ESPORTE OLÍMPICO

Paris é logo ali!

Após pandemia provocar o ciclo mais longo em Tóquio-2020, cronologia olímpica será reajustada com preparação mais curta da história até os Jogos de 2024. Ao Correio, medalhistas no Japão comentam o inédito desafio

Danilo Queiroz
postado em 01/01/2022 00:01
 (crédito: Christophe Simon/AFP)
(crédito: Christophe Simon/AFP)

Ainda presente em nossas rotinas nos mais diversos contextos, a pandemia impactou, e muito, no cenário esportivo mundial. Adiamentos, cancelamentos e mudanças estruturais em competições nos últimos dois anos se tornaram prática frequente. Nem mesmo o maior evento do planeta escapou. Com os desdobramentos da covid-19, os Jogos Olímpicos de Tóquio, inicialmente marcados para 2020, foram disputados em 2021. Mesmo que de forma não intencional, o período se tornou o maior hiato entre duas edições. A partir do ano que se inicia hoje, será hora de reajustar a cronologia olímpica visando Paris-2024.

A edição da capital francesa terá o menor ciclo olímpico da história moderna dos Jogos. Os atletas de alto rendimento das 34 modalidades previstas no programa terão pouco mais de dois anos e meio para se preparar e buscar índice para competir em Paris-2024. Com isso, não haverá tempo a perder. Em vez de ser um "ano de ressaca" pós-Olimpíadas, 2022 se transformou em um cenário repleto de caminhos que levam até os próximos Jogos. Em entrevistas ao Correio, medalhistas de Tóquio-2020 destacaram pontos positivos e negativos do inédito desafio de uma preparação mais enxuta.

O Brasil vem da melhor trajetória olímpica da história nas terras japonesas. Ao todo, os atletas tupiniquins subiram ao pódio 21 vezes. A campanha se resumiu a sete medalhas de ouro, seis de prata e oito de bronze, um novo recorde para a delegação do país. Responsável pela conquista dourada no boxe, Hebert Conceição avaliou o enxuto ciclo por um viés positivista. "Eu fui bem nas Olimpíadas. Então, me manter em alta por menos tempo é mais fácil do que por quatro anos. Estou pensando pelo lado positivo. Manter o foco, treinar e poder trazer bons resultados para o Brasil novamente", destacou.

Para Alison dos Santos, bronze nos 400m com barreiras, o fato de o atletismo ser "ano a ano" minimiza os impactos da redução. "Vamos trabalhar do mesmo jeito e focar, como a gente sempre faz, para conseguir chegar lá e ter resultado. Ser menos tempo se torna indiferente", avaliou. Para o corredor, o fato de Tóquio ter tido o maior período de preparação equilibra a perda de Paris. "Posso correr muito bem em 2023 e acabar indo mal em 2024. Quanto mais tempo você tem, na teoria, melhor vai conseguir ficar. Por serem dois anos e meio e ter tido um ciclo anterior de cinco anos, vai equilibrar", complementou.

Responsáveis pela medalha de bronze inédita do tênis feminino no Japão, Luisa Stefani e Laura Pigossi também ressaltaram que o curto tempo serve de motivação para não deixar o ritmo cair. "Ter as Olimpíadas mais perto faz a gente chegar mais alto e querer alcançar um ranking onde possamos classificar direto, sem precisar esperar a desistência de alguém. Só me faz querer trabalhar cada dia mais duro. Não muda meu calendário. Meu dia a dia continua o mesmo", garantiu Pigossi, relembrando o fato de a dupla brasileira ter garantido vaga às vésperas da competição graças à desistência de outras competidoras.

Em crescimento após o feito histórico em Tóquio, Stefani seguiu a mesma linha. "Vai só motivar ainda mais para conseguir chegar nesse ciclo mais curto. Ser em dois anos e meio incentiva para atingir grandes objetivos o quanto antes e poder qualificar", destacou a tenista, atual número 10 do ranking da Associação de Tênis Feminino (WTA, na sigla em inglês). "As Olimpíadas me ensinaram no ano passado que não dá para planejar futuramente. É levar um dia de cada vez e focar no objetivo final. O tênis é um esporte anual", complementou a brasileira.

Mundiais em série

O esporte olímpico em geral não terá muito tempo para respirar, pois 2022 será uma temporada repleta de eventos importantes nas mais variadas modalidades. Com alguns adiamentos provocados pela pandemia, diversos campeonatos darão o pontapé inicial na corrida por vagas nos Jogos Olímpicos de Paris-2024. Uma das principais fontes de medalhas do Brasil, a natação terá o Mundial de Fukuoka, no Japão, a partir de 13 de maio. Em 15 de julho, será a vez do atletismo de reunir em Eugene, nos Estados Unidos. O torneio do judô começa em 7 de agosto, em Tashkent, no Uzbequistão.

Outras modalidades também terão disputas mundiais em 2022: o vôlei competirá com o feminino, em 26 de agosto, na Holanda, e com o masculino, em 23 de setembro, no Polônia. No basquete, as mulheres jogam as qualificatórias em fevereiro tentando vaga no torneio principal, marcado para 22 de setembro, na Austrália. Em outubro, a elite da ginástica artística competirá em Liverpool. Já em 2023, último ano antes da edição francesa das Olimpíadas, estão marcados torneios como o como os Jogos Pan-Americanos, em Santiago, no Chile.

"Diferente do último ciclo, por ter um ano a menos, os mundiais deverão ter a participação efetiva dos principais atletas do planeta. Isso deixará mais claro o potencial de resultados dos países e onde o Brasil tem chance de demonstrar a qualidade da preparação", analisou o diretor de Esportes do COB, Jorge Bichara. "Teremos modalidades que passam a somar pontos para o ranking olímpico. Passamos a ter dois anos e meio para a realização dos Jogos. Algumas definem suas classificações em dois anos. É extremamente importante colocar em prática uma preparação adequada para Paris", completou.

Tão logo os Jogos de Tóquio-2020 chegaram ao fim, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) estabeleceu planos visando os próximos anos do curto ciclo. Ainda em agosto, a entidade definiu Portugal como base da preparação dos brasileiros. "Tenho certeza de que estamos trilhando o caminho certo para os Jogos Olímpicos Paris-2024 e Los Angeles-2028. Temos a convicção de que não será fácil superar os resultados conquistados no Japão, mas esse é mais um desafio que nos faz manter a atenção plena em nossas metas diárias", ressaltou o diretor-geral do COB, Rogério Sampaio.

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