Ginástica Rítimica

A nova geração pulsa

Na cadência da adolescente Ana Luísa Passos Neiva, de 17 anos, DF vira uma das potências do Brasil na formação de talentos da modalidade e vislumbra emplacar a principal referência da capital nos Jogos Olímpicos de Paris-2024

Júlia Mano*
postado em 23/12/2021 00:01
 (crédito:  Mônica Rodrigues/Cecomsaer)
(crédito: Mônica Rodrigues/Cecomsaer)

A capital federal, centro das decisões políticas do país, caminha para se tornar, também, o berço da ginástica rítmica do Brasil. O nome do momento é Ana Luísa Passos Neiva, de 17 anos. Recentemente, a atleta estreou no Mundial adulto, conquistou cinco medalhas no Sul-americano e trabalha para ir aos Jogos Olímpicos de Paris-2024. Há outras grandes promessas saindo do forno no quadradinho. Elas se concentram no Clube de Associados Suboficiais e Sargentos da Aeronáutica de Brasília (Cassab), como a pequena Mariana Freitas, 10.

O projeto do clube começou em 2013 sob o comando da treinadora Kely Espínola e da professora Adriana Andrade. Ambas resolveram montar escolinhas em diferentes locais do Distrito Federal para captar crianças talentosas para a modalidade. Foi assim que Ana Luísa chegou ao Cassab.

Promessa do Distrito Federal, a atleta começou a praticar ginástica rítmica na própria escola, aos três anos. Com oito, participou da primeira competição local na categoria mirim. Bastou um ano para Ana Luísa deslanchar e chegar aos torneios Regional e Nacional, aos nove. Em 2018, conquistou o título juvenil geral no Campeonato Brasileiro. A conquista foi importante para que, em 2019, pudesse participar da seletiva que a classificou para o Sul-americano, o Pan-americano e a primeira edição da história do Mundial juvenil.

Ana Luísa também exerce um importante papel no clube: é referência para as meninas mais novas. Uma delas é Mariana Freitas. A pequena começou no esporte aos seis anos e participou dos primeiros torneios neste ano, aos 10. A estreia no mundo das competições foi dourada. Sagrou-se campeã do Campeonato Brasiliense. O evento serviu de seletiva para o Regional. A jovem atleta fechou o ano na 15ª posição no Torneio Nacional.

Para dar suporte ao desenvolvimento da pequena no esporte, os pais de Mariana fizeram rifas, venderam brownie, água e dindim. O maior sonho da atleta é chegar às Olimpíadas. O pai, Tiago Lima, acredita que Los Angeles-2028 ou Brisbane-2032 pode ser uma realidade, mas depende do esforço da brasiliense e dos resultados somados ao avanço do esporte no Brasil nos próximos anos.

"Infelizmente, é um esporte que tem pouca visibilidade, aporte e incentivo no nosso país, tanto que, na última Olimpíada (Tóquio-2020), não tivemos nenhuma representante individual, somente o conjunto, que foi muito bem. No Mundial, as meninas foram muito bem também. A gente vê que o esporte cresce gradativamente", comenta Tiago.

A curitibana Bárbara Domingos colocou o Brasil, pela primeira vez, na final do individual geral do Mundial. Para a treinadora Kely, os resultados das brasileiras no torneio são significativos para o país conquistar o seu espaço no esporte. A modalidade é dominada por países do Leste Europeu. No entanto, a comandante das meninas do Cassab pondera que, mesmo com as dificuldades para conseguir apoio em Brasília devido ao alto custo da modalidade, a capital federal, aos poucos, avança no cenário nacional e internacional.

"Brasília é um celeiro de talentos, mas o que realmente precisamos é que os olhos tanto dos nossos governantes, como dos nossos empresários estejam voltados realmente para a base. É com investimento na iniciação que se consegue alcançar resultados como esse da Ana Luíza", avalia Kely.

Entrevista // Ana Luisa

O que te despertou interesse no esporte?

É um esporte muito bonito, né. Eu comecei porque a minha irmã fazia na escola. Quando eu a vi fazendo, quis entrar também, mas acho que a ginástica rítmica encanta muito, os aparelhos, os collants, as roupas, as maquiagens, tudo isso. 

E quando veio o sonho de se tornar uma atleta profissional?

Quando eu entrei, era só hobby e brincadeira. Sempre sonhei em chegar na Seleção e ir às Olimpíadas, mas nunca imaginei que seria possível, principalmente, chegar na Seleção individual.

Como a sua família buscou te dar suporte?

Isso foi fundamental. Eles sempre me deram suporte, principalmente financeiro, e foi graças a eles que eu consegui chegar até aqui. A ginástica é um esporte muito caro. Todas as viagens do começo foram eles que pagaram, os collants, os aparelhos, competição. Enfim, tudo. Eles me deram muito apoio emocional também. 

Que oportunidades o esporte te proporcionou?

Nossa, muitas. Viajar para países que eu nunca imaginei, como Japão, Rússia, Bulgária, foram experiências inesquecíveis. Conhecer pessoas diferentes, porque são as amizades que realmente ficam.

Você enfrentou alguma dificuldade para praticar o esporte?

Tem as dificuldades diárias. O dia a dia é muito desgastante. Tem que abrir mão de várias coisas para estar sempre no ginásio treinando. Também tem a financeira, os meus pais abriram mão de tudo para me dar suporte.

Você notou alguma transformação na ginástica rítmica do Distrito Federal?

Principalmente por conta da tecnologia. Agora, temos acesso mais fácil às informações e às redes sociais das competições, aos vídeos. Cursos on-line também, que aumentaram a oferta por conta da pandemia (a técnica Kely acrescenta as facilidade para trocar experiências com técnicos estrangeiros). 

Também há trocas com atletas de fora?

Com atletas também. Técnicos e atletas. Houve vários cursos durante a pandemia, mas teve um em especial que foi com a Daria Trubnikova, da Rússia, um país referência no esporte. 

O que você tirou de aprendizado desses campeonatos?

Eu acho que, em 2019, que foi quando eu consegui participar do Mundial, foi poder ver as ginastas de fora. Tive contato com as melhores atletas do mundo e vi como elas treinam. Foi uma experiência incrível! Também tem os aprendizados de quando cometemos erros. O que podemos melhorar, o que avançamos de uma competição para outra. Cada torneio é um crescimento. Então, essas experiências, como conhecer as pessoas e treinar no melhor ginásio do mundo, que é o da Rússia, foram importantes para mim. 

De que forma você acredita que as suas participações nessas grandes competições podem influenciar outras brasilienses a seguirem na modalidade?

Acho que as ginastas vendo e tendo alguém como referência assim é muito importante para elas verem que dá para chegar. Ter essa meta de: quero alcançar o que ela conseguiu e ainda mais coisas é muito importante. 

Você teve esse referencial?

As meninas do Cassab. Eu sempre me inspirei nas mais velhas, quando tinha a Isabella Souza e a Vic. Era nelas que eu me inspirava. 

Quais são os seus planos?

Eu pretendo continuar na ginástica. Talvez fazer uma faculdade de educação física, algo ligado ao esporte mesmo. 

Como está a expectativa para Paris-2024?

Acho que é continuar a trabalhar muito, mais ainda, e manter o foco para dar tudo certo, se Deus quiser.

*Estagiária sob a supervisão de Marcos Paulo Lima

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