FUTEBOL MINEIRO

Análise: Ronaldo coloca faca no pescoço do Cruzeiro, que não tem saída

Conforme previ desde o início, afirma o colunista Ricardo Kertzman, aquisição de 90% da SAF pode até mesmo não ser efetivada

Ricardo Kertzman - Estado de Minas
postado em 15/03/2022 11:28 / atualizado em 15/03/2022 11:35
 (crédito: Sérgio Santos Rodrigues/Instagram)
(crédito: Sérgio Santos Rodrigues/Instagram)

Nem mal Ronaldo, o fenômeno, e Sérgio Santos, o presidente do Cruzeiro, apertaram as mãos, e já exibiram uma camisa do time, número 9, com o nome do ex-craque às costas. Sinceramente, num momento tão dramático, toda e qualquer discrição seria pouca. Afinal, não estavam comemorando a contratação de um dos maiores jogadores de futebol do planeta, mas a tentativa derradeira de evitar o encerramento das atividades do clube.

Sou atleticano e, claro, não poderia deixar de tirar uma casquinha da cena patética. Escrevi uma coluna a respeito e ironizei o fato de o CSA-MG (Cruzeiro Sociedade Anônima) continuar cheio de vaidade. Sim, afinal de contas, por que diabos uma camisa em homenagem ao ex-ídolo? O cara havia feito algo? Havia colocado alguma grana redentora, como fizeram os Menin no Galo? Havia desenterrado o clube da série B, quase C?

Absolutamente não. Ronaldo apenas e tão somente assinara uma espécie de carta de intenções, em que se comprometia — após quatro meses de auditoria (due diligence) — a assumir a tal SAF do Cruzeiro, se assim entendesse. O agora investidor teria que, pela ordem: desenterrar todos os esqueletos do clube; aportar ‘migalhas’ para não fechar as portas; fazer suas contas como capitalista e, ao final do período, bater ou não o martelo.

Encrencas sem fim


Prezados, é o seguinte: ao firmar a SAF, Ronaldo, muito mais do que colocar 400 milhões de reais, em sei lá quantos anos - o que é uma piada, diga-se de passagem -, irá assumir dívidas em torno de R$ 1,5 bilhão. Dívidas estas, para além de entes privados, com impostos e… Justiça do Trabalho! Sim, este Poder à parte, que não respeita as leis do País, e que julga conforme seu próprio entendimento, ou seja, que sapeca a caneta como quer.

Outro ponto relevante a se destacar é a conhecida insegurança jurídica do Brasil. O que vale hoje poderá não valer amanhã. Ora, a mesma Suprema Corte que decidiu pela prisão de um ex-presidente em dois anos mudou de entendimento, e não apenas o soltou, como o tornou um ficha-limpa. Assim, colocar dinheiro em Banânia não é para qualquer um, não. É o tal do Custo Brasil. Ronaldo e o banco que o assessora de bobos não têm nada.

Uma SAF, de acordo com a lei, dando lucro ou não, tem de destinar 20% do faturamento para a associação esportiva, no caso, o CEC (Cruzeiro Esporte Clube). Ou seja, só nisso, o CSA-MG estará levando uma tungada de 1/5 do que faturar. E mais: se der algum lucro, 50% dessa grana também seguirá para o clube, e não ficará com o investidor. Percebem como o buraco é muito, mas muito mais embaixo do que parece, caro leitor, cara leitora?

Ronaldão quer dinheiro

Bom, vencidas todas estas batalhas (dar lucro superior a 20%; dividir com a ‘massa falida’ 50% do que sobrar; não ser penhorado pela JT), considerando que o Cruzeiro voltará a ser grande, Ronaldo se verá diante — após seis anos, inicialmente, e 10 anos, posteriormente — de um passivo gigantesco, espetado em sua Pessoa Física. Beleza! O cara é grande, cheio de euros e tudo mais, mas está longe de ser Bill Gates ou Madre Teresa de Calcutá.

Ora, a chance de a SAF dar totalmente certo é muito baixa. Sinto muito em dizer (e não é torcida de atleticano, não), mas se não aparecer um mecenas no CSA, como apareceu no Atlético - e o Fenômeno está para Rubens Menin como, sei lá, Wellington Paulista está para o próprio Ronaldo -, não haverá salvação para o clube. Os 400 milhões de reais prometidos serão usados para pagar luz e água e comprar comida, que faltava há bem pouco tempo.

Daí o busílis atual. Ronaldo quer abocanhar o patrimônio imobiliário do CEC, para garantir as dívidas que não terá como pagar. Está errado? Claro que não. É investidor, pô! Por isso jamais mereceu aquela camisa que citei e por isso não deve ser encarado ou tratado como herói, salvador da pátria e cruzeirense. O cara está - com toda a razão! - atrás de grana. E de garantias de que não vai ficar tão quebrado como está o Cruzeiro atualmente.

Fim de papo

Se eu fosse conselheiro do CEC — e graças a Deus não sou — daria a Toca 1, a Toca 2, a Toca 3, a Toca 4, a sede, fogão, geladeira, carro, computador. Daria também casa, comida, roupa lavada, reza brava e o que mais o "gordão" (foi a torcida que o chamou assim) quiser. Do contrário, a série C é certa e o encerramento do clube, muito mais que garantido. É o tal "ou pegar ou largar". O Cruzeiro simplesmente não tem saída. Xeque-mate do Ronaldão!

Particularmente, fico felicíssimo em assistir a este novo capítulo. Primeiro, porque cantei essa pedra desde o início, e estar certo é sempre bom — sim! Eu também vivo cheio de vaidade, hehe. Segundo, porque estarei certo também em ter criticado o exibicionismo gratuito dos vaidosos Ronaldo e Sergio Campos - a história da camisa. E terceiro, porque todos que me xingaram agora estão passando uma raiva danada, rsrsrs.

Encerrarei com uma "oração" de agradecimento aos 4 Rs, em especial ao papai Rubens e aos presida Sergio Coelho: tenham sempre muita saúde, muita disposição e muito dinheiro (gratuito!!) para doar ao Atlético. Que Deus os conserve e guarde, porque, do contrário, eu estaria rezando para o Tardelli comprar o Galo. Pior! Poderíamos voltar às mãos daqueles

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