del Nero chegou a ser banido do esporte, mas teve a pena reduzida a 20 anos. Ele pode retornar ao futebol em 2038, quando terá 97 anos.

O atual presidente da CBF, Rogério Caboclo, foi afastado do cargo após denúncias de assédios moral e sexual feitas por uma funcionária da entidade. Quatro diretores e uma outra mulher também afirmaram terem sido alvos do dirigente. O cartola nega as acusações. Desde então, a CBF teve dois presidentes interinos: o coronel Nunes e o atual, Ednaldo Rodrigues.

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...ao peso argentino

 (crédito: CARL DE SOUZA / AFP)
crédito: CARL DE SOUZA / AFP

A Argentina teve na Era Messi quase a mesma quantidade de técnicos da Alemanha. Nove treinadores comandaram o jogador eleito seis vezes melhor do mundo desde a estreia dele em 2005: José Pékerman, Alfio Basile, Diego Maradona, Sergio Batista, Alejandro Sabella, Gerardo “Tata” Martino, Edgardo Bauza, Jorge Sampaoli e o atual, Lionel Scaloni.

O tempo de permanência dos técnicos da Argentina na Era Messi é de 19 meses (1,7 ano). Em toda a sua história, a seleção da Alemanha teve 11 treinadores. Substituído por Hansi Flick depois da Eurocopa deste ano, Joachim Löw, o mentor da conquista do tetra, ficou 15 anos no cargo.

Lionel Messi vive tempos de rara instabilidade na relação com a AFA, mas sofre tanto ou mais do que Neymar com os desmandos na entidade máxima do futebol argentino. Apontado como o Messias, o sucessor de Maradona que tiraria a seleção do jejum de 36 anos sem título, ele tem no currículo apenas a Copa América conquistada em julho, no Maracanã. Antes, amargou o vice na Copa de 2014 contra a Alemanha e três derrotas nas finais do torneio continental nas edições de 2007, 2015 e 2016. A sequência de trabalho também é blasfêmia por lá.

A disputa pelo poder no país vizinho lembra a de cá. Comandada por Julio Grondona de 1979 a 2014, a AFA também viveu seus desmandos na Era Messi. A sucessão depois da morte de Grondona, em 2014, e o tsunami causado pelo Fifagate, foram marcados por denúncias de fraude eleitoral e até controle estatal. Em 2016, a Justiça argentina determinou a intervenção sobre as eleições presidenciais. Interferências governamentais são proibidas pelas leis da Fifa.

A decisão política da Inspeção Geral de Justiça (IGJ) foi suspender os pleitos e nomear dois supervisores para acompanhar os atos da AFA por 90 dias. A entidade teve três presidentes nos últimos oito anos. O cargo foi ocupado por Luis Segura, o interventor Armando Pérez e o atual mandatário Claudio Tapia. Na Era Messi, a Argentina acumula vexames internacionais como as derrotas por 6 x 1 para a Bolívia nas Eliminatórias para a Copa de 2010 e outro 6 x 1 diante da Espanha em um amistoso antes do início do Mundial da Rússia em 2018.

Minados pelo troca-troca de técnicos e a guerra pelo poder na CBF e na AFA, Neymar e Messi duelarão pela sexta vez, hoje, em diferentes zonas de conforto. O Brasil lidera as Eliminatórias com 21 pontos, 100% de aproveitamento. Se mantiver esse ritmo, a Seleção pode ser a primeira do mundo a se classificar via qualificatório em outubro, quando receberá o Uruguai, em Manaus. Seis pontos atrás do Brasil, a Argentina também tem o passaporte praticamente carimbado. A folga em relação ao quarto colocado é de seis pontos. No duelo particular entre os parças do Paris Saint-Germain, Lionel Messi contabiliza três vitórias contra duas de Neymar. (MPL)

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