ATLETISMO

Passadas firmes no Mundial

Candanga de coração, Elianay Pereira foi convocada para representar o DF em Oregon, nos Estados Unidos

Qual é o preço de um sonho? Para os atletas, entrega e persistência. E a história da corredora Elianay Pereira segue esse enredo. Aos 38 anos, ela vive a alegria de ter sido convocada para representar o Distrito Federal e o Brasil em um dos eventos mais importantes do esporte: o Mundial de Atletismo. A competição será realizada entre 15 e 24 de julho, em Oregon, nos Estados Unidos, e contará com a presença da candanga de coração nos 35km da marcha atlética.

Natural de Gurupi, no Tocantins, mas no DF desde o início da vida, Elianay Pereira tem amor pela capital, em especial, por Sobradinho. Ela iniciou a trajetória no esporte cedo, ainda aos seis anos. Inspirada no pai, que participava de corridas na década de 1980, ela resolveu seguir os mesmos passos. O progenitor era o grande apoiador do sonho da filha. "Sempre o tive como maior incentivador. Ele ia ao comércio local atrás de patrocínio. Então, desde os 14 anos, minha renda vem do atletismo, mas isso foi graças ao meu pai", conta.

Como nem tudo são flores, a trajetória de Elianay nas corridas de rua durou até os 17 anos, quando sofreu com uma lesão no joelho e precisou ser operada. O procedimento cirúrgico interromperia a história dela no esporte. No entanto, a corredora encontrou no próprio atletismo uma solução: competir pela marcha atlética.

Com mais de 30 anos de experiência, Elianay reconhece que a marcha atlética não costumava ser o chamariz para os jovens que querem entrar no atletismo. Porém, com os bons resultados dela e, principalmente, da cria do DF Caio Bonfim, o cenário tem mudado.

"Hoje, com os bons resultados da marcha atlética, principalmente através do Caio, muitos atletas já chegam no nosso clube pedindo para fazer marcha. A procura tem aumentado e mudado aos poucos", diz.

Os dramas

A superação e persistência são fatores que andarão sempre lado a lado com o atleta. Elianay passou por outros dramas e frustrações na carreira. "Em 2014, fiz uma cirurgia nos dois joelhos de uma só vez. Pensei em parar, mas eu disse para mim mesma que iria voltar, treinar forte e estar nas provas principais do mundo. "No ano seguinte, alcancei os meus melhores resultados até então. Já estava sonhando com as olimpíadas do Rio em 2016", lembra.

No entanto, o sonho olímpico da atleta de Sobradinho foi interrompido. Assim como boa parte das mulheres no esporte, Elianay precisou abdicar temporariamente da carreira para cuidar da fase final da gestação e dar à luz ao seu filho, Arthur Atawan, a três meses da abertura dos Jogos Rio-2016.

"Engravidei em 2015 e tive meu filho no ano olímpico. Pensei em largar o esporte de novo, mas, pelo meu filho, voltei a treinar e, de 2018 para cá, consegui estar em Jogos Pan-Americanos e Mundias. Só não estive nos Jogos Olímpicos do ano passado porque a minha categoria (50km) não entrou", ressalta.

Em 2020, Elianay voltou a sofrer com lesões. Ela teve uma ruptura da posterior em grau 2 e precisou ficar 40 dias parada. A atleta também precisou contornar uma alteração no pulmão causada pela covid-19, que demandou fisioterapia respiratória e mais 45 dias sem treinos. E hoje, a pouco mais de um mês do início do Mundial nos EUA, ela e recupera de outro problema no joelho.

"As lesões nos deixam triste, pois não depende de nós. Dá vontade de querer parar, mas a vontade de voltar é maior. E se você quer e busca ajuda psicológica e física, com certeza a volta vai acontecer. Sou uma pessoa de muita fé e creio que Deus ainda tem muito para mim no Atletismo", afirma.

Aos 38 anos, Elianay compartilha que muitas pessoas perguntam quando ela irá encerrar a carreira. Porém, a competidora do DF disse isso não está nos planos. "Estou na minha melhor fase. Na marcha e na maratona, é possível competir até 40, 42 anos com qualidade e eu tenho buscado isso. Digo que ainda estou dando trabalho pras novinhas, então sigo firme", conta com bom humor.

*Estagiário sob a supervisão
de Danilo Queiroz