As presenças de alguns atacantes de segundo escalão do futebol brasileiro na briga pela artilharia da Série A, como Michael (Flamengo), Gilberto (Bahia), Ytalo (Bragantino) e Yuri Alberto (Internacional) chama a atenção para um perfil específico: o jogador de temporada. Que vive de fases.
A era dos pontos corridos é cheia deles. Coloca na vitrine centroavantes de brilho fugaz como Dimba, artilheiro do Brasileirão de 2003 pelo Goiás. Um dos goleadores da Série A em 2016, William Pottker não voltou a ser o mesmo depois do sucesso na Ponte Preta.
Matador de 2013 pelo Athletico-PR, Éderson viveu o ápice naquela temporada e não voltou mais ao topo. Há outros casos mais atrás, como Keirrison (Coritiba), Josiel (Paraná) e Souza (Goiás). Outros não são homens gol, mas tiveram uma ótima fase aqui, outra acolá e oscilam. São os casos recentes de Marinho (Santos) e Michael (Flamengo).
Artilheiros do Brasileirão do ano passado com 18 gols vestindo as camisas do Internacional e do Red Bull Bragantino, respectivamente, Thiago Galhardo e Claudinho deram uma sumida do mapa de goleadores do Brasileirão deste ano. Vice com 17, Luciano, do São Paulo, também.
No ano passado, o desacreditado Luciano deu lugar a uma versão muito mais letal com a camisa tricolor. Recém-chegado no Morumbi, o atacante balançou as redes 18 vezes. Na mesma edição, Thiago Galhardo trocou o Ceará pelo Internacional. O investimento colorado no jogador foi correspondido de imediato com 17 gols no torneio.
Apesar dos excelentes números na temporada anterior, a dupla artilheira de 2020 não brilha como antes.
No São Paulo, Luciano soma dois gols na Série A deste ano. Um deles na última quarta-feira (17/11), no clássico contra o Palmeiras. O baixo desempenho passa pelas repetitivas lesões, além da mudança no comando técnico. O tricolor começou com o argentino Hernán Crespo. Agora, é liderado por Rogério Ceni. A concorrência ficou pesada com as chegadas dos argentinos Calleri e Rigoni.
Por outro lado, Galhardo, agora no Celta de Vigo, da Espanha, disputou 10 partidas no Velho Continente e não fez nenhum gol. A falta de confiança e de oportunidades na equipe principal comandada por Eduardo Coudet, justamente quem o fez brilhar no Brasil, são os principais fatores.
Goleador do último Brasileirão ao lado de Luciano, o meia Claudinho não repetiu as atuações da temporada passada antes de ser vendido ao Zenit São Petersburgo da Rússia. Na verdade, a conquista da medalha de ouro nos Jogos de Tóquio-2020 valorizaram ainda mais o jogador.
Ele foi vendido ao time russo por 12 milhões de euros. Por enquanto, tem quatro gols em 13 jogos na nova equipe. Galhardo e Claudinho chegaram a ser convocados por Tite para partidas das Eliminatórias para a Copa do Catar, mas dificilmente farão parte do grupo que irá ao Mundial do ano que vem. De fases
Personagens de outras edições
A queda de produtividade dos jogadores de temporada não é nada recente. O Brasileirão conta com outros personagens que brilharam em uma edição e, depois, deram aquela sumida. Em 2016, o centroavante Willian Potker defendia a Ponte Preta e foi um dos artilheiros do Brasileirão com 14 gols. No ano seguinte, foi negociado com o Internacional e não mais repetiu os feitos dos tempos de Macaca.
Em 2013, o Athletico-PR surpreendeu com a inspiração ofensiva de Éderson. À época, o camisa 9 balançou as redes 21 vezes e despontou como o goleador do Brasileirão. Na temporada seguinte, o centroavante marcou apenas um gol no torneio.
Se mergulharmos um pouco mais no túnel do tempo de artilheiros da primeira divisão, é possível lembrarmos de Josiel, goleador da edição 2007 do Brasileirão com 20 gols pelo Paraná. Ou da promessa Keirrison, destaque em 2008 com 21 bolas na rede. O jogador, inclusive, foi vendido ao Barcelona. Depois disso, ambos não retomaram o auge.
“O principal fator para a oscilação desses jogadores é a troca de treinadores, pois mudam ideias e dinâmicas de jogo. Isso é ainda mais agravado no Brasil, onde não se tem sequência de trabalhos e filosofias”, critica o analista de desempenho Plácido Júnior.
Bem me quer
Além dos goleadores de fase, há aqueles que se destacam pela habilidade e entrega em temporadas específicas. São os casos de Marinho, do Santos, e de Michael, do Flamengo.
Em 2020, o camisa 11 foi o principal nome do Peixe na campanha do vice-campeonato na Libertadores. O atacante anotou 24 gols e deu oito assistências. No entanto, em 2021 oscila na equipe que briga para se manter na elite nacional. Lesões e até desabafos contra o enfraquecimento do elenco e oportunidades de transferências desperdiçadas na época em que estava comendo a bola. Marinho acumula apenas 10 gols em 40 exibições na temporada. Evoluiu no Brasileirão, mas tem dois gols em sete partidas com a camisa alvinegra, um deles na última quarta-feira (17/11) contra a Chapecoense.
Em 2019, Michael foi eleito a revelação do Brasileirão pelo Goiás, mas na temporada seguinte, com a camisa do Flamengo, não correspondeu e virou alvo de críticas. Cogitou-se, inclusive, vendê-lo ou usá-lo como moeda de troca. No entanto, na atual temporada, o atacante recuperou-se e vem sendo o principal canal ofensivo rubro-negro em meio à onda de lesões no elenco. Michael iniciou a rodada com 13 gols — dois a mais dos que os 11 marcados pelo Goiás em 2019. A temporada atual é a mais goleadora da carreira dele.
“O Michael é o maior caso de recuperação de uma atleta na temporada. Agora, ele joga mais tempo do que com os treinadores anteriores. E, apesar de continuar errando, os acertos são maiores pelo tempo de jogo que ele vem recebendo. Ele pode chegar na final da Libertadores sendo o principal nome da equipe, por aquilo que vem jogando”, avalia o analista de desempenho Plácido Júnior.
Michael é uma maiores reviravoltas da temporada. No meio do ano, revelou que teve depressão e pensou até em suicídio, mas foi ajudado pelo clube rubro-negro.
*Estagiário sob a supervisão de Marcos Paulo Lima
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