Cinquenta tons de um bicampeão

Clube Atlético Mineiro encerra meio século de jejum com temporada quase perfeita: depois do título estadual e do bi nacional, Galo parte em busca da conquista da Copa do Brasil contra o xará Athletico-PR para consumar a inédita Tríplice Coroa

Correio Braziliense
postado em 03/12/2021 00:01
 (crédito: Internet)
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TÚLIO KAIZER

Enviado especial

Salvador — Durante muito tempo, o atleticano se acostumou com a tragédia. Foi forjado em injustiças históricas, cresceu na inquietude de quem vivera o pior. Sofreu por Reinaldo, Cerezo, Éder, Marques, Guilherme, Ronaldinho Gaúcho, Victor e tantos outros a quem viu se eternizarem na galeria de ídolos, mas o fizeram sem alcançar a glória que tinha o tamanho da espera de uma vida inteira. Chorou nas derrotas, enervou-se contra as arbitragens, os times rivais, o regulamento, a CBF, a televisão, o próprio destino... Mas jamais se rendeu. Afinal, quem ama não abandona. E o amor sempre foi maior que uma angústia de cinco décadas encerrada ontem, 2 de dezembro de 2021: o Clube Atlético Mineiro, enfim, é bicampeão brasileiro depois de virada épica por 3 x 2 contra o Bahia, na Arena Fonte Nova, em Salvador. A hegemonia do Flamengo, campeão em 2019 e 2020, acabou.

Há seis meses, a caminhada teve início tortuoso. A derrota em casa na estreia foi o princípio de uma série irregular. Aumentou os temores de uma torcida tão ferida. Mas, a exemplo da massa que o empurra, o elenco buscou forças para reagir. Do banco, Cuca — o libertador de 2013 — recolocou o barco no prumo. Na 15ª rodada, o time alcançou a liderança — e dali não saiu mais. Em 36 jogos, são 81 pontos — impressionantes 75% de aproveitamento.

O criticado Everson vingou Taffarel; Nathan Silva representou as gerações históricas de grandes jogadores formados na base; o capitão Junior Alonso repetiu Oldair; craque, Guilherme Arana fez o que ninguém espera de um lateral; Allan, Jair e Zaracho nunca se entregaram e foram quase atleticanos em campo; Nacho regeu a orquestra; Hulk viveu — e honrou — o que Reinaldo merecia ter vivido; Keno foi o herói e entrou para a eternidade.

A épica jornada dos heróis de 2021 foi coroada longe de casa, com o 3 x 2 na Fonte Nova. Do sofá de casa ou da mesa do bar, os atleticanos acompanharam tudo pela televisão. Talvez não tenha sido exatamente como nos melhores sonhos: com o time no Mineirão e as arquibancadas lotadas. Mas quem tanto espera não escolhe a hora. Aqui, agora, em Belo Horizonte ou na Bahia, a sonhada taça voltou a quem a conquistou pela primeira vez na era moderna.

Da cabeçada de Dadá até o chutaço de Keno contra o Bahia, foram 1445 partidas, mais de dois mil gols marcados e derrotas emblemáticas. O título escapou entre os dedos com cinco vices (1977, 1980, 1999, 2012 e 2015). Em outras 12 campanhas, o time alcançou terceiro ou quarto lugares amargos. A espera parecia não ter fim.
Acabou.

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