30 anos da seleção que encantou o planeta

Marcos Paulo Lima
postado em 26/07/2022 00:01

Há 30 anos, em 26 de julho de 1992, uma constelação dos Estados Unidos pisava na quadra do Palau Municipal d'Esports de Badalona, em Barcelona, para mudar a história não somente do basquete profissional ou dos Jogos Olímpicos, mas do esporte. Em uma época sem redes sociais, o Dream Team viralizou nas tevês do planeta. Fãs ou não da bola laranja queriam diversão e arte protagonizados por 11 jogadores profissionais da NBA — a liga norte-americana — e um promissor universitário que ousou desbancar Shaquille O'Neal.

Magic Johnson, Larry Bird, Michael Jordan, Charles Barkley, Karl Malone, David Robinson, Clyde Drexler, Chris Mullin, Scottie Pippen, John Stockton, Patrick Ewing e Christian Laettner formaram uma dos elencos mais próximos da perfeição no esporte. A ponto de o técnico responsável por domar as feras elaborar a melhor definição do que foram aqueles 45 dias de tantas feras sob o mesmo teto de 24 de junho de 1992, quando se hospedaram em um hotel de luxo de San Diego, até a conquista do ouro, em 8 de agosto, contra a Croácia. por 117 x 85. Por sinal, o triunfo com a menor vantagem de pontos.

"Foi como viajar com 12 estrelas de rock. Elvis e os Beatles, juntos. Formamos uma equipe majestosa, Haverá outros times profissionais nos Jogos Olímpicos, mas nunca mais um como este", cravou o técnico Chuck Daly. Bicampeão da NBA em 1989 e 1990 à frente dos Bad Boys do Detroit Pistons, o maestro do Dream Team morreu em 9 de maio de 2009.

O Dream Team surgiu na esteira de fracassos dos EUA. Perto do fim da Guerra Fria, o país do basquete foi eliminado pela extinta União Soviética nas semifinais do Jogos de Seul-1988 por 82 x 76 nas semifinais. Passou o vexame de disputar a medalha de bronze. Dois anos depois, caiu diante da Iugoslávia no Mundial de 1990, por 99 x 91. "Não havia mais como os nossos universitários vencerem. Os europeus eram formados por homens", diagnosticou, à época, Mike Krzyzewski, técnico da Universidade de Duke e escolhido para formar o corpo técnico do Dream Team na comissão de Chuck Daly.

Coube ao então secretário-geral da Federação Internacional de Basquete (Fiba), o croata Borislav Stankovic, propor uma revolução. Em uma reunião com o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), o espanhol Juan Antonio Samaranch, e o comissário da NBA, David Stern, o dirigente convenceu ambos a liberarem a participação dos astros no torneio. O tema foi a votação em 7 de abril de 1989 e passou com 56 votos a 13.

Houve resistência da parte de Stern, mas ele rapidamente se rendeu à viralização do Dream Team. "Não acreditávamos que fosse virar o fenômeno que foi. Não estávamos entusiasmados com essa ideia", admitiu o todo-poderoso da NBA depois do sucesso.

A montagem do elenco não foi tão simples. Magic Johnson deu início à badalação. "Ganhei tudo, menos uma medalha olímpica. Quero jogar", avisou depois de surpreender o mundo do esporte ao anunciar que havia contraído HIV, o vírus da Aids, e dar um tempo do Los Angeles Lakers. Aposentado, o ídolo do Boston Celtis, Larry Bird, entrou na festa. Faltava Michael Jordan. Ouro em Los Angeles-1984, ele fez charminho, mas logo aderiu.

Em 18 de fevereiro de 1991, uma capa histórica da revista Sports Illustrated exibiu na capa um quinteto fantástico com as imagens de Magic Johnson, Charles Barkley, Karl Malone, Patrick Ewing e Michael Jordan batizado de Dream Team. Isiah Thomas era a maior ausência entre os 12. Há duas versões. Uma, as declarações polêmicas sobre a doença de Magic. Outra, a rivalidade brutal com o Chicago Bulls, de Jordan, na NBA.

Havia uma vaga para um "estagiário". A batalha ficou entre Christian Laettner, campeão bicampeão universitário por Duke e considerado uma das joias da época, e um outro acadêmico chamado Shaquille O'Neal. A história mostrou quem era o mais promissor…

Única "derrota"

Talvez você não saiba, mas o Dream Team perdeu um jogo. Não era oficial, mas aconteceu em um jogo-treino contra um time seleto de universitários formado por Chris Webber, Anfernee Hardaway, Grant Hill, Allan Houston. Os meninos derrotaram os homens por 62 x 54 e abriram uma crise no time desfalcado de Michael Jordan. Os marmanjos queriam uma revanche no dia seguinte, mas o sábio técnico Chuck Daly não quis. "Houve um silêncio na quadra que dava medo. Nós fomos os despertadores deles", testemunhou um assustado Allan Houston.

Outras três exibições mostram como aquele time era vaidoso. O primeiro jogo oficial foi contra Cuba, uma arquirrival política. O massacre por 136 x 57 pelo Pré-Olímpico das Américas foi o mais imponente do Dream Team. Mas um jogo deu a exata dimensão de que somente o próprio Time dos Sonhos poderia transformá-lo em um pesadelo.

Antes do desembarque nos Jogos de Barcelona, o Dream Team passou por Monte Carlo. Ali rolou o chamado jogo que ninguém viu. De um lado, Jordan, Pippen, Malone, Ewing e Bird. Do outro, Johnson, Barkley, Robinson, Mullin e Drexler. Stockton recuperava-se de lesão. Laettner assumiu o papel de reserva. O time de Jordan venceu e o astro provocou Johnson e Bird. "Agora, há um novo xerife aqui", avisou o hexacampeão da NBA. Dos 11 companheiros no Dream Team, cinco perderam finais da NBA para ele: Johnson, Barkley, Drexler, Malone e Stockton. Uma prova de que o marrento dos Bulls tinha razão.

Jordan virou o xerife do Dream Team, mas era vaidoso. A performance de Barkley o incomodava. O astro do Phoenix Suns foi o cestinha daquele Dream Team com média de 18 pontos por jogo contra 14,9 de Michael. "Se ficássemos juntos mais duas semanas", disse Barkley assumindo uma certa guerra de vaidades nos bastidores daquele timaço.

Enquanto uns competiam, outros se divertiam. Compreendiam a missão do Dream Team. "O esporte cresceu em popularidade e as nossas próprias marcas também. Jordan saiu ainda maior. Os meninos puderam sonhar em um dia jogar na NBA". O pivô espanhol Pau Gasol tinha 12 anos. Inspirado nos astros, não somente virou jogador de basquete, foi bicampeão da liga pelos Lakers e escolhido seis vezes para o All-Star Game.

A semente estava plantada. Desde aqueles Jogos, Dream Team virou sinônimo para padrão de excelência na formação de um time. Foi apelido do Barcelona comandado pelo técnico Johan Cruyff na conquista inédita da Champions League em 1992. Houve adaptação no Real Madrid na união Ronaldo, Zidane, Figo, Beckham, Owen, Raúl, Roberto Carlos — chamados de galáticos. Mas nenhum time como aquele Dream Team de basquete.

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