LIBERTADORES

Ídolo de duas "nações"

Aos 85 anos, Moacir é amado pelas torcidas dos dois clubes mais populares do Brasil e do Equador. Campeão da Copa de 1958 pela Seleção como jogador do Flamengo, ele vive em Guayaquil, onde deu troféu ao Barcelona

Marcos Paulo Lima
postado em 22/09/2021 00:29
 (crédito: Kleber Sales/CB/D.A Press)
(crédito: Kleber Sales/CB/D.A Press)

Adversários nas semifinais da Libertadores a partir de hoje, às 21h30, no Maracanã, Flamengo e Barcelona têm um ídolo em comum. Aos 85 anos completados em 19 de maio, Moacyr Claudino Pinto, o Moacir, vive no bairo Pancho Jacome, a 30km do centro de Guyaquil, com a companheira equatoriana Martha. Pai de três filhos, Jordan, Júnior e Claudet; e avô de três netos, o reserva de Didi na Copa de 1958 é um dos seis heróis vivos do primeiro título mundial do Brasil na Suécia — ao lado de Pelé, Zagallo, Pepe, Mazzola e Dino Sani.

Paulista, Moacir começou a carreira no Flamengo por acaso. Abandonado pela família aos cinco anos, morou em um orfanato em Osasco, na Grande São Paulo. Cresceu jogando bola e foi fazer testes no Rio. Aprovado no Flamengo, mudou de endereço: passou a morar no alojamento do clube carioca, na Gávea. Evoluiu no time nos anos 1950 ao lado de nomes como Joel, Dida, Zagallo e Evaristo de Macedo. Mais do que isso: convenceu o técnico Vicente Feola a convocá-lo para a Copa de 1958. Inscrito com a camisa 13, era reserva de Didi.

De passagem por Brasília em 2008 nas comemorações dos 50 anos do título de 1958, Moacir revelou uma tristeza enquanto era homenageado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto. “Todo mundo do ataque jogou naquela Copa, menos eu e o Pepe, mas estou aqui sendo homenageado por você, não posso reclamar”, disse.

Moacir era um dos quatro jogadores rubro-negros naquela Copa ao lado do titular Zagallo e dos também suplentes Joel e Dida. Três anos depois da conquista inédita na Suécia, Moacir ganhou seu maior título com a camisa do Flamengo: o Torneio Rio-São Paulo de 1961. Extinta, a respeitada competição regional tinha altíssimo nível à época. A trupe carioca derrotou o Corinthians na final por 2 x 0 com gols de Joel e de Dida sob o comando do técnico paraguaio Fleitas Solich.

O meia jogou no Flamengo de 1956 a 1962. Depois disso, arrumou as malas para aventuras em clubes de ponta do futebol argentino e no uruguaio. Defendeu River Plate e o Peñarol — onde foi campeão nacional em 1962. Embarcou rumo a Guayquil na reta final da carreira para assinar contrato com o Everest e por lá ficou de 1963 a 1970 para encerrar a carreira no Barcelona.

Fundado em 1925, o time de Guayaquil é o mais popular do Equador. Moacir entrou para a história ao levá-lo ao tri nacional no Campeonato Equatoriano de 1966. Feliz no Equador, uniu-se à companheira Martha, radicou-se em Quito e vive lá há 60 anos. Inclusive, foi técnico das divisões de base do Barcelona.

Em novembro de 2019, Moacir, então com 83 anos, falou sobre o encantamento com o Flamengo antes da decisão da Libertadores contra o River Plate. Questionado para quem torceria na decisão depois de ter vestido a camisa dos dois clubes, não pensou duas vezes. “Eu adoro o River, como gosto do Peñarol, do Barcelona de Guayaquil, do Everest... mas sou Flamengo, entendeu? Claro que vou torcer para o meu Flamengo”, disse à Agência Estado.

Com a exigência de quem jogou com Pelé, Garrincha, Vavá, Didi, Dida e outros craques, Moacir disse até que tem um ídolo no atual elenco do Flamengo antes da final de 2019. “Gosto daquele menino que tem o cabelo pintado. O artilheiro: Gabriel”.

Se mantiver a lógica da decisão da Libertadores, Moacir apoiará o Flamengo hoje à noite no duelo com o Barcelona. Ídolo das duas nações, ele já tem pelo menos um time para torcer na final contra Atlético-MG ou Palmeiras, em 27 de novembro, no Centenário, em Montevidéu.

Times

A maior novidade do Flamengo na partida de hoje é a volta da torcida ao Maracanã. Depois de mandar as partidas das oitavas e das quartas em Brasília contra Defensa y Justicia e Olimpia, respectivamente, a diretoria desistiu de jogar no Mané Garrincha depois que a prefeitura do Rio liberou 50% da capacidade do Maracanã para o duelo de hoje contra o Barcelona de Guayaquil.

Até o início da noite de ontem, o Flamengo contabilizava 21 mil ingressos vendidos para a partida. A carga total, incluindo cortesias e gratuidades, é de 35.045 bilhetes. Cerca de 29 mil entradas foram colocadas à venda.

A principal novidade entre os inscritos para as semifinais é o zagueiro David Luiz. Ele está inscrito e pode até estrear hoje à noite. A tendência é de que Rodrigo Caio e Léo Pereira comecem a partida e o reforço entre em campo durante a partida se o placar estiver favorável, mas quem aposte na entrada dele desde o início. O beque treinava sozinho antes de fechar com o Flamengo, mas não disputa partida oficial desde 2 de maio deste ano na vitória do Arsenal por 2 x 0 contra o Newcastle pela Premier League, o Campeonato Inglês.

Renato Gaúcho faz suspense em outras posições. Além da dúvida entre Léo Pereira e David Luiz, esconde o jogo sobre a volta de Diego ao meio de campo ou a permanência de Andres Pereira e conta com pelo menos dois desfalques de peso. O lateral-esquerdo Filipe Luís e o meia Arrascaeta estão vetados pelo departamento médico. Renê e Vitinho serão os substitutos, respectivamente.

O Barcelona passou em primeiro na fase de grupos contra Boca Juniors, Santos e The Strongest. Eliminou Vélez Sarsfield e Fluminense no mata-mata. Humilde na entrevista de ontem, falou em evitar que o Flamengo decida a semi no primeiro jogo. “A diferença econômica é enorme, o Flamengo é o mais poderoso do continente, não é fácil, é complexo, mas tentaremos ser competitivos”, afirmou.

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