Fórmula 1

Milagres acontecem

Max Verstappen ultrapassa Lewis Hamilton na volta final no GP de Abu Dhabi e leva título inédito

Correio Braziliense
postado em 13/12/2021 00:01
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

A hegemonia de Lewis Hamilton na Fórmula 1 chegou ao fim, ontem, em uma corrida inacreditável. Max Verstappen largou em primeiro no GP de Abu Dhabi e foi ultrapassado pelo rival na reta inicial do Circuito de Yas Marina, mas voltou para a ponta na última volta, graças a um acidente de Nicholas Latifi, que obrigou o Safety Car a entrar na pista e diminuiu a vantagem do inglês. Diante do desfecho absurdo, o holandês venceu o primeiro título da carreira e impediu o octacampeonato do britânico, campeão quatro vezes seguidas nos quatro anos anteriores.

O último a vencer antes do tetra de Hamilton foi Nico Rosberg, em 2016, na época correndo pela Mercedes, que, neste final de semana, teve de se contentar apenas com o título de construtores, o oitavo seguido, com Hamilton em segundo lugar da classificação geral e Valtteri Bottas em terceiro. A Red Bull, radiante com a conquista de Verstappen, mantém o jejum de títulos de equipe iniciado após 2013, quando Sebastian Vettel foi campeão. A vitória do holandês, contudo, voltou a levar um piloto do time austríaco para o topo do pódio.

O título inédito encerra uma das temporadas mais disputadas da história da Fórmula 1. Tanto Verstappen quanto Hamilton chegaram à última corrida com 369,5 pontos, mas o holandês, pole position na grande decisão, estava na frente por vantagem no número de vitórias, critério que só faria diferença na final caso os dois saíssem da pista. Ele terminou a temporada com 395,5 pontos, oito a mais que Hamilton.

Segundo do grid, Hamilton fez uma largada incrível e ultrapassou o pole Verstappen na reta. Aperreado, o piloto da Red Bull tentou dar o troco imediatamente e chegou a tocar o rival, que saiu da pista, mas conseguiu voltar à frente. Os comissários interpretaram que o inglês saiu do traçado porque Verstappen o empurrou para fora, ponto de vista que indignou o holandês, que caiu para a quinta colocação 14 voltas depois, após parar nos boxes.

A quarta colocação foi tomada com facilidade após ultrapassagem sobre Lando Norris. Hamilton, quando parou, voltou em segundo, atrás apenas de Sérgio Perez, preparado para se defender e ajudar o parceiro da Red Bull. Verstappen voltou para a disputa direta com Hamilton no momento em que conseguiu ultrapassar o então terceiro colocado, Carlos Sainz, na volta 18. Posicionado entre os dois pilotos da Red Bull, o britânico começou a travar uma batalha tensa contra Perez, que se segurou com muito afinco e ajudou Verstappen a diminuir a diferença para o rival.

O mexicano chegou a ser ultrapassado, mas voltou para a ponta em uma disputa emocionante. Após atrapalhar a vida de Hamilton o máximo que pôde, de forma limpa, ele não resistiu e acabou ultrapassado pela estrela da Mercedes. Assim que isso aconteceu, Perez foi para os boxes, e Verstappen assumiu a segunda colocação, dependendo apenas de si para alcançar o primeiro lugar.

Enquanto o clima esquentava na frente, uma despedida melancólica se desenhava mais para trás. Na volta 27, Kimi Raikonen, que anunciou a aposentadoria nesta temporada, teve problemas nos freios e sofreu uma batida leve, porém suficiente para tirá-lo da prova. Assim, o finlandês de 42 anos, campeão de 2007, se despediu da Fórmula 1.

O tipo de ajuda que Perez deu a Verstappen não foi dada a Hamilton pelo parceiro Valtteri Bottas, que brigava em posições mais baixas desde a largada. De qualquer forma, com a primeira colocação, restava a Hamilton se proteger, enquanto Verstappen diminuía o tempo o quanto podia.

Na 52ª volta, a diferença entre os dois era de 11s615. Então, Nicholas Latifi bateu no setor 3 e obrigou a entrada do Safety Car na pista. O holandês foi para os boxes colocar pneus macios na volta seguinte, na intenção de ir para o tudo ou nada, pois a vantagem de Hamilton seria menor assim que o Safety saísse da pista.

Existiu o receio de que não houvesse tempo, mas o carro de segurança saiu da pista na volta final. A tensão se estabeleceu por todo o Circuito de Yas Marina, enquanto Verstappen partia para o ataque e Hamilton se defendia, até o holandês tomar a ponta, para o desespero do rival, que abriu a asa móvel, mas não conseguiu mais alcançar. O acaso do acidente de Latifi deu um final absurdo a uma temporada incrível e Verstappen fez história.

