TÊNIS

A força da nova geração

TÊNIS Com resultados recentes, tenistas brasileiras caminham a passos largos para consolidar a melhor geração feminina da história brasileira na modalidade. Bia Haddad entra em quadra, na madrugada de amanhã, na final do Aberto da Austrália

Correio Braziliense
postado em 29/01/2022 00:01
 (crédito: William West/AFP)
(crédito: William West/AFP)

Foram apenas seis meses entre a medalha de bronze na Olimpíada e a primeira final de Grand Slam brasileira em 40 anos. O tênis feminino brasileiro, ofuscado nas últimas décadas pelo masculino, cresceu e apareceu no cenário mundial. E, com o brilho de Beatriz Haddad Maia — que joga pelo ouro do Aberto da Austrália ao lado da casaque Anna Danilina, amanhã, à 1h, contra as tchecas Barbora Krejcikova e Katerina Siniakova, em Melbourne — Luisa Stefani e Laura Pigossi, tenta se consolidar naquela que pode ser a melhor geração da história da modalidade em âmbito nacional.

Se o título de Bia vier, a número 1 do Brasil em simples poderá consagrar esta geração como a melhor de todas, superando as tenistas que brilharam internacionalmente na década de 1980. Stefani e Pigossi encaminharam o feito com o bronze olímpico nos Jogos de Tóquio. Há cerca de 40 anos, os destaques brasileiros eram Niége Dias, Patrícia Medrado, Cláudia Monteiro, Andrea Vieira e Gisele Miró. Todas estiveram no Top 100 do ranking de simples, algumas se destacaram nas duplas também, e conquistaram títulos, embora de menor relevância. Nos torneios de maior porte, quem foi mais longe foi Cláudia Monteiro, finalista e vice-campeã nas duplas mistas em Roland Garros, em 1982 — na ocasião, formou dupla com o compatriota Cássio Motta.

Bia igualou o feito ao avançar à final de duplas do Aberto da Austrália. Agora somente Bia, Cláudia e a lenda Maria Esther Bueno contam com finais de Grand Slam em seus currículos. De longe, Maria Esther é a maior referência brasileira por seu papel de desbravadora do tênis feminino e por seus 19 títulos de Major. Mas a ex-atleta, falecida em 2018, não chegou a levantar troféus com outras brasileiras nas décadas de 1950 e 1960, sem formar uma geração. Somente nos anos 1980, houve um grupo de brasileiras se destacando de forma conjunta no circuito. Esta geração está sendo superada, aos poucos, pela atual. Mesmo que Bia não conquiste o título, a final já confirma o bom momento e o potencial das atletas nacionais, ansiosas por novos feitos.

Antes deste Aberto da Austrália, o tênis feminino ganhou seu espaço graças a Luisa Stefani, no ano passado. O grande marco foi a improvável medalha de bronze em Tóquio, ao lado de Laura Pigossi. Longe da lista das favoritas, elas entraram de última hora na chave, após seguidas desistências. "Foi algo muito marcante para o tênis brasileiro, inspira muito as meninas e mostra que tudo é possível", comentou Bia, no ano passado. "Foi uma injeção de motivação para outras tenistas, mais jovens."

Depois do pódio olímpico histórico, Luisa emplacou grande série de vitórias no circuito logo na sequência. Foram três finais seguidas e o primeiro título de WTA 1000, torneio somente abaixo dos Grand Slams. Embalada, alcançou a semifinal do US Open com favoritismo, ao lado da canadense Gabriela Dabrowski. Mas uma lesão no joelho direito interrompeu o sonho durante o jogo. Ou seja, a final de Slam já poderia ter vindo em setembro. Mesmo afastada do circuito, para se recuperar da cirurgia no joelho, Luisa fez história ao atingir o nono lugar do ranking de duplas, a melhor posição de uma brasileira desde Maria Esther. O sucesso dela ajudou a colocar o tênis feminino sob os holofotes.

Os triunfos de Luisa e Bia já respingam nas compatriotas. Laura, embalada pelo bronze olímpico, estreou em Grand Slams neste Aberto da Austrália. E emplacou bons resultados logo após Tóquio Carolina Meligeni, sobrinha de Fernando, também disputou seu primeiro Major em Melbourne. Nos Jogos Pan-Americanos de Lima-2019, ela conquistou o bronze jogando com Luisa.

As quatro tenistas são as brasileiras mais bem ranqueadas nas duplas atualmente. "Acho que uma pessoa puxa a outra porque a gente cresce junto, vê o circuito juntas", comentou Bia. "Quando a gente vê quatro meninas assim, temos que ter muita felicidade de poder vê-las espremendo tudo o que elas têm. Ser atleta feminino no Brasil é muito duro. Sei da pressão que é, da expectativa que é. Sei que brasileiro gosta de torcer, mas também gosta muito de ganhar."

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