BRASILEIRÃO

Resgate da autoridade

Zagueiros com rodagem internacional mostram dificuldade para repetirem desempenho nos gramados nacionais. Enquanto David Luiz segue em baixa na Gávea, Miranda busca espaço no Morumbi e Godín prepara adeus ao Galo

Victor Parrini*
postado em 18/06/2022 00:01
 (crédito: Gilvan de Souza/Flamengo)
(crédito: Gilvan de Souza/Flamengo)

O Brasil é um destino quase que certo para muitos jogadores experientes. O nível do futebol praticado por aqui ainda permite que muitos medalhões, vindo de outras ligas, principalmente da Europa, rendam conforme ou até acima do esperado e caiam nas graças das torcidas. No entanto, as competições continentais e as 11 primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro evidenciam uma classe de boleiros que vem sofrendo com a readaptação ao cenário sul-americano: os zagueiros.

Defensores que em um passado não tão distante eram desafiados pelos atacantes das principais ligas do Velho Continente, David Luiz, Miranda e Godín hoje jogam, respectivamente, por Flamengo, São Paulo e Atlético-MG e dividem a jogada com a incerteza, a falta de regularidade e oportunidades e, até mesmo, com a iminência de despedidas precoces.

O que está acontecendo com os xerifes dos principais times do país? O experiente zagueiro Emerson responde ao Correio. Cria de Brasília e com passagens por grandes equipes como Flamengo, Botafogo, Atlético-MG, Athletico-PR, Coritiba, Guarani e até Seleção Brasileira, o capitão do bicampeonato candango do Gama em 2019 e 2020 analisa os possíveis obstáculos enfrentados pelos colegas de retaguarda.

"As maiores dificuldades que esses zagueiros estão passando são a adaptação, assim como o calendário apertado. Esses atletas que retornam ao Brasil após temporadas fora é muito difícil render da mesma maneira que saíram", analisa Emerson. Para o zagueiro de 39 anos, a falta de brilho dos colegas de profissão pode estar atrelada à mudança no cenário. "A pressão no futebol tem aumentado e a intensidade é o grande obstáculo para esses jogadores. A idade já começa a pesar, intensidade e força também", segue.

Nem mesmo o mais pessimista dos torcedores rubro-negros imaginaria que o zagueiro da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2014, campeão europeu pelo Chelsea em 2012 e com passagens por clubes como Benfica, Paris Saint-Germain e Arsenal, encontraria tantas dificuldades para apresentar um bom futebol por aqui. David Luiz chegou ao Flamengo em setembro do ano passado e, de lá para cá, soma 34 partidas, com finais de Libertadores, Supercopa do Brasil e Carioca perdidas, além de exibições questionáveis.

"É um jogador experiente. As trocas de técnicos no Flamengo não mudam muito. O zagueiro costumam ter mais facilidade para se adaptar. Nós, jogadores de futebol, somos treinados e preparados para nos adaptarmos com rapidez, pois vivemos em um mundo que tudo muda muito rápido", ressalta Emerson, que jogou o Candangão de 2022.

Peça-chave do São Paulo tricampeão brasileiro entre 2006 e 2008, Miranda está longe de ser aquele que arrebatou os corações tricolores. Após passagens de alto nível por Inter de Milão e Atlético de Madrid, o zagueirão se aventurou no futebol chinês por duas temporadas, quando defendeu o Jiangsu Suning. Com a poupança feita, retornou ao Brasil no ano passado e tirou a equipe do Morumbi da fila de nove anos sem títulos. Na atual temporada, ele está incomodado com a reserva, enquanto vê os companheiros Diego Costa assumirem o protagonismo na defesa levantada pelo técnico e ex-parceiro de campo, Rogério Ceni.

"Venho acompanhando o Mirando e, na minha opinião, ele ainda é jogador de Seleção Brasileira. Está sempre muito centrado e é extremamente profissional. Acredito que algo extracampo está incomodando ele e atrapalhando o seu desempenho", analisa Emerson.

Ao contrário do que esteve acostumado, o uruguaio Diego Godín também está longe de ser considerado o pilar defensivo do Atlético-MG. Veterano, com mais de 12 temporadas de La Liga no currículo (nove pelo Atlético de Madrid e três pelo Villarreal) e passagens por Inter de Milão e Cagliari, Godín está muito próximo de deixar Belo Horizonte. Embora tenha desembarcado no Brasil em janeiro, o boleiro de 36 anos já prepara o adeus após vestir a camisa do Galo nove vezes, sem convencer o técnico Turco Mohamed. O destino de Godín será o Veléz Sarsfield, da Argentina, do treinador compatriota e ex-Internacional, Alexander Medina.

"O Godin não se adaptou bem ao Brasil e também ao estilo de jogo do Atlético-MG, que é de muita intensidade, algo que ele não tem mais. Acredito que esteja fazendo o certo em mudar de ares", comenta Emerson.

No futebol há 20 anos, o ídolo do Gama sugere uma alternativa para treinadores e diretores que estão em busca de peças para o miolo de zaga. "Precisamos renovar com atletas mais jovens. Qualidade técnica não se discute. Nenhum zagueiro novo vai ter o desempenho dos veteranos, mas, em relação à força, vigor até mesmo pela idade serão superiores no futebol de hoje", afirma. Comandantes da retaguarda em outras épocas, os xerifes tentarão, seja aqui no Brasil ou em outro canto do planeta, resgatar suas autoridades diante dos atacantes adversários.

* Estagiário sob a supervisão
de Danilo Queiroz

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