Futebol

Invasões bárbaras

Início da temporada no Brasil é marcada por episódios de violência, que seguem sem punições exemplares. Em Brasília, Ministério Público investiga pancadaria no Mané Garrincha e torcidas organizadas são proibidas em estádios

Correio Braziliense
postado em 30/01/2022 00:01
 (crédito: Francisco Stuckert/FotoArena)
(crédito: Francisco Stuckert/FotoArena)

A temporada 2022 do futebol brasileiro mal começou e diversos casos de violência envolvendo torcidas e invasão de campo foram registrados. Na quarta-feira passada, torcedores de Gama e Brasiliense deram início a uma briga generalizada nas arquibancadas do Estádio Nacional Mané Garrincha. Um extintor de incêndio chegou a ser usado na briga e a Polícia Militar interveio com bombas de gás lacrimogêneo. Ninguém foi preso.

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) prometeu apurar possíveis crimes e identificar torcedores envolvidos na confusão. Em reunião on-line, na quinta-feira, o órgão analisou assuntos relacionados à briga durante a partida e decidiu instaurar um inquérito para apurar eventos ilícitos no episódio. "A violência entre torcedores é inconcebível e exige resposta. O Ministério Público tomou a decisão de pedir a instauração do inquérito para apuração dos fatos. Vamos verificar autoria, materialidade, além de notificar os presidentes das torcidas e fazer com que a Arena BSB e a Federação de Futebol do DF tenham um posicionamento. Temos de ter responsabilidade e proteger os cidadãos e torcedores. O MPDFT repudia qualquer tipo de violência em estádios", ressaltou o Procurador Distrital dos Direitos do Cidadão, José Eduardo Sabo Paes.

Como providências iniciais, a Comissão de Prevenção de Violência nos Estádios decidiu notificar os presidentes das torcidas Ira Jovem do Gama e Facção Brasiliense. Ambos deverão prestar esclarecimentos sobre a pancadaria protagonizada pelos grupos nas arquibancadas do Mané Garrincha. Rivais de tempos antigos, as duas organizadas, em 2017, participaram de outro grave confronto no Estádio Bezerrão.

Além disso, o presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF), Daniel Vasconcelos, também será requisitado para prestar informações sobre a briga na partida da segunda rodada do Campeonato Candango. A competição é organizada pela entidade. Concessionária do Mané Garrincha, a Arena BSB deve fornecer imagens captadas pelo circuito interno de segurança.

Suspensão

O Tribunal de Justiça Desportiva do Distrito Federal (TJD/DF) suspendeu as torcidas organizadas dos dois clubes nos estádios da capital federal. O presidente da corte esportiva, Vinícius Henrique Bernardes dos Santos, analisou imagens e vídeos para tomar a decisão e estabeleceu uma multa de R$ 50 mil em caso de descumprimento.

"As imagens mostram que a arena de desporto virou uma praça de guerra. Não é a primeira vez que uma confusão com essa proporção acontece entre as duas equipes, o que demonstra recorrência. A Procuradoria requer que sejam tomadas providências capazes de impedir que a torcida invada o gramado novamente, colocando em risco todos os atletas e demais profissionais que estão em campo", explica a decisão.

A pancadaria na arquibancada ocorreu em dois momentos. No intervalo da partida, um princípio de confusão foi contido pela Polícia Militar, com bombas de efeito moral e balas de borracha. Aos 37 minutos do segundo tempo, no entanto, as organizadas das duas equipes iniciaram um novo confronto no Mané Garrincha.

Segundo testemunhas, a PMDF demorou para agir. O contingente destinado para o clássico, conhecido por outros problemas em anos anteriores, também foi apontado com um fator que contribuiu para a pancadaria. Em vídeo, o tenente-coronel Edvã Sousa defendeu a atuação dos militares e repreendeu os torcedores.

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Selvageria passeia por todo o país

 (crédito: Paulo Pinto / saopaulofc.net)
crédito: Paulo Pinto / saopaulofc.net

Atos de selvageria também ocorreram em São Paulo, Curitiba e Natal. O caso mais emblemático do mês aconteceu no dia 22, na semifinal da Copa São Paulo de Futebol Júnior, a Copinha, quando são-paulinos invadiram o gramado da Arena Barueri e partiram para cima dos jogadores do Palmeiras, que vencia a partida por 1 x 0 e acabou se classificando para a final do torneio. Uma faca foi encontrada entre os objetos atirados no campo de jogo. Ela teria entrado no estádio dentro de uma marmita. Jogadores do São Paulo tiveram de segurar os briguentos.

