O jogo em que a bola não rolou por desrespeito ao protocolo da covid-19 promete uma longa prorrogação fora das quatro linhas. Ontem, novos desdobramentos mantiveram os bastidores do clássico suspenso entre Brasil e Argentina em ebulição. Responsável por definir sanções após o ocorrido, a Fifa se manifestou em tom de lamentação, enquanto a Polícia Federal (PF) abriu um inquérito para apurar se os argentinos Emiliano Martínez, Emiliano Buendía, Cristian Romero e Giovani Lo Celso cometeram crime de falsidade ideológica para burlar as regras de quarentena.
A entidade máxima do futebol disse estar se aprofundando nos relatórios. “As informações serão analisadas pelos órgãos disciplinares competentes e uma decisão será tomada no seu devido tempo.” Em vídeo exibido durante assembleia-geral da Associação Europeia de Clubes, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, classificou o caso como “loucura”. “Mas precisamos para lidar com esses desafios, essas questões vindo em cima da crise da covid-19”, reiterou.
Em entrevista ao programa Seleção SporTV, Alex Machado Campos, diretor da Anvisa, voltou a apontar descumprimento das normas por argentinos e a destacar que a agência informou previamente sobre a necessidade de quarentena. “Foi uma sucessão de atos deliberados em enfrentamento às normas brasileiras. As autoridades da Argentina estavam cientes”, destacou. “Virou uma luta de gato e rato. A gente indo atrás dos jogadores, e eles fugindo”, completou. A investigação do caso está sendo conduzida pela delegacia da PF no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, local de entrada dos argentinos no Brasil.
Em nota, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) deu novos esclarecimentos e confirmou reunião com a agência e dirigentes da Associação do Futebol Argentino (AFA). “Eles foram informados de que havia uma irregularidade no ingresso dos atletas e receberam a orientação das autoridades para solicitarem, junto aos órgãos competentes, a autorização especial para que os jogadores tivessem sua situação regularizada. Tratou-se de uma discussão técnica entre Anvisa, Ministério da Saúde e Associação Argentina”, diz o texto. O pedido chegou a ser feito, mas, segundo o ge.globo, foi negado pelo Ministério da Saúde 50 minutos antes do jogo.
Notificados, os argentinos voltaram a Buenos Aires no domingo. Um dos envolvidos na entrada ilegal no país, o goleiro Martínez, do Aston Villa, lamentou o cancelamento do jogo por “coisas políticas” e alfinetou o Brasil. “É uma pena, porque íamos ganhar. Estávamos confiantes, a equipe estava bem”, garantiu. Os quatro protagonistas do episódio foram liberados pela AFA para retornarem aos seus clubes na Inglaterra e não jogam, na quinta-feira, com a Bolívia. Contra a viagem de Romero e Lo Celso, o Tottenham estuda punir os jogadores pela confusão.
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"Fifa vai tomar uma decisão política"
Qual é o rito do processo na Fifa?
O processo disciplinar na Fifa começa com uma ata de um membro oficial. No caso, a súmula do árbitro. Esse documento será remetido ao Comitê Disciplinar. O presidente, que é um colombiano (Jorge Palacio), estabelecerá se o julgamento será feito por um juiz único. Esse juiz único vai ser ou o presidente do tribunal, ou alguém que ele designar.
Qual é a tendência nesse caso?
Há previsão de multa de até 50 mil francos suíços. Em penas mais brandas, o presidente decide de maneira única. Se ele entender que a aplicação da penalidade é maior — e nesse caso vai ser, porque haverá perda de pontos —, ele vai nomear um relator e mais, pelo menos, dois membros do Comitê Disciplinar. Eles vão decidir respeitando o contraditório. Todos terão oportunidade de falar, e eles vão proferir uma decisão.
Qual é o repertório de punições para esse episódio?
Dar os pontos da partida para alguém ou decidir por uma pena até mais grave, como perda do mando de campo ou eliminação da competição. Se for uma pena mais grave, cabe o recurso.
Alguma chance de remarcar o jogo ou reiniciá-lo?
Pouco provável. Até por uma questão de calendário e de falta de importância. Brasil e Argentina vão se classificar para a Copa. Até politicamente essa partida não acontecerá.
O Comitê Disciplinar tomaria uma decisão severa?
A situação é muito grave. Quatro jogadores, na pandemia, tentam furar um protocolo, que tem o apoio da Fifa e da Conmebol. Mentem, cometem um crime para entrar em campo. A AFA, em vez de evitar isso, não só apoia, como tenta esconder e se torna coparticipe dessas infrações. As autoridades sanitárias brasileiras entram em campo para fazer cumprir um protocolo aceito pelos participantes. A intenção (da Anvisa) não era impedir que o jogo acontecesse, mas a perpetuação da ilegalidade.
Como avalia o papel da AFA?
