RETROCESSO

Conselho do Sport decide não punir Koury por homofobia contra Gil do Vigor

Anúncio da impunidade do conselheiro causou revolta nas redes sociais. Ex-BBB e pós-doutorando diz que o assunto ainda o "machuca"

Talita de Souza
postado em 10/11/2021 22:41
Gil foi ofendido por conselheiro do time em áudio vazado após visitar a Ilha do Retiro, onde o clube joga -  (crédito: Anderson Stevens/Sport)
Gil foi ofendido por conselheiro do time em áudio vazado após visitar a Ilha do Retiro, onde o clube joga - (crédito: Anderson Stevens/Sport)

O episódio de homofobia cometido pelo conselheiro do Sport Flávio Koury contra o ex-BBB Gilberto Nogueira, em 14 de maio, ganhou um novo capítulo lamentável e que gerou revolta nas redes sociais. Na noite da terça-feira (9/11), o Conselho Deliberativo do time decidiu não punir Koury, que disparou ofensas homofóbicas contra Gil em um áudio vazado por outro conselheiro, Romero Albuquerque, que pedia a expulsão do homem.

“Isso é uma desmoralização. É a depravação! As pessoas acham que o Sport só tem viado, só tem bicha”, esbravejou o conselheiro no registro em áudio ao citar um vídeo em que Gil dança no estádio do time. “Se ele tivesse feito essa dancinha na casa dele ou no bordel, eu não estava nem aí. Foi dentro da Ilha do Retiro, né rapaz? Isso é o retrato do que o PT deixou pra gente. É exatamente isso", completou Koury.

O áudio vazou dias após o pós-doutorando visitar a Ilha do Retiro, casa do Sport, a convite do time pernambucano, para prestar uma homenagem a Gil. Na época, com a pressão das redes sociais, o clube se posicionou contra a homofobia em nota e criou diversas ações para reparar a atitude deplorável de Koury.

Uma das atitudes foi a venda das camisas do time com o sobrenome artístico de Gil, “Do Vigor”, abaixo dos nomes dos jogadores. O valor das vendas foi doado ao Instituto Boa Vista, uma ONG de pautas LGBT. Na final do campeonato, o clube usou a braçadeira com as cores da bandeira LGBTQIA+.

Com a disposição do clube para se retratar, o público fã de Gil do Vigor e contrários à homofobia achavam que a punição de Koury era certa. Por este motivo, a notícia de que o homem receberia apenas uma advertência tumultuou as redes sociais e levou a frase “Que vergonha, Sport” para os assuntos mais comentados do Twitter.

“Do que adianta Sport, no Instagram vocês prezam a diversidade e não toleram o preconceito, se na prática o homofóbico não é devidamente punido? Se o futebol veste todas as cores, a vermelha é o sangue derramado da comunidade lgbtqia+ todos os dias?”, frisou uma usuária.

“Essa passada de pano do Sport foi ridícula, ano que vem nos lembraremos quando inventarem vestir a máscara pra pegar Pink money”, disse outro perfil. Outro usuário ressaltou que nem mesmo a popularidade de Gil do Vigor impediu a impunidade no caso de homofobia e previu que os anônimos devem sofrer casos piores.

"Não deu em nada sendo com o Gil, uma pessoa pública, com muito espaço e muita voz. Imaginem pelo que passam os anônimos. Homofobia é crime e nada acontece com o criminoso. QUE VERGONHA SPORT”, citou.

Os seguidores de Gil também lembraram que o clube ganhou destaque e notoriedade positiva após as ações de reparação feitas com Gil, e agora se mostrou incapaz de punir, devidamente, o responsável pela homofobia.

“Interessante que o sport club do recife, soube aproveitar a imagem do gil do vigor para o marketing, engajamento nas redes sociais. fazendo parecer que todos do sport são contra a homofobia. mas na hora de punir o homofóbico, agem de forma omissa, vexatória”, citou um perfil.


Impunidade, confusão e autoritarismo: reunião do Conselho acabou com expulsão de diretor de diversidade do clube

A decisão de absolver Koury de qualquer culpa rendeu um clima de tensão no Conselho Deliberativo do Sport. De acordo com o Globo Esporte, o presidente do Conselho, Pedro Lacerda, impediu a manifestação do diretor de diversidade do clube, Gabriel Augusto, e expulsou o homem do encontro.

A informação foi confirmada por Gabriel, que afirmou que Pedro disse que a reunião era secreta, aumentou o tom e começou a gritar ao mandar o diretor sair da sala.

Após a repercussão da não condenação de Koury, o perfil oficial do Sport publicou uma nota no Twitter em que assume ser a parte “executiva” do clube. O texto diz que não concorda com a decisão, mas que o Conselho tem “total liberdade para tomar suas decisões”, como “o Executivo também possui”.

“Nossa nação é composta por rostos de diversas identidades. Na hora do gol só enxergamos naquele abraço apertado um rubro-negro. Não temos como não reiterar a posição da presidência do Executivo do Sport Club do Recife de combate a qualquer ato de discriminação racial, social e gênero”, diz um trecho da nota.

“Divergimos da decisão da maioria do Conselho Deliberativo sobre este tema, mas reconhecemos que tem total soberania sobre as suas decisões, como rege o estatuto do Conselho”, pontua o clube.

O ex-BBB Gil do Vigor lamentou a decisão e diz que ainda “machuca” falar sobre o ocorrido. “É um assunto que me machuca ainda, me deixa mal, tô muito abalado ainda. Infelizmente fico triste pelo fato de ver que a homofobia continua sendo naturalizada”, disse.

“Obrigado à torcida, aos jogadores, mas infelizmente não senti o mesmo apoio de todas as instâncias, de pessoas que precisam aprender. Eu não vou me estender muito, não vou falar muito. Quem me conhece sabe da minha história e porque isso é tão doloroso pra mim”, concluiu.

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