Foi-se o tempo em que os treinadores brasileiros eram quem comandavam o principal campeonato do país. O legado vitorioso deixado pelo português Jorge Jesus em 2019, no Flamengo, abriu caminhos para que outros estrangeiros também pudessem traçar rota à eldorado que o Brasileirão se tornou para eles. Não à toa, a atual disputa da Série A registra um recorde de comandantes forasteiros: dez, com nove atualmente empregados simultaneamente — superando os sete do ano passado. Mesmo após perder Alexander Medina, demitido do Internacional, em abril, o grupo ganhou o upgrade de António Oliveira, no Cuiabá.
De lá para cá, o Brasileirão concluiu oito de suas 38 rodadas. Embora seja cedo para definições, é possível constatar o domínio ou, pelo menos, a boa largada da maioria dos times comandados por técnicos estrangeiros. Dos treinadores importados para os gramados verde-amarelos, sete figuram entre os 10 primeiros colocados na tabela, sendo que desse total quatro compõe o G-4: o Palmeiras, do português Abel Ferreira, o Atlético-MG, do argentino Antonio Mohamed, o Corinthians, do também lusitano Vítor Pereira, além do Coritiba do paraguaio Gustavo Moringo. O fato é inédito nos pontos corridos.
Nesta rodada, inclusive, os líderes Abel e Mohamed fazem confronto direto no Brasileirão em Palmeiras x Atlético-MG. Mas o que isso significa? Os esquadrões nacionais estão mais abertos às novas filosofias? E será que isso coloca em cheque a preferência por profissionais brasileiros? Especialistas no assunto respondem ao Correio.
Com passagens pelos times femininos do Minas Brasília e do Cruzeiro na Série A1 do Brasileirão, o técnico brasiliense Rodrigo Campos diz que o trabalho de estrangeiros por aqui é fruto de uma globalização benéfica do futebol. "A troca de experiências, de formas de pensar e desenvolver o jogo, novas culturas, tudo isso enriquece o futebol brasileiro. Da mesma forma que temos bons profissionais brasileiros trabalhando fora do país. Não vejo nenhum problema nisso", comenta.
Diretor de futebol do Atlético-MG, atual campeão do Brasileirão, Rodrigo Caetano avaliou como positiva a presença estrangeira no país, em especial, por acompanhar de perto o trabalho do argentino Antonio Mohamed. "Treinadores e atletas não são escolhidos pelo idioma. O Turco é um cara com muita experiência. É um técnico que muda muito pouco o estilo de jogo daquilo que o Cuca aplicava", avalia.
Escolha técnica
Para o dirigente do Galo, as características do profissional influenciam muito na escolha, como foi na hora de definir um substituto para Cuca. "O Turco Mohamed foi um atleta consagrado, com conhecimento profundo do futebol sul-americano, e esse foi um dos motivos por termos optamos por dele. Poderíamos ter buscado um técnico europeu, mas entendíamos ser muito mais fácil um técnico sul-americano, que conhecesse a nossa equipe e o nosso elenco", revela.
Ex-colega de clube do técnico do elenco masculino do Cruzeiro, o uruguaio Paulo Pezzolano, que lidera a Série B com a Raposa, Campos fala o que considera como fundamental para um treinador. "O mais importante é conhecer o ambiente que está se inserindo e ser um bom profissional. Gerir bem o grupo de trabalho, ter ideias efetivas para desenvolver o jogo", diz.
Para o treinador brasiliense, a tendência por gringos não ameaça os profissionais locais. "Cada um acrescenta à sua maneira. Tem equipes que se tornam mais especialistas em se defender, outras têm mais pontos positivos quando estão atacando", analisa.
Rodrigo Caetano enxerga o cenário de maneira semelhante. "A vinda de estrangeiros é bom para todos, seja técnico e diretores. Cabe a nós buscarmos a nossa qualificação. Tudo isso aumenta o nível do nosso futebol", analisa. "Estamos tendo uma boa escola de formação de técnicos brasileiros com a CBF Academy, que investe cada vez mais. Estamos no bom caminho da globalização e evolução dos técnicos brasileiros", pontua o dirigente.
Embora a presença estrangeira seja cada vez mais forte na elite do futebol brasileiro, são os donos da casa quem costumam faturar o caneco. Das últimas três edições de Série A, duas foram conquistadas por times comandados por brazucas: o Atlético-MG de Cuca, no ano passado, e o Flamengo de Rogério Ceni na temporada 2020.
Apesar dessa constatação, Rodrigo Campos não acredita que o Brasileirão favoreça os comandantes brasileiros. "O campeonato favorece quem o conhece melhor e os atletas que nele estão. Mas profissionais estrangeiros também podem se preparar para isso. Tenho certeza que os profissionais que vem trabalhar no Brasil já acompanham a competição à distância. Da mesma forma que nós acompanhamos o futebol de outros lugares do mundo", frisa o treinador.
* Estagiário sob a supervisão
de Danilo Queiroz
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