A versão cult de Bia

Referências da número 28 do mundo vão de Nelson Mandela a Legião Urbana nas redes sociais. Com dois títulos recentes na grama e série de 12 vitórias em 13 jogos, maior esperança do Brasil em Wimbledon estreia hoje no Grand Slam

Marcos Paulo Lima
postado em 27/06/2022 00:01
 (crédito: Mark Brown/Getty Images/AFP)
(crédito: Mark Brown/Getty Images/AFP)

O que Nelson Mandela, Charle Brown Jr., Erasmo Carlos, The Killers e Legião Urbana têm a ver com a maior esperança do Brasil no terceiro Grand Slam da temporada? Número 28 do mundo, Beatriz Haddad Maia exibe um perfil eclético nas redes sociais para lidar com a pressão e as alterações de humor causadas por um esporte quase sempre solitário como o tênis. Cada publicação da versão cult de Bia é mais do que uma espécie de diário de quadra da talentosa paulistana de 26 anos. É aula de perseverança.

Turbinada pelos dois primeiros títulos da carreira no padrão WTA conquistados nas gramas inglesas de Nottingham e Birmingham neste mês, e pela sequência de 12 vitórias consecutivas até a eliminação na semifinal de Eastburne na última sexta-feira, a cabeça de chave 23 Bia Haddad estreia hoje no torneio de simples, por volta das 9h, contra a eslovena Kaja Duvan, 60ª na lista, com o status de ser a primeira mulher brasileira a alcançar o top 30 da modalidade desde a compatriota Maria Esther Bueno (1939-2018) — tricampeã no carpete de Wimbledon nas edições de 1959, 1960 e 1964. Bia Haddad jamais perdeu em dois duelos com a adversária e também disputará duplas com a polonesa Magdalena Frech.

Ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela (1918-2013) é uma das referências de Bia Haddad. Na semana passada, ela citou o Prêmio Nobel da Paz de 1993 para amenizar a queda nas semifinais de Eastbourne e tratá-la como lição. "A gente nunca perde. Vencemos ou aprendemos", reproduziu, antes de justificar a postagem. "Hoje nos tocou aprender. E assim é a vida", manifestou-se aos quase 22 mil seguidores no Instagram.

Sucessos e insucessos de Bia são acompanhados de trilhas sonoras. Uma das canções da playlist durante a série invicta nas gramas foi Dias de Luta, Dias de Glória, de Charlie Brown Jr., acompanhada de uma emocionante reflexão:

"Ser tenista é um estilo de vida. É um aprendizado constante. É saber lidar com o desconforto, com a frustração. É um conflito entre o nosso ego/vaidade e nossa humildade. É saber que nem sempre jogando bem, vamos ganhar. É saber aceitar as imperfeições e ir pra luta com o que temos. É abrir mão de estar hoje com a família. Mas proporcionar momentos em família por meio dela. Enfim, ser tenista é especial", publicou no Dia do Tenista. "Obrigado, tênis, por me desafiar todos os dias."

Bia esperou a hora dela chegar e celebrou os dois primeiros títulos da carreira, em Nottingham e Birmingham. A tenista também é engajada contra qualquer tipo de preconceito. Admiradora de Erasmo Carlos, usou, por exemplo, a música Gente Aberta, do Tremendão, como trilha sonora de um desenho elaborado por ela nas raras horas vagas para se posicionar pela diversidade de gênero.

Bandas e cantores nacionais e internacionais conquistaram espaço nas publicações de Bia. Recentemente, inspirou-se em Gravity, de John Mayer, em uma passagem por San Diego. Postou a canção Home, de Jack Johnson, para exibir um raríssimo encontro com a família.

Subiu o som da música Mr. Brightside, do The Killers, na conta pessoal. Acionou play em Quase Sem Querer, da Legião Urbana, quando disputava torneios na Austrália, e deixou um recado enigmático aos fãs: "Work in progress. O resto deixo para o Renato Russo". Um dos trechos é um desabafo: "Quantas chances desperdicei/Quando o que eu mais queria/Era provar pra todo o mundo/Que eu não precisava provar nada pra ninguém".

Embalada

É nessa vibe que Bia Haddad pretende fazer a melhor campanha possível em Wimbledon. Ela não é favorita como a número 1 do mundo, a polonesa Iga Swiatek, e a heptacampeã Serena Williams. Medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, Laura Pigossi é outra representante brasileira no torneio de simples na Inglaterra.

Apesar da última impressão na grama com a eliminação nas semifinais em Eastbourne, Bia Haddad está otimista. "Muito feliz. Não só pelas três semanas na grama até aqui, mas também pela minha evolução ao longo do ano. Consegui jogar em alto nível e sigo saudável. Sinto-me pronta para lutar por cada ponto em Wimbledon", afirmou.

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