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Celebração e rivalidade

 (crédito:  AFP)
crédito: AFP

Perder a primeira colocação na largada e recuperá-la apenas na última volta fez com que Max Verstappen elegesse a palavra "insano" como a única capaz de chegar perto de explicar a corrida histórica no GP de Yas Marina, onde finalmente triunfou absoluto sobre um rival que deu muito trabalho.

"É insano. Quando eu era pequeno, meu objetivo era chegar à Fórmula 1. Quando você chega aqui e falam que você é campeão do mundo, é uma coisa incrível. Tudo volta à cabeça, as viagens, a dedicação para acontecer. Chegar na última volta... Meus amigos da época do kart, minha família, estão quase todos aqui. Foi inacreditável. Ver todo esse apoio por toda a minha carreira. Espero poder fazer isso por muito tempo na Fórmula 1", comentou o piloto da Red Bull.

A pouca idade é um dos fatores que colocam o holandês em prateleiras especiais da história. Com o título deste final de semana, ele se tornou o quarto campeão mais jovem da história, com 24 anos e dois meses de vida. Ele está atrás apenas do alemão Sebastian Vettel (23 anos), do próprio Hamilton (23) e do espanhol Fernando Alonso (24).

Nesse aspecto da rivalidade, ele não conseguiu superar Hamilton, mas, certamente, o título significa muito mais, até porque ele ainda tem muito tempo para tentar bater marcas do heptacampeão, que tem hoje 36 anos. O certo é que os dois protagonizaram uma rivalidade icônica durante toda a temporada. A postura de Verstappen em muitos embates contra o piloto do Reino Unido chamou a atenção.

Do acidente no GP de Monza, quando seu carro subiu na Mercedes do rival, à polêmica "espalhada" em São Paulo e à caótica corrida da Arábia Saudita, o holandês colecionou problemas na relação com o adversário, inclusive em Abu Dhabi, quando tentou retomar a primeira colocação e tocou o carro dele. Tudo isso, contudo, foi amenizado diante da grande conquista.

"Claro que fiquei nervoso. É uma corrida que você quer ir bem, mas durante toda a corrida tentei acelerar o máximo que dava. Às vezes, um milagre acontece. Lewis é um piloto incrível, um competidor incrível. Ele fez nossa vida muito difícil. Claro que tivemos horas duras um contra o outro, mas faz parte do esporte esse emocional. Ano que vem estaremos de volta e vamos tentar fazer tudo de novo", disse o jovem piloto.

A perda do oitavo título mundial da Fórmula 1 na última volta para Max Verstappen não abalou a elegância de Lewis Hamilton. O piloto da Mercedes cumprimentou o rival e elogiou seu trabalho, além de destacar a determinação de sua equipe durante toda a temporada.

"Em primeiro lugar, eu preciso dar os parabéns ao Max e à sua equipe. Eles fizeram um excelente trabalho. Minha equipe, todos da fábrica e todos que estiveram aqui trabalharam tão duro este ano todo, foi uma temporada muito difícil, mas estou orgulhoso de todos eles, sinto-me honrado de poder fazer parte desta jornada com eles", disse o britânico, que deslumbrou um novo confronto em 2022.

"Nós demos tudo, especialmente nesta última parte da temporada e acho que isso é o mais importante para mim. Tenho me sentindo bem no carro, especialmente nestes últimos dois meses. Então, veremos o que vai acontecer no ano que vem", completou o piloto, que vai completar 37 anos no próximo dia 7.

Único a usar máscara no pódio, Hamilton aproveitou para deixar uma mensagem. "Ainda vivemos numa pandemia e só desejo que toda a gente esteja segura e tenha um bom Natal com as suas famílias. Veremos como será o próximo ano."

Destino familiar concretizado

Nascido para vencer na Fórmula 1, o holandês Max Verstappen cumpriu a missão aos 24 anos, sagrando-se campeão mundial de Fórmula 1 pela primeira vez ontem, destino que seus pais, ambos pilotos, haviam começado a traçar.

"A família inteira viveu para as corridas, então, acho que a pessoa que Max é e o que ele conquista neste momento é algo natural", disse o empresário Raymond Vermeulen, que sabe do que está falando.

Ele estava associado ao pai, o holandês Jos Verstappen, que disputou 107 corridas entre 1994 e 2003, com dois pódios no primeiro ano. A mãe, Sophie Kumpen, era parceira de outro campeão mundial de Fórmula 1, Jenson Button, no karting. A belga era "uma piloto fantástica, muito rápida", lembrou o empresário no podcast da F1.

