Palmeiras

Abel, o bem-amado

Jogadores, funcionários, dirigentes e pessoas do entorno do português explicam como o técnico campeão da Copa do Brasil e bi da Libertadores conquistou o respeito no clube paulista

Correio Braziliense
postado em 26/12/2021 00:01
 (crédito: RICARDO MORAES/AFP)
(crédito: RICARDO MORAES/AFP)

Como boa parte dos times brasileiros, o Palmeiras passou os últimos anos trocando de técnicos, à deriva sobre que perfil de comandante escolheria. Sugerido por empresários ao ex-presidente Maurício Galiotte, Abel Ferreira chegou em outubro de 2020 e mudou esse cenário. O vitorioso treinador, já entre os maiores da história do clube, começou e terminou uma temporada no comando palmeirense, algo raro neste século, e dará início a mais uma jornada à frente do tricampeão continental depois de conduzir a equipe a três títulos em pouco mais de um ano.

Mas como, para além dos troféus, o português de 43 anos — completados na última quarta — conhecido pelas suas estratégias, declarações sinceras e bordões, se tornou um profissional tão prestigiado a ponto de o Palmeiras, agora presidido por Leila Pereira, não medir esforços para mantê-lo no cargo e lhe pagar um dos salários mais altos do futebol brasileiro?

Jogadores, funcionários, dirigentes do Palmeiras e pessoas do entorno de Abel foram ouvidos pela reportagem para entender como o português se comporta no dia a dia e o que faz dele - além dos títulos - um treinador tão respeitado, valorizado e querido no clube. Seu contrato, aliás, será ampliado por um ano e ele terá um aumento significativo. Ele fez a grande reflexão que prometera depois de um ano desgastante e decidiu continuar seu trabalho.

Eles foram unânimes em dizer que, em relação ao jogo, sobressaem a inteligência, dedicação e o desejo de vencer do luso. Fora dele, chama a atenção o lado humano do treinador, homenageado pelos funcionários quando completou um ano no cargo, ocasião em que se emocionou. Devolveu a reverência ao entregar um quadro com as fotos de todos os colaboradores do departamento de futebol do Palmeiras e de outros setores. Não é incomum, também, o português presentear funcionários com vinhos, por exemplo.

"O Abel é um cara muito inteligente, muito estrategista. É fantástico. É um cara que todos admiram", resume o goleiro Vinícius Silvestre. "Acho importante destacar a intensidade do trabalho, como também a determinação em seguir os processos", descreve Paulo Buosi, vice-presidente do clube.

Abel tem várias facetas. É vaidoso, teimoso, emotivo, empenhado, estudioso, inquieto, exigente e intenso. Se é possível dar destaque a uma de suas idiossincrasias, é a intensidade. Ele crê que sendo assim, entregando-se ao trabalho, está mais perto das conquistas. "Eu vivo o futebol de forma intensa e apaixonada", expressou o técnico recentemente. Seu time oscila muitas vezes, mas é capaz de fazer jogos memoráveis, como o 3 x 0 sobre o River Plate na Argentina nas semifinais da Libertadores de 2020, o 4 x 0 em cima do arquirrival Corinthians no Brasileirão de 2020 e o 3 x 0 diante do São Paulo nas quartas da última Libertadores.

Uma das particularidades de Abel é preferir, muitas vezes, jogadores sem tanta técnica, mas esforçados, a craques que podem atrapalhar o ambiente. Ele foi contrário à contratação de Hulk porque o atacante, hoje no

Atlético-MG, não chegaria em um momento adequado, na sua visão. Na época, em janeiro, o time estava concentrado para a final da Libertadores contra o Santos. "Se me derem para escolher entre um craque e um homem, se o craque não sabe o que é coletivo não serve para a minha equipe", explicou, sem se referir a Hulk especificamente. Sua fala foi genérica.

O caso mais claro de jogadores que não esbanjam talento, mas se empenham em campo e tiveram chance com Abel é Deyverson, o "sapinho que virou príncipe", nas palavras do luso. O técnico bancou a reintegração do atleta quando a diretoria não sabia o que fazer com

ele. E a decisão foi acertada, já que o predestinado atacante fez o gol do tri da Libertadores. "Abel é coração. Faz o que sente. Sofreu para chegar aonde chegou. Se o Abel fosse o meu pai, eu diria que sou grato a ele por tudo o que ele proporciona", afirmou o controverso atacante.

O estratégico

Abel tem tempo de sobra para estudar os adversários e elaborar suas diferentes estratégias, de acordo com cada rival. Como sua família permaneceu em Portugal, ele mora sozinho, perto do CT, e parte de seu lazer é desenhar planos táticos, métodos, formações e sistemas. Em seu apartamento, recebe poucas visitas. "Tenho muito tempo para me dedicar ao futebol. A faxineira vem uma vez ao mês em casa, o resto sou eu que faço", contou.

É provável que o cenário não se altere, já que a tendência é de que sua mulher e filhas não se mudem com ele para São Paulo, a despeito do esforço de Leila Pereira em convencê-las a deixar a pequena cidade de Penafiel. Além de analisar futebol, em seu tempo de lazer, também assiste Fórmula 1. É fã de automobilismo e esteve em Interlagos no último GP de São Paulo a convite da Williams. Quando retorna a Portugal, gosta de andar de moto e tem até um kart.

No CT, com os membros da comissão técnica, ou em casa, sozinho, o técnico estuda incansavelmente os adversários e os sistemas táticos. São diversas as variações feitas em sua trajetória. Testou três defensores, linha de cinco na defesa, laterais como zagueiros, Gustavo Scarpa de ala, Rony como centroavante, alterou o posicionamento de Raphael Veiga, trocou Luan e Gómez de lugares na retaguarda. Ele tem uma equipe de auxiliares bastante integrada — João Martins, Vitor Castanheira e Carlos Martinho — e confia neles.

Há quem acredite que seu estilo de jogo seja muito cauteloso, mas o fato é que o Palmeiras conseguiu os resultados de expressão muito graças às ideias do treinador. Abel está entre os maiores da história do clube, ao lado de Luiz Felipe Scolari, Vanderlei Luxemburgo e Oswaldo Brandão. "É um profissional com muito potencial", opinou o ex-presidente Galiotte.

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