Depois de 17 anos, chegou ao fim a passagem do goleiro Fábio pelo Cruzeiro. Na noite de ontem, o jogador que mais vestiu a camisa do clube (976 vezes) deu a própria versão sobre a falta de acordo para a renovação contratual. Segundo ele, os responsáveis por conduzir a Sociedade Anônima do Futebol propuseram um vínculo somente até o fim do Campeonato Mineiro, de modo que o ídolo da torcida encerrasse a carreira. Mas Fábio, de 41 anos, sentia-se bem fisicamente e mentalmente para continuar atuando até dezembro. Por isso, entendeu o recado: a direção não quis mais contar com seus serviços.
"Compareci no dia 4 de janeiro no horário marcado para ouvir a diretoria: de todo meu coração, segui para o clube feliz e tranquilo, aberto a escutar e ajudar no que fosse preciso, mas, para minha surpresa, a atual diretoria foi clara que não desejava contar comigo desportivamente para 2022. Na reunião, estavam presentes o diretor executivo, Pedro Martins, e Gabriel Lima, representando a atual gestão".
Fábio lamentou a postura de Paulo André, com quem jogou na Raposa em 2015. O ex-zagueiro de Athletico-PR e Corinthians se tornou executivo de futebol e passou a ser o homem de confiança de Ronaldo Fenômeno, acionista majoritário do Cruzeiro SAF (90%). "Não teve sequer a consideração de me cumprimentar, sendo ele um ex-companheiro de clube".
O camisa 1 garantiu que aceitou se adequar ao orçamento do Cruzeiro em 2022, além de repactuar os salários atrasados. Tudo em vão, segundo ele. "Deixei claro que sempre estive disposto a receber dentro do teto salarial, inclusive aceitando reduções do novo contrato acertado para 2022 com o presidente, Sérgio Rodrigues, e ficar dentro do novo teto estipulado. Mesmo assim, em vão".
Ao oficializar a saída de Fábio, o Cruzeiro ignorou o desabafo e focou nos feitos relevantes do goleiro, como os 34 pênaltis defendidos e os 13 títulos conquistados — dois Brasileiros, três Copas do Brasil e sete Campeonatos Mineiros. O clube ainda prometeu "uma série de homenagens ao ídolo nos próximos dias", porque "ele merece e todo cruzeirense também".
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Trechos da despedida
"Querida Nação Azul, perdão por esses dias de silêncio. Tentei, com todo o meu coração, permanecer no Cruzeiro. Sempre fui transparente e vocês saberão a verdade agora. Meu desejo é permanecer até dezembro de 2022. A renovação do meu contrato foi acertado com o clube, através do presidente, Sérgio Rodrigues, em novembro de 2021, faltando apenas as assinaturas dos documentos negociados. Mas essa nova administração não me deu mais essa opção.
Quero deixar claro que aceitaria a readequação no novo teto salarial, mas essa nova administração também não me deu essa opção. Sempre estive pronto para ajudar o Cruzeiro, inclusive me readequando à nova realidade, o que já fiz em outros momentos de dificuldade do clube.
A minha relação com vocês, será eterna e está gravada na minha memória e no meu coração. O meu carinho por vocês é gigante. A maneira que tratam a mim e minha família é algo que levarei para o resto da vida, com imensa gratidão. Só Deus sabe o que estou sentindo nesse momento. O Cruzeiro sempre foi muito mais que meu trabalho, foi minha casa, minha família, minha vida.
Estive com vocês em todos os momentos, desde os mais felizes, até os mais
difíceis. Nos últimos anos, trabalhei ainda mais duro. Fiz de tudo, dentro e fora de campo, para que, de minha parte, não faltasse o empenho necessário no objetivo de retornar à Série A.
Meu único pedido foi que meu contrato se encerrasse em dezembro de 2022, dentro do teto que está sendo praticado. Não me deram opção que não fosse finalizar minha vida no Cruzeiro ao final do Campeonato Mineiro. Disseram que qualquer outro cenário estava inviabilizado.
A SAF do Cruzeiro quer encerrar minha carreira imediatamente, mesmo estando em plenas condições físicas e técnicas para continuar jogando em alto nível. Em 2021, fiquei fora somente de um jogo. Não se deram ao trabalho de buscar informações sobre meu histórico como atleta. São 976 jogos pelo clube.
Dito isso, informo a vocês, com o coração apertado, com lágrimas e dor, que eu preciso aceitar que não contam comigo no clube, mesmo sabendo que fiz tudo que poderia, aceitando me enquadrar no novo patamar salarial e generosamente equacionando toda a dívida que o clube tem comigo, relativa a pagamentos atrasados. Mostrei total disponibilidade em negociar o débito de anos anteriores, mas, infelizmente, não fui ouvido.
Deixo aqui meu agradecimento à Nação, a cada um dos funcionários do clube e a todos aqueles que, de alguma forma, fizeram parte dessa linda história.
Amo vocês!"