O capítulo final de uma igualdade

Empatados na liderança, Verstappen e Hamilton terão um duelo particular, hoje, no GP de Abu Dhabi. Com uma vitória a mais no ano, o holandês leva o título se eles não concluírem a prova nos Emirados Árabes Unidos

Claudio Fernandes Especial para o Correio
postado em 12/12/2021 00:01
 (crédito: Ilustrações: kleber sales)
(crédito: Ilustrações: kleber sales)

Dois pilotos rigorosamente empatados na liderança do Mundial de Fórmula 1 ficam lado a lado a mais de 250 quilômetros por hora na reta, logo na primeira volta do último GP do ano. Um deles joga o carro para cima do adversário, empurrando-o para a beira da pista. Se apenas um abandonar, o outro é campeão. Não, esta cena não é previsão de algum vidente para o GP de Abu Dhabi, prova que encerra o campeonato de 2021, hoje, às 10h.

O episódio contado no primeiro parágrafo ocorreu em 1974, no circuito de Watkins Glen, Estados Unidos. E foi descrito na autobiografia Emerson Fittipaldi — Uma vida em alta velocidade (Editora Objetiva). Assim como Lewis Hamilton e Max Verstappen agora, o brasileiro da McLaren e o suíço Clay Regazzoni, da Ferrari, duelaram pelo campeonato naquela ocasião. E Emerson, depois de passar o rival e chegar em quarto na corrida — Regazzoni foi 11° —, sagrou-se bicampeão do mundo.

Embora tenham semelhanças, os únicos anos em que dois pilotos foram com a mesma pontuação para decidir o título no último GP guardam, também, diferenças. Em 1974, Niki Lauda chegou a liderar o campeonato e Jody Scheckter tinha chances de título na prova final, ainda que remotas.

Neste 2021 espetacular, a temporada foi um duelo entre o heptacampeão Hamilton, 36 anos, e o jovem Verstappen, 24. Desde o início, os dois se destacaram do pelotão em uma batalha particular pelo título. Ao contrário dos quatros anos anteriores, em que o britânico reinou absoluto, conquistando os Mundiais antecipadamente, desta vez ele tinha um adversário à altura no holandês e sua Red Bull.

A tensão cresceu GP após GP. À bordo do RB16B, Verstappen se mostrou superior em boa parte do ano. Mas Hamilton e seu W12 recuperaram o terreno perdido em um incrível sprint final, com três vitórias seguidas — incluindo o fim de semana espetacular em Interlagos — para cortar a liderança do holandês a zero.

Assim, os dois chegam a Abu Dhabi com os mesmos 369,5 pontos, tendo protagonizado empolgantes e acirradas brigas dentro da pista. Logo na abertura do campeonato, no Bahrein, os rivais disputaram cabeça a cabeça a vitória. Hamilton ganhou, depois que Verstappen o ultrapassou e excedeu os limites da pista, sendo obrigado a devolver a posição. Foi só a primeira polêmica do ano.

Toma lá dá cá

Mesmo com o triunfo do holandês no GP seguinte, em Ímola, Hamilton conquistou vitórias em Portugal e na Espanha para chegar líder à quinta etapa do campeonato, em Mônaco. O sétimo lugar nas ruas do principado em dia de triunfo de Verstappen era o prenúncio de uma sequência complicada para o britânico.

Embora acirrada, a briga se mantinha respeitosa. Mas só até o GP da Inglaterra, décima etapa do Mundial. Logo na primeira volta, Hamilton tentou assumir a ponta, mas seu pneu dianteiro esquerdo tocou no traseiro direito de Verstappen na curva Copse. O holandês acabou na barreira de pneus em um forte acidente. O inglês até foi punido, mas ganhou a prova com penalização e tudo.

A partir desse incidente, a temporada mudou de vez. A batalha na pista se intensificou e impulsionou também a tensão fora dela, com declarações apimentadas de Toto Wolff, na Mercedes, e Christian Horner e Helmut Marko, na Red Bull. Cada um, claro, defendendo seu próprio piloto.

A rivalidade entre Hamilton e Verstappen se inflamou novamente na Itália, 14° GP de 2021. Na primeira chicane do circuito de Monza, o piloto da Red Bull tentou a ultrapassagem por fora, tocou na roda da Mercedes e acabou com o carro sobre o do inglês. Dessa vez, Verstappen foi considerado o culpado.

Combustível a mais

Mas o ápice ainda estava por vir. Depois de vitórias nos Estados Unidos e no México, o campeonato desembarcou em São Paulo com o holandês 19 pontos à frente de Hamilton. Começaria, então, a escalada do britânico.

Em um dos fins de semana mais espetaculares de um piloto na história da F-1, Hamilton acabou desclassificado do treino que definiu o grid da corrida sprint por conta de uma irregularidade na asa. Largando em 20°, terminou em quinto após 24 voltas no sábado.

No dia seguinte, partiu de décimo — perdera cinco posições com a troca de uma peça do motor — e venceu. Nem a "espalhada" questionável de Verstappen, na 48° volta, impediu o triunfo.

Hamilton voltou a vencer no Catar e na Arábia Saudita, onde mais polêmica foi adicionada à já controversa disputa. Foi em Jeddah que Verstappen aplicou um suposto "break test" no britânico, reduzindo bruscamente a velocidade na reta quando deveria entregar a posição ao rival. O inglês acabou tocando a traseira da Red Bull e ficou com a asa dianteira danificada, o que não o impediu de subir no degrau mais alto do pódio.

E chegamos aos Emirados Árabes Unidos. Na conferência de imprensa para o GP de Abu Dhabi, na última quinta-feira, Hamilton e Verstappen ficaram lado a lado para responder às perguntas. Entre eles, o troféu de campeão mundial. 

Questionado como se sentirá se conquistar a taça após uma colisão com o britânico, o holandês disse que não pensa nessas coisas. "Você vai para um fim de semana e quer fazer o seu melhor, como equipe. E, claro, você tenta vencer a corrida. Mas, naturalmente, a mídia começa a falar essas coisas, então, eu não tenho muito o que comentar sobre isso", afirmou.

Por sua vez, Hamilton ressaltou que não pode controlar o que acontece à sua volta e disse não gastar energia pensando se o campeonato será decidido de forma justa. "Estou aqui para fazer o melhor trabalho que eu puder com esse time incrível. Nós nunca imaginamos que estaríamos pescoço a pescoço nessa última corrida. Tivemos uma recuperação incrível, coletivamente, e estivemos em uma ótima posição nas últimas corridas. E seguimos com esse mesmo foco", destacou.

Polêmicas e preferências à parte, quem quer que entre na história como o campeão de 2021 terá superado um adversário brilhante. Melhor para nós, espectadores apaixonados por velocidade.

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