AUTOMOBILISMO

A base pede passagem

Com promessa de ser uma competição sólida, Fórmula 4 chega ao Brasil com meta de preencher lacuna na formação de pilotos brasileiros. Brasília terá nome no grid e deve receber duas etapas triplas em 2022

Correio Braziliense
postado em 05/01/2022 00:01
 (crédito: Duda Bairros/Fórmula 4 Brasil)
(crédito: Duda Bairros/Fórmula 4 Brasil)

Após 10 anos de vazio e iniciativas frustradas na base do automobilismo brasileiro, o país voltará a ter uma competição de peso para os pilotos jovens com a meta de revelar novos talentos no cenário tupiniquim. A nova Fórmula 4, cuja primeira temporada foi lançada no fim de dezembro e está confirmada para 2022, pretende desenvolver talentos nacionais, solucionar falhas na formação dos atletas e preencher a grande lacuna entre o kart e as competições de elite.

A nova empreitada é encabeçada pela Vicar, promotora da Stock Car — categoria de ponta do esporte a motor no Brasil —, com supervisão da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) e o selo de aprovação da Federação Internacional de Automobilismo (FIA). O projeto é permanente, de acordo com Fernando Julianelli, CEO da Vicar. "Queremos fazer a competição a longo prazo. É para ser constante. Uma escola precisa existir para sempre", afirma.

Na Fórmula 4, os carros são menores e menos potentes, com possibilidade máxima de 250km/h, e preparam o piloto para disputar campeonatos de F-3 e F-2, o caminho natural até a Fórmula 1, maior sonho dos jovens atletas. O Brasil não contava com uma competição deste nível desde 2011, quando Felipe Massa criou a Fórmula Futuro. Foram apenas duas temporadas. "Infelizmente, não funcionou porque as equipes queriam tomar conta. Elas ficaram contra e o kart criticava a categoria porque não queria perder seus pilotos", explica.

A última categoria do tipo no Brasil foi a Fórmula Renault, finalizada em 2006. Assim, o país ficou 15 anos sem uma competição de base sólida, com duração de, ao menos, três temporadas. Nos últimos anos, foram constantes as tentativas de criar uma F-4, até mesmo com o apoio da CBA, todas sem sucesso. Como consequência, ficou difícil os pilotos brasileiros alcançarem um lugar nas maiores competições de automobilismo no mundo.

"Para um brasileiro voltar a ter chance de sentar em um carro de F-1, não basta simplesmente levar patrocínio. Ele precisa chegar muito bem preparado na Europa", avalia Julianelli. Com a nova F-4, ele espera fixar o jovem piloto em solo nacional por mais tempo para chegar ao continente europeu com mais bagagem, aumentando suas chances de sucesso. Nos últimos anos, adolescentes brasileiros passaram a migrar para a Argentina e até para os Estados Unidos em busca de campeonatos desse nível.

"Vamos anular todos esses problemas iniciais e ficar próximo da garotada para capacitá-los para coisas fora do carro", projeta Julianelli. A iniciativa também prevê a criação de uma "academia" para os jovens atletas, com aulas sobre mecânica do carro, media training, marketing e treinos psicofísicos. Para o projeto ser bem-sucedido, a Vicar aposta na estrutura da Stock Car e no conhecimento de quem já tentou emplacar a ideia, como o próprio Massa. O vice-campeão mundial de F-1 em 2008 contribui com ideias e know-how.

Ciente dos desafios, Julianelli quer fazer a F-4 mais barata do mundo. Para participar, cada piloto vai precisar desembolsar 100 mil euros (R$ 360 mil) — uma competição de F-4 na Europa exige 250 mil euros, em média. "É barata por três razões: nossa moeda favorece a mão de obra por ser em real. Por ser uma categoria da Vicar, todos os custos de produção estão absorvidos pela Stock Car e parte será financiada por um patrocinador."

Para Massa, a nova categoria reúne as condições para preencher o vácuo do automobilismo brasileiro. "A ideia é excepcional, principalmente como escola, e os carros são modernos. Tenho certeza que vai dar muito certo", aposta o piloto. "A F-4 é o caminho natural para quem sai do kart. Há outros caminhos, claro, mas não valem a pena. Não adianta querer dar o passo maior que a perna. Não é muito importante chegar na Europa novo. O importante é chegar preparado para vencer."

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