Um dia após o incidente, o clássico entre Athletico-PR e Paraná terminou em quebra-quebra na Arena da Baixada, com cadeiras sendo arremessadas e divisórias sendo derrubadas. Na quarta-feira, torcedores do rubro-negro paranaense se envolveram em um novo tumulto, desta vez no jogo diante do Maringá. Durante a partida, os donos da casa arremessaram objetos em direção aos athleticanos, que revidaram a agressão derrubando a divisória e partindo para cima dos rivais. Um torcedor rubro-negro usou uma barra de ferro para atacar os adeptos do Maringá. O caso foi relatado na súmula do jogo.

O episódio mais lamentável, na atual temporada, aconteceu em Natal, no domingo passado. Uniformizadas de América e ABC tomaram conta de um trecho da BR-101 na capital potiguar, transformando o local em um campo de batalha em plena luz do dia. Carros voltaram na contramão com medo, rojões foram atirados e um homem, envolvido na briga, foi espancado. Tudo foi filmado por moradores da região.

"De um ponto de vista negativo, a cultura de torcer possui a violência como característica de comportamento e forma de se expressar. Quando pensamos em violência, geralmente falamos da violência física, mas existe também a violência verbal. Essa cultura é pautada na ideia de virilidade, de transformar o ambiente hostil aos adversários", diz Cleyton Batista, doutorando em educação na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pesquisador sobre assuntos relacionados à torcida no futebol. "O ambiente do futebol possibilita essas manifestações, mas é um reflexo de uma sociedade que banaliza a violência e isso se materializa também nas arquibancadas", conclui.

Legislação ineficiente

Em 2003, o governo brasileiro sancionou o Estatuto do Torcedor (Lei 10.671/03), visando diminuir a onda de violência e instituir os direitos e deveres de quem frequenta os estádios. Entre os avanços da legislação, é possível apontar a criação de corpos policiais especializados no patrulhamento de arenas, como é o caso do Batalhão Especializado em Policiamento em Estádios (BEPE), no Rio de Janeiro. Em São Paulo, desde 2004, os clássicos são organizados com torcida única com o objetivo de evitar brigas no estádio e em outros pontos da cidade. No entanto, a medida é criticada.

"Apesar do avanço, falta fazer mais claro essa lei. Ainda não observamos um padrão para isso. Casos como esses do início do ano não têm a devida atenção, mas o caso da Copinha é possível que ganhe alguma repercussão (jurídica) por causa do apelo", diz Batista. "É preciso uma participação maior dos clubes. O clube, de um modo geral, se coloca numa posição isenta, como se não houvesse responsabilidade pelo que acontece, quando justamente deveria ocorrer o contrário, pois ele tem uma influência forte sobre os seus torcedores."

Durante a década de 1990, as tradicionais festas com bandeiras e públicos abarrotando estádios deram lugar a um crescimento das brigas nas arquibancadas — geralmente protagonizadas por uniformizadas. Dificilmente os fãs de futebol não relacionaram o episódio da faca na semifinal entre Palmeiras x São Paulo na Copinha deste ano com a batalha do Pacaembu. Em 1995, tricolores e palmeirenses invadiram o campo da final da Supercopa de Futebol Júnior e realizaram uma verdadeira batalha campal. O resultado foi um morto em 102 feridos. 

Placar

Candangão - 3ª rodada

Ontem

Capital 0 x 0 Gama

Ceilândia 2 x 1 Brasília

Hoje, 15h30

Unaí x Luziânia

Paranoá x Taguatinga

16h Brasiliense x Santa Maria

 

Carioca - 2ª rodada

Ontem

Portuguesa 1 x 0 Audax

Volta Redonda 0 x 0 Flamengo

Hoje, 11h

Resende x Nova Iguaçu

16h Botafogo x Bangu

18h Madureira x Fluminense

 

Paulista

2ª rodada

Ontem

Santos 0 x 1 Botafogo-SP

São Bernardo 1 x 1 Palmeiras

Ferroviária 1 x 0 Água Santa

Ponte Preta 2 x 2 Inter Limeira

Hoje, 16h

São Paulo x Ituano

18h30 Santo André x Corinthians

20h30 Novorizontino x Mirassol

Amanhã, 20h

Bragantino x Guarani

Mineiro

2ª rodada

Ontem

Atlético-MG 3 x 0 Tombense

Hoje, 11h

Athletic x Cruzeiro

16h URT x Caldense

Patrocinense x Uberlândia

17h Pouso Alegre x Villa Nova

19h América-MG x Democrata

 Gaúcho

2ª rodada

Ontem

Brasil-RS 1 x 1 Grêmio

Internacional 2 x 0 União

Hoje, 16h

Caxias x São José

Guarany x Aimoré

19h São Luís x Juventude

Novo Hamburgo x Ypiranga

Copa do Nordeste

2ª rodada

Ontem

Campinense 1 x 3 Bahia

Sergipe 0 x 0 Ceará

Sport 3 x 2 Náutico

Globo 0 x 0 Floresta

Hoje, 16h

CSA x Botafogo-PB

18h Fortaleza x Sousa

Sampaio Corrêa x Altos

19h30 Atlético-BA x CRB

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