Nada surpreendente porque Max — sempre à frente da sua idade, segundo o empresário — se tornou o mais jovem piloto a largar em um Grande Prêmio, em 2015, aos 17 anos, 5 meses e 15 dias, vestindo as cores da Toro Rosso.

Em seguida, ele foi o mais jovem vencedor, no GP da Espanha, em 2016, aos 18 anos, 7 meses e 15 dias, na primeira temporada com a Red Bull.

Esta temporada foi a primeira em que sua equipe lhe forneceu um carro capaz de rivalizar com o Mercedes do heptacampeão mundial Hamilton. Insolente no início, o impetuoso Max aprendeu a domar o temperamento na pista, mostrando desde o ano passado uma maior capacidade de reflexão e simpatia.

Maturidade

Longe daquela versão que colidiu inutilmente com Esteban Ocon, no GP do Brasil 2018, antes de empurrar o francês diante das câmeras, ou ameaçar a mídia quando lhe perguntavam sobre erros no Canadá naquele mesmo ano.

Ele continua sendo um piloto que não deixa nada para trás, como pode ser visto nas batalhas com Hamilton neste ano; na Grã-Bretanha, na Itália e no Brasil. É preciso dizer que o holandês teve um bom professor: o pai dele, Jos, nunca foi o homem mais simpático do 'paddock'. Mas, agora, 'Mad Max' é o líder indiscutível de uma equipe ambiciosa como a Red Bull.

"Ele simplesmente ganhou em maturidade. Ele tem mais experiência na Fórmula 1 e na vida, está muito confortável, está bem na equipe, com confiança, e é isso que ele sente", disse o chefe Christian Horner, no ano passado.

Uma maturidade que se traduziu em resultados, com dois terceiros lugares no Mundo, em 2019 e 2020, o melhor resultado possível atrás da intocável Mercedes.

Fiel a alguns de seus costumes, Verstappen não deu muitos detalhes no ano passado sobre sua mudança. "Acho que você cresce a cada ano, progride, mas também aprende a conhecer melhor sua equipe. Pode parecer que estou falando sério ou algo assim, mas sou divertido, espero", disse.

FIA rejeita protestos da Mercedes

A FIA (Federação Internacional de Automobilismo) rejeitou os protestos realizados pela escuderia Mercedes sobre as decisões da direção da prova de Abu Dhabi e uma possível ultrapassagem de Max Verstappen sobre Lewis Hamilton, quando a prova ainda estava sob bandeira amarela, com a presença do safety car na pista.

Com a decisão, o título da temporada 2021 da Fórmula 1 continua com o holandês Max Verstappen. As duas reclamações foram protocoladas pela equipe alemã após o término da prova, que deu o troféu ao piloto da Red Bull.

A primeira das reclamações da Mercedes a ser rejeitada foi sobre uma possível ultrapassagem de Max Verstappen sobre Lewis Hamilton quando a corrida ainda contava com bandeira amarela, com o safety car na pista. De fato, o carro do holandês se colocou à frente do vice-campeão, porém não foi considerado que houve vantagem, uma vez que na relargada todos obedeceram às suas posições.A Red Bull argumentou que há "um milhão" de precedentes sobre este caso e que os carros estavam somente acelerando, em um procedimento comum antes de uma relargada.

Logo em seguida, veio outra decisão da FIA, novamente rejeitando as declarações da Mercedes. O segundo questionamento fazia referência à decisão da prova de permitir que apenas alguns retardatários (os que estavam entre Hamilton e Verstappen) passassem o safety car e ficassem na mesma volta do líder. Nesta situação, o protesto não fazia referência ao campeão Max Verstappen, mas atingia diretamente os comissários da prova que tomaram a decisão.

A presença desses retardatários entre os dois líderes da prova atrasaria uma possível chegada do holandês a Hamilton, dando mais segurança para o britânico conduzir seu carro rumo à vitória em Abu Dhabi e ao seu oitavo título mundial. Com a decisão do comando da prova, Verstappen pôde se colocar lado a lado com o heptacampeão e, com pneus mais novos, efetuar a ultrapassagem na última volta e confirmar o primeiro título.

O argumento utilizado pela direção da prova para rejeitar o protesto foi que a presença daqueles cinco carros (Lando Norris, Fernando Alonso, Esteban Ocon, Charles Leclerc e Sebastian Vettel) interferiria diretamente na luta pela vitória e que, conforme decisão das próprias equipes, há um esforço comum para que as corridas terminem sob bandeira verde.

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