A passagem de Jorge Jesus pelo comando técnico do Flamengo entre 2019 e 2020 marcou época na história do clube. Nos 12 meses à frente do rubro-negro carioca, o técnico português tirou o time de uma fila de 38 anos da Libertadores da América e ganhou a Série A do Campeonato Brasileiro no mesmo ano. Ao fim do ciclo, deixou o Rio de Janeiro rumo ao Benfica com mais taças do que derrotas (cinco x quatro) e um fantasma enraizado no Ninho do Urubu. Os três treinadores que sucederam o Mister foram assombrados pelas comparações. Recém-chegado ao cargo, Paulo Sousa não terá vida diferente.
O insucesso de Domenèc Torrent, Rogério Ceni e Renato Gaúcho à frente do Flamengo é explicado por diversos motivos e tem tons específicos em cada caso. Adepto do rodízio, o espanhol não conseguiu extrair o melhor do time e foi demitido após uma série de goleadas. Ceni conquistou três taças — Brasileirão, Carioca e Supercopa —, mas sofreu um processo de isolamento provocado por uma crise interna. Renato colocou o rubro-negro na final da Libertadores, mas não driblou o desempenho instável do time e não suportou as críticas da torcida. Em comum, todos tiveram o trabalho comparado ao de Jesus.
A contratação de Paulo Sousa pelo Flamengo aconteceu ao mesmo tempo em que o rubro-negro flertava com Jorge Jesus. Ontem, o novo português chegou ao Brasil e conheceu as dependências do Ninho do Urubu. Entre as andanças pelo centro de treinamento do rubro-negro, encontrou o atacante Gabigol, que se reapresentou dias antes dos demais companheiros de time. Dele, ouviu "ganhar, ganhar e ganhar". Para isso, o recém-chegado ao comando da equipe da Gávea terá alguns trunfos que seus antecessores não tiveram antes de iniciarem seus trabalhos no Rio de Janeiro.
Com os efeitos da pandemia, que acumulou jogos e emendou temporadas, Torrent, Ceni e Renato não contaram um longo período livre de treinos para implementarem conceitos tão distintos ao grupo. Quando chegou, em 2019, Jesus teve exatos 25 dias livres até a sua estreia oficial contra o Athletico-PR, pela Copa do Brasil. Contratado antes do início da pré-temporada, Paulo Sousa terá um período parecido. O time inicia os trabalhos visando 2022 na próxima segunda-feira. A estreia oficial no novo ano tende a ser em 5 de fevereiro, no clássico contra o Fluminense, pelo Campeonato Carioca.
O apoio do 12º jogador nas arquibancadas desde o início da passagem também será um privilégio dos portugueses. Com futebol vistoso, o Flamengo de Jesus caiu nas graças dos torcedores e foi amplamente incentivado. Contratados no auge da pandemia, Dome e Ceni fizeram toda a passagem com os portões fechados. Renato Gaúcho estava no clube no retorno da torcida. Porém, o momento coincidiu com o declínio técnico do time e o benefício se transformou em mais um termômetro de pressão. Recebido por rubro-negros no embarque em Portugal e desembarque no Rio, Paulo terá a mesma vantagem.
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Até mesmo o discurso de chegada dos portugueses foi o mesmo. Com forte cobertura da imprensa do país europeu em suas chegadas, Jesus e Sousa ressaltaram o patamar do clube. "Motivação passa essencialmente porque tenho consciência de que vim para um país que adora futebol, um dos maiores clubes do Brasil, se não o maior. Durante minha infância ouvi falar muito do Flamengo", disse Jorge, em 2019. "Na carreira de um técnico, estas possibilidades não acontecem muitas vezes. Quanto se tem a chance de representar um clube desta grandeza, fico muito contente de estar neste projeto", apontou Paulo, ontem.
Com alguns itens na bagagem para seguir os passos do conterrâneo, Paulo Sousa ressaltou não ver Jorge Jesus, atualmente sem clube, como um fantasma. "É uma pessoa, que se dedica, gosta daquilo que faz. É muito bom treinador, tem demonstrado isso ao longo da carreira. Sempre demonstrou a sua qualidade e a sua paixão, assim como eu também vou tentar expressar a minha", ressaltou em coletiva no Aeroporto de Lisboa. "Na segunda, os jogadores precisam já ter tudo muito bem-planejado", complementou na chegada ao Rio de Janeiro.
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