Endereço dos treinos de atletas de esportes aquáticos, como a natação e os saltos ornamentais, antes dos Jogos de Tóquio, o Centro Olímpico da Universidade de Brasília (UnB) está perto de virar um dos eldorados do país, também, no atletismo. Depois do sucesso do Centro de Excelência de Saltos Ornamentais — um dos trunfos de Kawan Pereira para levar o Brasil à inédita final da plataforma de 10m —, uma reforma em andamento promete transformar as pistas de atletismo, onde medalhistas como João do Pulo e Joaquim Cruz competiram em referências nacionais da modalidade não somente na formação, mas na consolidação de atletas de alto rendimento.
Por enquanto, as piscinas são os cartões de visita da estrutura. As águas da UnB não abençoaram somente o estreante Kawan Pereira. Contribuíram para Luana Lira fazer bonito no trampolim de 3m. Ouro, prata e bronze na natação nos Jogos Paralímpicos, Wendell Belarmino também usou o espaço antes do sucesso no Japão.
Há dois anos, as atenções se voltaram, também, para o atletismo. Em dezembro de 2019, a reitora da universidade, Márcia Abrahão, anunciou a reforma das pistas do Centro Olímpico. A número um terá padrão internacional e poderá receber torneios oficiais. A dois será usada para treinamentos e aulas.
O investimento estimado em R$ 4,5 milhões, com recursos da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, começou no início de 2020, e a expectativa era de que fosse aberta ao público 12 meses depois. No entanto, a obra atrasou devido à pandemia de covid-19. Atualmente, 70% da reforma foi executada. A previsão é que o trabalho seja concluído até 25 de novembro deste ano.
A Faculdade de Educação Física (FEF) e o Centro Olímpico (CO) da UnB serão responsáveis pela gestão das pistas de atletismo. O espaço é público, porém terá acesso controlado para que se mantenha a qualidade de uso. Com isso, a FEF e o CO estão desenvolvendo programas para quando a instalação estiver pronta.
O principal objetivo da universidade é transformar o local em um Centro de Formação em Excelência, de forma a atender a população do Distrito Federal de maneira democrática para formar atletas de alto rendimento.
Segundo o diretor do Centro Olímpico, o professor de educação física Alexandre Jackson, a instituição também buscará estreitar relação direta com a rede escolar do Distrito Federal, principalmente a pública, para oferecer acesso ao local por meio de projetos de extensão.
“A pista está entre as mais atualizadas do Brasil para receber competições internacionais. Não há um estádio, isso faz parte do plano estratégico para a criação de projetos para se desenvolver o atletismo da iniciação ao alto rendimento”, explica o diretor do CO. O professor afirma que a instituição de ensino conversou com a Federação de Atletismo do DF (FatDF) e com a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) para que o espaço tenha enfoque nas corridas de meio fundo e de fundo por causa da altitude de 1.172m da capital federal.
Quanto à formação de atletas para disputar as Olimpíadas, Alexandre Jackson avalia que somente Los Angeles-2028 ou mesmo Brisbane-2032 poderá receber corredores formados no espaço da universidade. Ele explica que são necessários, ao menos, dois ciclos olímpicos para sair da iniciação e chegar ao alto rendimento.
“O CT de Saltos Ornamentais é um exemplo do sucesso da parceria entre a confederação, o Estado brasileiro e a universidade pública. A triangulação foi fundamental para o sucesso (de Kawan) em Tóquio. Ele fez toda a formação e a lapidação na UnB. Esperamos que a pista de atletismo também seja referência. A expectativa é de que ela se transforme na casa do atletismo regional”, profetiza.
Lendas
João Carlos de Oliveira, que entrou para a história do esporte com a alcunha de João do Pulo, passou pela pista da UnB após o controverso pódio do atletismo nas Olimpíadas de Moscou-1980, à época, capital da antiga União Soviética. O brasileiro era o favorito a conquistar o ouro do salto triplo da edição dos Jogos. No entanto, a maioria das marcas do atleta foram desconsideradas pelos fiscais de prova, inclusive um salto acima de 18m, que seria o novo recorde e lhe renderia o título olímpico. Assim, o paulista ficou com o bronze e os dois saltadores anfitriões com a prata (Viktor Saneyev) e o ouro (Jaak Uudmae), respectivamente.
João do Pulo veio ao Distrito Federal no ano seguinte, em 1981, participar do Campeonato Brasileiro, na UnB. Um dos últimos torneios antes do acidente automobilístico que o tirou das pistas.
Antes da passagem de João do Pulo pela UnB, a pista da universidade lançou um atleta para o mundo. Cria de Taguatinga, Joaquim da Cruz competiu nos Jogos Escolares Brasileiros (JEB) realizados na instituição de ensino, em 1977 e em 1979. No início da carreira, o atleta treinou no Centro Olímpico (CO) até a mudança para os Estados Unidos, em 1981.
Em Los Angeles-1984, o brasiliense conquistou o ouro nos 800m. Em Seul-1988, voltou a subir no pódio com a prata pendurada no pescoço. Entre as duas edições, em 1986, o corredor retornou à capital federal e aproveitou para treinar novamente na pista da UnB. Cruz ainda ostenta um bronze do Mundial de 1983 e dois ouros em Pan-Americanos nos 1.500m.
* Estagiária sob supervisão de Marcos Paulo Lima
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