Evolução francesa

Como a passagem pelo país europeu mudou o patamar do ídolo vascaíno Nenê e contribuiu na formação de Paulo Sousa como técnico. Clássico dos Milhões abre, hoje, a maratona de seis jogões em 19 dias até a decisão do título

Velho como um bom vinho francês, o Clássico dos Milhões caminha rumo ao centenário, em 2023, ostentando rótulos testados e aprovados em três das melhores vinícolas do país europeu. Aos 40 anos, o meia Nenê continua dando bons frutos no Vasco após mudar de patamar nas passagens pelo Monaco e o Paris Saint-Germain na carreira. O cinquentão Paulo Sousa pendurou o par de chuteiras em 2002 e escolheu uma vida cigana no processo de transição para a carreira de técnico. A penúltima parada do português antes de assumir a prancheta do Flamengo foi no Bordeaux.

A possibilidade de o Vasco desbancar o arquirrival nas semifinais do Campeonato Carioca, a partir de hoje, às 20h, no primeiro dos dois jogos da série que decidirá o adversário de Botafogo ou Fluminense, passa pelos pés do camisa 10 Nenê.

Parte da carreira do ídolo cruzmaltino, talvez a mais bela, foi construída no futebol francês. Vinte e dois gols em 72 jogos com a camisa do Monaco fizeram o paulista de Jundiaí conquistar seguidores. Depois de uma rápida passagem pelo Espanyol, desembarcou na Cidade Luz para vestir a camisa do Paris Saint-Germain e levá-lo ao título da Ligue 1 na temporada 2012/2013. Os 48 gols em 112 jogos pelo time da capital renderam até movimentos, em 2011, a fim de que ele se naturalizasse e vestisse a camisa da seleção.

Preterido pelo técnico Mano Menezes à época, Nenê não descartou a possibilidade de aceitar o convite se fosse convocado, mas permaneceu fiel ao país de nascimento. "Não me ofereci para atuar pela França. Tenho esperança de defender o Brasil e vou fazer de tudo para isso acontecer. Se não vier, aí seria algo a se pensar. Meu foco é chegar à Seleção, sei que a concorrência é grande. Mas se mostrar potencial e mantiver o meu bom nível da última temporada e desta, acho que posso estar lá", comentou em 2011.

Nenê estava tão em alta à época que havia sido eleito o melhor jogador do Campeonato Francês. Houve burburinho de que Mano o convocaria justamente para um amistoso contra a França, em Saint-Denis, mas não passou de boato. "Todos se surpreenderam, porque eu tinha sido eleito o melhor estrangeiro do campeonato e o time estava entre os primeiros. Tinha a expectativa e isso até me atrapalhou um pouco", explicou à época. Respeitado em Paris, o craque do Vasco foi homenageado pelo PSG e ovacionado pela torcida, em dezembro, no Parque dos Príncipes, antes do jogo contra o Brugge pela Liga dos Campeões.

O técnico do Flamengo, Paulo Sousa, não jogou na França, mas aprimorou-se como técnico em uma temporada à frente do Bordeaux. Trabalhou com Pablo, zagueiro recém-chegado ao elenco rubro-negro. Não foi uma jornada de sucesso. O time terminou em 12º lugar na Ligue 1, foi eliminado na fase 16 avos da Copa da França e nas oitavas de final da Copa da Liga. O português não foi brilhante, mas usou a experiência como mais um aprendizado na vida cigana pelo mundo da bola.

Antes de desembarcar no Brasil, ele trabalhou na Inglaterra, Suíça, Israel, Itália, China e Polônia. Embora tivesse um time limitado, conseguiu algumas vitórias imponentes contra os tradicionais Olympique de Marselha, de Rudi Garcia, e Monaco, do compatriota Leonardo Jardim, ambas no Campeonato Francês.

A bagagem acumulada no Monaco e no PSG é o trunfo de Nenê para implodir a vantagem de jogar por dois resultados iguais nas semifinais contra o Flamengo. O arquirrival terminou em segundo lugar na Taça Guanabara. Favorito ao quarto título consecutivo, o Flamengo usará um pouquinho do aprendizado de Paulo Sousa no Bordeaux para não ser surprendido pelo arquirrival.