A lusomania da nova elite brasileira

Efeito Cuca pode conduzir os três clubes mais ricos do país a começarem a próxima temporada nas mãos de treinadores portugueses. Palmeiras segue fiel a Abel Ferreira; Flamengo deve oficializar hoje Paulo Sousa; e Atlético-MG flerta com Jorge Jesus

Atlético-MG, Flamengo e Palmeiras formam a nova elite do futebol brasileiro. São os mais ricos do país. Revezam-se com autoridade no poder. Conquistaram as últimas quatro edições da Série A, de 2018 a 2021. A robustez financeira pode fazer com que os três clubes virem definitivamente as costas para profissionais do país e iniciem a próxima temporada sob a batuta de técnicos portugueses. Efeito colateral da saída de Cuca do Galo. Ele deixou o time ontem depois das conquistas do Estadual, Brasileirão e Copa do Brasil.

O Flamengo não esconde a predileção por técnicos estrangeiros desde o sucesso de Jorge Jesus no cargo. Contratou o espanhol Domenec Torrent. Agora, a menos que haja reviravolta e a Federação Polonesa de Futebol vete, será comandado por outro português — Paulo Sousa.

A moda rubro-negra contagiou o Palmeiras. Depois do insucesso do argentino Ricardo Gareca e um hiato na contratação de técnicos estrangeiros, o Palmeiras buscou o lusitano Abel Ferreira no PAOK da Grécia e contabiliza os louros da escolha. Ganhou a Copa do Brasil em 2020 e é bicampeão da Libertadores nas temporadas de 2020 e 2021.

O Atlético-MG investiu recentemente no venezuelano Rafael Dudamel e no argentino Jorge Sampaoli. Com a saída de Cuca, a nova gestão do Galo voltou a olhar para o mercado europeu. Sondar Jorge Jesus, demitido ontem pelo Benfica, é uma alternativa óbvia, mas certamente há outras opções no banco de dados do diretor de futebol Rodrigo Caetano.

Há quem diga que o executivo não gosta de trabalhar com técnicos estrangeiros, mas Caetano participou das negociações que levaram o colombiano Reinaldo Rueda para o Flamengo e conduziram o argentino Eduardo Coudet ao comando do Inter.

A possibilidade de Atlético-MG, Flamengo e Palmeiras começarem a temporada com técnicos portugueses fortalece uma a outra tese: a de que faltam treinadores brasileiros capacitados para domar elencos técnicos e badalados. Os três clubes tiveram experiências recentes ruins com profissionais nacionais. Luxemburgo só ganhou o Paulistão no Palmeiras. Renato Gaúcho fracassou no Flamengo. Exceção, Cuca protagonizou o Triplete do Galo.

A nova elite do futebol brasileiro mostra que, hoje, só há confiança em dois técnicos nacionais. Um é Tite, empregado na Seleção Brasileira; e o outro pediu para deixar o Atlético-MG a fim de dar atenção a questões familiares — e a decisão humana tem de ser respeitada.

Sem novos treinadores de ponta, a escola brasileira mandou até mesmo ex-técnicos da Seleção, como Dunga, Mano Menezes, Luiz Felipe Scolari, Émerson Leão e Vanderlei Luxemburgo, demitido ontem do Cruzeiro, ao ostracismo. A perda de espaço deles no mercado não pode ser uma mera coincidência.