HOMENAGEM

Relembre a luta histórica em que Éder Jofre conquistou o cinturão em Brasília

Há 49 anos, o pugilista Éder Jofre teve um dia dourado em Brasília com a conquista do cinturão do peso pena. Com ajuda de um torcedor presente à época, Correio relembra dia histórico do boxeador, morto no último domingo aos 86 anos

Danilo Queiroz
Paulo Martins*
postado em 09/10/2022 06:00
 (crédito: Arquivo/ Stuckert)
(crédito: Arquivo/ Stuckert)

A trajetória de Éder Jofre no boxe e na vida foi gloriosa. Considerado um dos maiores pugilistas do Brasil, o Galinho de Ouro — alcunha concedida pelo escritor Benedito Ruy Barbosa — ostentou grandes triunfos no ringue e, por diversos anos, carregou o cinturão do título mundial dos pesos pena e galo. A vitoriosa história do campeão, morto no último domingo, aos 86 anos, em razão de consequências de uma pneumonia, está intimamente ligada a Brasília. A cidade testemunhou a última vez do boxeador no topo do mundo.

Em 5 de maio de 1973, no Ginásio Nilson Nelson — à época chamado de Presidente Medici —, Jofre protagonizou uma luta emocionante contra o cubano naturalizado espanhol José Legrá. A vitória veio após 15 assaltos e em decisão dividida dos juízes: dois acharam o brasileiro campeão e pontuaram a luta com 148 x 143 e 146 x 141, enquanto um outro viu empate por 143 x 143.

Sem transmissão ao vivo, a capital parou para ver a luta. Na época, uma luta por um título mundial de boxe era uma novidade na capital. Até hoje, não há um número oficial de torcedores presentes. Porém, as arquibancadas abarrotadas do palco são um fato incontestável.

Uma das testemunhas oculares da história escrita pelo pugilista paulista em solo candango foi o aposentado Sérgio Miguel Safe de Matos, de 76 anos. "Em 1973, Brasília era uma cidade com poucas opções de lazer. Vivíamos, sobretudo, em uma época de muito ufanismo, com uma ideia temática do Brasil Grande. Meu irmão caçula, Diomar, estava louco para ver a luta e eu o acompanhei: foi de binóculo e tudo. Eu, particularmente, gostava mais de luta livre e era fã do Waldemar Santana", recorda.

Em 6 de maio de 1973, um dia depois da conquista de Jofre, o Correio contou o triunfo do brasileiro na edição daquele domingo. "A atuação de Éder foi perfeita, sendo considerada por todos os presentes no Ginásio de Esportes como altamente técnica, explorando todas as falhas do adversário", diz trecho da reportagem publicada no jornal impresso.

O clima, de acordo com seu Sérgio, era completamente enérgico na expectativa da conquista em um cenário hoje icônico na cidade, mas recém-inaugurado à época. "O ginásio era novinho e estava completamente lotado. A luta foi muito longa e o cubano parecia até mais forte do que o Galinho de Ouro", relata.

Se os longos assaltos daquela histórica luta dificultaram a missão dos árbitros em declarar a vitória em uma final mundial, mais ainda no país natal de um dos competidores, das arquibancadas, Sérgio teve uma visão distinta.

"Todos esperavam um nocaute ou pelo menos uma vitória mais indiscutível. A luta foi decidida pelos juízes algum tempo após terminada e, sem dúvida, ficou uma sensação de 'patriotada'", conta o espectador. Até os dias atuais, inclusive, Legrá se considera vencedor da luta, mesmo com várias evidências apontando o contrário.

No dia seguinte, o Correio flagrou o lutador com os dois olhos inchados. Consequência dos golpes aplicados por Jofre. Éder aproveitou a pós-conquista na piscina do Brasília Palace Hotel, onde ficou hospedado. A sensação do brasileiro com o título foi de plena satisfação. "A minha intenção nesta luta era dar essa alegria de ser campeão mundial ao meu pai e ao Brasil. Consegui", disse à época.

Sobre a morte do mítico boxeador brasileiro, Sérgio lembrou do seu impacto histórico, passando por aquele sábado, há quase meio século. "Éder Jofre influenciou mais de uma geração no boxe. A morte de um ídolo nacional sempre entristece a todos, mas ele teve uma vida longa e bem-sucedida. Espero que descanse em paz", lamentou.

*Estagiário sob a supervisão de Danilo Queiroz

 


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