Teoria da evolução

Marcos Paulo Lima
postado em 11/06/2022 00:01
 (crédito: Antonio Scorza/AF)
(crédito: Antonio Scorza/AF)

O início da terceira Era Dorival Júnior no Flamengo, hoje, às 21h30, contra o Internacional, no Beira-Rio, em Porto Alegre, pela 11ª rodada do Campeonato Brasileiro, é praticamente uma linha do tempo da teoria da evolução técnica e financeira do clube mais popular do Brasil.

O técnico assumiu o time pela primeira vez em 2012, no último semestre da gestão de Patricia Amorim. Foi mantido com dificuldade pelo presidente eleito Eduardo Bandeira de Mello na fase pobre iniciada em 2013, retornou na etapa rica concluída em 2018, no segundo mandato do dirigente, e agora assume oficialmente a responsabilidade de comandar o elenco mais rico e badalado do país.

O primeiro desembarque de Dorival Júnior na Gávea aconteceu numa época em que o Flamengo se comportava como falso rico. Havia feito uma festa imensa para celebrar a contratação de Ronaldinho Gaúcho, em 2011, prometeu mundos e fundos ao jogador eleito duas vezes melhor do mundo (2004 e 2005), não deu conta de honrar a palavra e perdeu o craque devido a uma dívida imensa e o início de uma longa batalha jurídica.

Vanderlei Luxemburgo e Joel Santana conseguiram trabalhar com o Dentuço. Dorival Júnior, não. Quando herdou o cargo em 22 de julho de 2012, o astro restante da companhia era o Artilheiro do Amor, Vágner Love. O primeiro Flamengo escalado por ele no empate por 0 x 0 com a Portuguesa na 12ª rodada da Série A daquela temporada tinha: Paulo Victor; Leonardo Moura, Welinton, Marco González e Ramon; Aírton e Luiz Antônio; Ibson, Matheus e Adryan; Vágner Love. Ele cumpriu seu papel. Afastou o risco de rebaixamento e terminou em 11º lugar.

Vitorioso nas urnas, Eduardo Bandeira de Mello decidiu manter o treinador no início da temporada de 2013. No entanto, a política pés no chão iniciada com a devolução de Vágner Love ao CSKA Moscou, da Rússia, atingiu Dorival Júnior. O salário considerado acima do teto estabelecido pela nova administração impediu a continuidade do trabalho.

O Flamengo comandado por Dorival Júnior já era outro. Mesmo assim, conseguiu encantar a torcida no início de 2013. Um dos destaques da companhia era o ponta-direita Rafinha em parceria com o centroavante Hernane Brocador. Felipe; Leonardo Moura, Wallace, Marco González e João Paulo; Cáceres, Elias, Ibson e Carlos Eduardo; Rafinha e Hernane passou a ser o time ideal de Dorival até a eliminação na semifinal da Taça Guanabara diante do Botafogo, por 2 x 0. Sem acordo com a diretoria da época para redução salarial, o treinador saiu para a entrada de Jorginho, campeão da Copa de 1994.

"O técnico Dorival sempre desenvolveu seu trabalho pautado na ética, profissionalismo e na manutenção da filosofia de formação de atletas das categorias de base, sendo responsável pelo excelente ambiente do futebol profissional", elogiou o vice de Futebol Wallin Vasconcelos à época.

As portas ficaram abertas e o treinador retornou em 2018, no último semestre da gestão de Bandeira de Mello. O Flamengo havia virado rico três anos antes. Estava imponente no mercado com as compras de Diego Alves, Everton Ribeiro, Vitinho, Cuéllar, Uribe entre outros reforços relevantes. Ele topou a missão de comandar o time nas últimas 12 partidas da temporada em perseguição ao líder Palmeiras. Venceu sete, empatou três e perdeu duas.

Patrão de Dorival Júnior por duas vezes, o ex-presidente Bandeira de Mello aprovou a escolha dele para a sucessão do português Paulo Sousa. "Excelente treinador. Vamos torcer para que tenha boas condições para desenvolver seu trabalho", disse em entrevista ao Correio na última quinta-feira.

Preterido por Rodolfo Landim na virada de 2018 para 2019, Dorival Júnior viu Abel Braga eleito para ser o primeiro técnico da nova gestão. Três anos depois, aterrissou em Porto Alegre com a missão de pacificar o elenco mais caro e badalado do país.

Ao contrário das outras duas passagens pelo cargo, trabalhará com jogadores que, até pouco tempo, eram referências de setores de times de ponta da Europa, como Filipe Luis e David Luiz, além de grifes como Bruno Henrique, Arrascaeta, Marinho, Pedro e os campeões olímpicos Thiago Maia e Gabigol.

Com fama de classificar times para a Libertadores, Dorival Júnior tem a maior chance de finalmente conquistar o Brasileiro. O melhor desempenho pessoal na Série A faz três anos. Levou o Santos ao vice com 71 pontos. A marca daquele time era a posse de bola. O Peixe encerrou o Brasileirão com média de 53,4%, atrás apenas do São Paulo (53,8%). Na despedida ao elenco do Ceará, o treinador que venceu o câncer de próstata e a covid-19 nos últimos nos últimos três anos disse que seguiu o coração ao topar a missão de estancar a crise rubro-negra.

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