Se compararmos a Série D do Campeonato Brasileiro a um vestibular, podemos dizer que o futebol do Distrito Federal está muito abaixo da nota de corte exigida para conquistar uma aprovação ou a confirmação do acesso. As eliminações do Ceilândia, na fase de grupos, e do Brasiliense, no primeiro mata-mata do torneio, reforçam a dificuldade dos times locais na fuga para além do limbo nacional.
A última vez que o combalido futebol do DF disputou, pelo menos, a Série C, completará uma década. Em 2013, o Brasiliense, então campeão candango, era o que o cenário local tinha de melhor. No entanto, o investimento e as expectativas da diretoria não foram correspondidas em campo. A equipe de Taguatinga terminou a primeira fase na nona colocação do Grupo A, com oito vitórias, seis empates e seis derrotas. O desempenho culminou no rebaixamento.
A quarta divisão é, de fato, o obstáculo a ser superado pelas equipes do centro do país. Desde a criação dessa divisão, em 2009, jamais um clube candango saboreou o acesso. Sete tentaram e não conseguiram: Botafogo-DF, Brasília, Ceilândia, Gama, Luziânia, Sobradinho e Brasiliense ficaram pelo caminho. O Jacaré esteve próximo de quebrar a escrita, mas amargou a eliminação.
Na temporada seguinte ao rebaixamento, a equipe amarela juntou os cacos e esboçou o ressurgimento. O final da história, entretanto, não foi como imaginado. A campanha do acesso parou no último ato antes da aprovação. O Brasiliense caiu nos pênaltis nas quartas de final contra o Brasil de Pelotas-RS e viu a vaga para a terceira divisão escapar entre os dedos com requintes de crueldade.
De lá para cá, o futebol candango acumula oito anos consecutivos de escravidão na Série D e lida com dificuldades na tentativa de reviver dias melhores, como aquele em que o Brasiliense disputou a final da Copa do Brasil de 2002 contra o Corinthians e conquistou a Série C. Naquele ano, o Gama figurava na primeira divisão pelo quarto ano consecutivo.
Mesmo atolados na pior divisão do país, os representantes da cidade na Série D deste ano vislumbram uma saída. "Cada jogo e cada competição ensina bastante. Acredito que os clubes de Brasília têm se organizado bem para disputar a Série D. Disputei várias vezes o torneio e vejo que o nível das equipes que enfrentamos não está acima do nosso. Os clubes locais têm montado bons times e feito boas campanhas, mas o acesso ainda não veio", pondera o treinador do Ceilândia, Adelson de Almeida.
"Todas as condições nos foram dadas, mas tivemos a infelicidade de errar no momento em que não podíamos. É muito doloroso e sentimos demais. Acredito que é nessa hora que precisamos ter a maturidade de tirar lições para ver o que está faltando e tentar uma melhoria, principalmente em um campeonato de mata-mata", ressalta o comandante do Brasiliense, Celso Teixeira.
Os dois técnicos concordam sobre o nível e a estrutura do futebol local. Para eles, o quadradinho não deixa a desejar em comparação aos demais clubes de Série D. "Vejo que o futebol de Brasília tem uma boa estrutura, com bom nível técnico, haja visto o Ceilândia, que disputou a final do Candangão e tem grandes jogadores e um bom trabalho, assim como outros times", compara Teixeira.
"Isso incomoda por observamos que os times dos outros estados não estão acima dos nossos times em nível técnico e estrutural", compartilha Adelson.
Há controvérsias. Estados com PIB inferior ao do DF são representados na Série C. O Piauí, por exemplo, conta com o Altos na Terceirona. Amazonas tem o Manaus na divisão. O Ceará conta com o Floresta.
Tricampeão candango como treinador de Gama e Brasiliense, o experiente Vilson Tadei enxerga que clubes e jogadores precisam de uma mudança de mentalidade. "Os envolvidos precisam entender que jogam em times de capital. Eles precisam fazer valer a supremacia da cidade. Brasília não é só política. Brasília é dona de uma cultura espetacular, que inclui vôlei, basquete e futebol. É preciso trabalhar em cima disso", diz.
Para o ex-treinador da dupla mais popular do DF, os atletas precisam levar mais a sério o futebol local e não podem ser isentos de culpa. "Eles precisam ter responsabilidade e entenderem que eles são os protagonistas e fazem as coisas acontecerem. Não podemos passar a mão na cabeça dos jogadores", aconselha.
"Os treinadores não costumam ter um trabalho longo. Com as falhas, logo vêm as trocas e, também, contratações de jogadores que não podem atuar, com problemas na documentação", conclui Tadei.
A Série D 2021, agora, é página virada para os clubes do DF. No próximo ano, a árdua caminhada rumo à Terceirona continua. Atual campeão e vice do Candangão, respectivamente, Brasiliense e Ceilândia serão, novamente, os representantes da capital do país na quarta divisão nacional. Dessa vez, ambos querem mostrar que aprenderão com os erros deles e dos outros.
Estagiário sob a supervisão de Marcos Paulo Lima
Campanhas dos candangos na Série D
Botafogo-DF
fase de grupos (2010)
Brasília
segunda fase (2009), terceira fase (2010) e fase de grupos (2013)
Luziânia
fase de grupos
(2014, 2016 e 2017)
Sobradinho
fase de grupos
(2012 e 2019)
Ceilândia
fase de grupos (2010, 2018 e 2022), oitavas de final (2012, 2016 e 2017)
Brasiliense — quartas de final (2014), oitavas de final (2018 e 2020), segunda fase (2019, 2021 e 2022)
Gama — fase de grupos (2011, 2015 e 2021), segunda fase (2020)
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