Era substituir os quatro e jogar. Tenta se aproveitar da situação e tira o time de campo. Aproveito para trazer um precedente. Em 1989, o Chile tira a seleção de campo (contra o Brasil, no Maracanã, pelas Eliminatórias para a Copa de 1990), em razão daquele foguete e é punido pela Fifa. Perde os pontos e fica quatro anos impedido de participar de competições. Eles só voltam ao cenário internacional em 1995 para a Copa de 1998 e se classificam.
A exclusão da Argentina seria uma medida educativa?
A punição deveria ser aplicada até para servir de exemplo para que nenhuma outra seleção tente furar o protocolo. A Argentina deveria ser eliminada da competição e, consequentemente, ficar fora da Copa do Qatar-2022.
Qual é a sua impressão depois de tudo que viu, leu e ouviu?
A Argentina vai ser punida. Perderá os pontos e vão para o Brasil. Isso vai ter pouca interferência no resultado das Eliminatórias porque são 10 países, quatro se classificam e um disputará a repescagem. E o Brasil vai levar uma multa. Não passa disso. A Fifa vai tomar uma decisão política. É o peso da camisa da Argentina, a relevância comercial do país para a Copa do Mundo. Vão relativizar. A Argentina está tentando reverter a culpa. Diz que é do governo brasileiro porque alguém teria dado garantias de que poderiam entrar em campo e não haveria problema… Vai ser isso. Não terão coragem de aplicar a pena mais gravosa.
As críticas à Anvisa são justas?
Tem muita gente atacando a Anvisa porque ela não deveria ter esperado entrar em campo para fazer o que fez. Eu discordo. Isso aqui não é o Minority Report (filme de ficção científica onde videntes revelam os criminosos), que você vai adivinhar aqueles que cometerão infração. A Anvisa deu a notificação: “Eles não podem jogar”. E deu o caminho que a AFA deveria seguir.
E a AFA, em tese, ignorou…
Não cumpriu e tornou público o descumprimento quando eles entraram em campo. Não tinha como a Anvisa entrar antes. Não tem que tomar nenhuma medida preventiva. O papel é notificar. É igual quando a Anvisa vai a uma empresa e diz que ela não pode funcionar em tal situação. Ela vai embora. Se a empresa funcionar, sofrerá outras penas.
Quais são os erros nesse caso?
Se houve erros, o primeiro foi do controle de fronteiras. É sinal de que é muito fácil entrar no Brasil descumprindo o protocolo. Nesse caso específico, você não tem como olhar um por um, mas eram pessoas públicas, fácil descobrir. O segundo erro é o seguinte: temos que saber quem do governo federal falou que podia jogar. Se foi o presidente da República ou ministro de Estado é crime de responsabilidade. Essa pessoa tem que aparecer e ser punida.
A Argentina quer os pontos do jogo. Faz sentido?
Está rolando uma pressão forte. Se isso acontecer vai ser o absurdo dos absurdos. Vão punir a equipe que queria jogar e beneficiar o infrator. Eles mentiram para entrar no Brasil. Para mim, a única forma de o Brasil ser punido com a perda dos pontos é se a Argentina comprovar que o governo afirmou que não teria problema. Se fizerem isso, jogam no colo do governo e é crime de responsabilidade.
Pode surgir outra forma de a Fifa punir o Brasil?
O que ela pode fazer é não realizar mais jogos no Brasil sob o seguinte argumento: se a aduana do Brasil não consegue controlar o ingresso, não é seguro estrangeiro jogar no Brasil. Eu tiraria os mandos até o fim das Eliminatórias. Isso eu acho até justo, agora perder os pontos é absurdo.
Internado em SP, Pelé retira tumor no cólon
Hospitalizado desde a última terça-feira, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, de 80 anos, passou por uma cirurgia para a retirada de um tumor no cólon direito. A informação foi divulgada pelo Rei do Futebol, ontem, em uma rede social. Conforme o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, o procedimento foi realizado com sucesso no último sábado.
O tumor foi identificado durante a bateria anual de exames de Pelé. “Eu agradeço a Deus por estar me sentindo muito bem e por permitir que o Dr. Fábio e o Dr. Miguel cuidem da minha saúde. Felizmente, estou acostumado a comemorar grandes vitórias ao lado de vocês. Vou encarar mais essa partida com um sorriso no rosto, muito otimismo e alegria por viver cercado de amor dos meus familiares e amigos”, escreveu.
Quando deu entrada no hospital da capital paulista, o ex-camisa 10 do Santos e da Seleção Brasileira também usou as redes sociais para dizer estar bem de saúde. Na ocasião, o jogador disse ter adiado os procedimentos devido à pandemia de covid-19, negou ter tido perda de consciência e brincou. “Avisem que eu não jogo no domingo”.
O Albert Einstein reforçou que Pelé está em estado estável após a cirurgia. “O tumor foi identificado e o material foi encaminhado para análise patológica. O paciente, que passa bem, está em recuperação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e a previsão é que seja transferido para o quarto nesta terça-feira”, detalhou a unidade hospitalar.