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Protagonistas do clássico de hoje no Mané Garrincha, Flamengo e Botafogo transitam facilmente na capital do poder e foram os principais influenciadores das duas revoluções recentes no futebol nacional: a Lei do Mandante e a SAF

Marcos Paulo Lima
postado em 08/05/2022 00:01
 (crédito: IsacNobrega/PR)
(crédito: IsacNobrega/PR)

O desnível técnico e financeiro entre o milionário Flamengo e o emergente Botafogo dentro das quatro linhas contrasta com o poder isonômico dos dois clubes no campo da política. Adversários na matinê de hoje, às 11h, na Arena BRB Mané Garrincha, pela quinta rodada do Campeonato Brasileiro, os dois times são protagonistas das duas maiores revoluções recentes no futebol nacional. Com trânsito livre no Palácio do Planalto, o lado rubro-negro da força fez do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), o maior aliado em defesa da Lei do Mandante. A bancada alvinegra já foi mais influente no Congresso Nacional. Colou no ex-presidente da Câmara dos Deputados e torcedor assumido do Glorioso, Rodrigo Maia (PSDB-RJ), para colocar em pauta e dar celeridade ao trâmite do seu plano de salvação — a Sociedade Anônima do Futebol (SAF).

Jair Bolsonaro se diz torcedor do Botafogo, no Rio, e do Palmeiras, em São Paulo. Esteve recentemente no Mané Garrincha para apoiar o time alvinegro contra o Ceilândia na Copa do Brasil. Porém, fez mais pelo Flamengo do que por qualquer outro clube neste primeiro mandato. No início do governo, apareceu mais de uma vez, no Mané Garrincha, vestindo vermelho e preto a tiracolo com o ex-ministro da Justiça, e hoje desafeto, Sergio Moro.

A lista de benesses é variada. Foi "garoto-propaganda" do Flamengo ao entregar agasalho do clube ao presidente da China, Xi Jinping, em visita a Pequim. "É o melhor time do Brasil no momento", alegou ao entregar o mimo. E profetizou que 1,3 bilhão de chineses torceriam pelo clube carioca na final da Libertadores de 2019 contra o River Plate. Houve até saia justa. A diretoria negou ter enviado a encomenda e deixou claro que a iniciativa partiu exclusivamente da comitiva de Jair Bolsonaro.

Em outro momento, a cúpula rubro-negra alinhou-se ao presidente na briga pela retomada do futebol com portões fechados — e depois abertos — no auge da pandemia, em visitas ao Palácio do Planalto. Em uma delas, tramou na surdina com Bolsonaro a Lei do Mandante, um tema de interesse quase exclusivo do Flamengo à época. Os demais clubes foram surpreendidos com a canetada do Executivo.

Os laços com a diretoria do Flamengo levaram Bolsonaro a indicar, no mês passado, Rodolfo Landim ao cargo de presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Especulações deram conta, até, de um suposto interesse do governo em tê-lo como vice na candidatura à reeleição. Isso não se confirmou.

Supermaia

Enquanto o Flamengo cuidava dos seus interesses no Palácio do Planalto, o Botafogo usava a influência do então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, para tirar da fila o projeto da Sociedade Anônima do Futebol (SAF). O político deu celeridade com o objetivo de favorecer a intenção da família Moreira Salles de assumir o departamento de futebol do clube.

Maia, inclusive, esteve na CBF para discutir clube-empresa. Infiltrado na posse da técnica da Seleção feminina, Pia Sundhage, fez até lobby na sede da entidade: "O clube brasileiro precisa de capital estrangeiro. E só vai entrar se tiver estrutura profissional. Hoje, a forma de administração é primária, primitiva e atrasada".

Defensor do projeto dos irmãos Moreira Salles, cobrou como torcedor. "Acho muito bom. Quero o Botafogo com condição de disputar título. Fiz um apelo para que o presidente da CBF (Rogério Caboclo, à época) ajude o Botafogo", revelou Maia.

Apesar do engajamento do político-torcedor, o mecenas do Botafogo é outro. O empresário norte-americano John Textor assumiu o departamento de futebol. O negócio frustrou Maia. "Entregaram o Botafogo de graça. Usaram a operação do Cruzeiro para fingir que há um bom negócio para o Botafogo. Engano forte. Vender o clube para um comprador em dólar ou euro é fácil. Uma promoção do Black Friday", ironizou no Twitter.

Frequentadores do Mané Garrincha, Bolsonaro e Maia arriscam se encontrar, hoje, nos camarotes da arena. O presidente é mais assíduo do que o deputado, e até provocou o desafeto em uma live no ano passado. "Eu torço para o Botafogo de verdade." Resta saber com que roupa o presidente vira-casaca irá ao jogo.

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