Do Afogados ao bi

Eliminações traumáticas em 2020 fizeram o clube mudar rumos e apostar em um modelo administrativo com auxílio diário do grupo de empresários intitulado "4 R's": como o Atlético mudou gestão para ser campeão brasileiro

João Vítor Marques
postado em 04/12/2021 00:01
 (crédito: Pedro Souza/Atletico)
(crédito: Pedro Souza/Atletico)

Belo Horizonte — No final de fevereiro de 2020, Sérgio Sette Câmara chamou Rubens Menin para uma reunião. O então presidente do Atlético estava preocupado. Afinal, iniciara o último ano do seu mandato de forma traumática. Em campo, o time tinha sido eliminado precocemente da Sul-Americana para o Unión e da Copa do Brasil para o modesto Afogados da Ingazeira. O encontro com o megaempresário era quase um pedido de socorro. Menos de dois anos depois, aquele time pouco competitivo deu lugar ao estrelado elenco bicampeão brasileiro.

A resposta ao pedido de ajuda veio de forma incisiva. Não foi apenas Rubens Menin que passou a fazer ainda mais parte da estrutura administrativa. Financiador de longa data do clube alvinegro, o dono da MRV Engenharia foi acompanhado do filho Rafael Menin e dos também empresários Ricardo Guimarães (Banco BMG) e Renato Salvador (Rede Mater Dei).

Juntos, o quarteto forma o grupo intitulado "4 R's". Ao longo de 2020, foram parte ativa na reformulação do grupo de jogadores, processo comandado pelo então diretor de futebol Alexandre Mattos. Em pouco tempo, saíram 19 jogadores e chegaram 11 — vários deles com auxílio financeiro dos empresários. Tudo isso passou, também, pelo aval do novo técnico, Jorge Sampaoli. A aposta era salvar o ano do time e iniciar a construção de um grupo poderoso para os anos seguintes.

Rapidamente, o comandante argentino conseguiu formar um time competitivo. Porém, os altos e baixos ao longo do Campeonato Brasileiro impediram a conquista do título. O Galo terminou na terceira colocação, com 68 pontos — a apenas três do campeão Flamengo. O sonho foi adiado, mas as esperanças aumentaram.

Em dezembro de 2020, Sérgio Sette Câmara deu lugar a Sérgio Coelho na presidência do Atlético. O recém-eleito mandatário foi indicado ao pleito justamente pelos 4 R's, que passaram a fazer oficialmente parte da estrutura administrativa alvinegra. Era formado o órgão colegiado, composto pelos empresários, o presidente e o vice José Murilo Procópio.

Esse passou a ser o fórum de discussão a respeito de todos os assuntos importantes ligados ao clube. A primeira mudança foi demitir Alexandre Mattos e substituí-lo por Rodrigo Caetano, reponsável por fechar algumas das principais contratações da temporada. No comando técnico, Sampaoli — que rumou para a Europa — deu lugar a um velho conhecido: Cuca, campeão da Copa Libertadores de 2013 pelo Atlético.

Em meio ao sufoco financeiro, o Atlético continuou contratando muito. Depois de reforçar bastante o time na temporada 2020, o clube passou a buscar reforços pontuais de acordo com carências identificadas no elenco. Nesse processo, chegou a acordos com estrelas internacionais, como o meia Nacho Fernández e os atacantes Diego Costa e Hulk. Foi o grande salto de qualidade necessário para rivalizar contra os ricos Flamengo e Palmeiras.

As aquisições ao elenco também tiveram, é claro, as participações financeiras dos empresários. Administrativamente, Renato Salvador e Rafael Menin são os mais próximos da diretoria de futebol e chegam, inclusive, a participar de negociações.

Na nova gestão, as mudanças não ficaram restritas ao planejamento do futebol. Os empresários têm voz na composição do organograma do clube e chegaram a indicar - e aprovar — nomes contratados para setores estratégicos. Mas a principal ação do grupo foi no trato com a dívida bilionária do Atlético.

Em abril, o clube realizou o "Galo Business Day", evento em que detalhou o tamanho do rombo nos cofres alvinegros e traçou metas para reduzí-lo consideravelmente em cinco anos. Na ocasião, a dívida era de R$ 1,209 bilhão — valor que aumentou ligeiramente nos meses seguintes. O plano é que o total caia para R$ 341 milhões em quatro temporadas, até 2026.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação