BRASIL

Lesão de Neymar força Seleção a desapegar de camisa 10 para vencer a Suíça

Dependência de 12 anos de Neymar força time a se desapegar do camisa 10 para vencer a Suíça e avançar às oitavas

MARCOS PAULO LIMAEnviado especial
postado em 28/11/2022 05:51 / atualizado em 28/11/2022 05:52
 (crédito: Lucas Figueiredo/CBF)
(crédito: Lucas Figueiredo/CBF)

Doha — Mano Menezes, Luiz Felipe Scolari, Dunga, Tite. A Era Neymar impõe, há 12 anos, uma dependência sem precedentes do atacante de 30 anos. Quando o único fora de série dá pau, o viciado sistema da Seleção Brasileira "buga" e mobiliza uma legião de profissionais a pensar fora da caixinha para reinventar o aplicativo verde-amarelo a toque de caixa e fazê-lo rodar de uma forma minimamente confiável para o maior usuário: o torcedor. O jogo de hoje contra a Suíça, às 13h (de Brasília), no Estádio 974, exigiu troca de HD. Corrompido por uma contusão, o "drive" Neymar está no conserto. A comissão técnica formatou a máquina verde-amarela responsável por trazer o hexa e exibirá nova versão na segunda rodada com vários candidatos a novos protagonistas: jovens como Richarlison, Vinicius Junior, Raphinha, Rodrygo e Lucas Paquetá pintam como herdeiros do posto.

Sem Neymar e o também lesionado Danilo, o Brasil tem duas alternativas de combos diferentes para trocar as peças. A primeira opção de Tite é não mexer demais na estrutura. Entrar com Daniel Alves e Fred. Neste caso, Lucas Paquetá atuaria avançado na armação, emulando o papel de Neymar. A segunda hipótese tem o zagueiro Éder Militão na direita e Rodrygo no papel de homem de ligação. Paquetá permaneceria como volante.

Se estivéssemos na Copa da Rússia, Tite confirmaria a escalação. Traumatizado com a eliminação diante da Bélgica, há quatro anos e meio, o treinador mudou de hábito no Catar. Está misterioso. Como se não bastasse o freio na língua, o último treino, ontem, no Estádio Grand Hamad, o Centro de Treinamento escolhido pela CBF, foi fechado à imprensa. Os repórteres tiveram acesso apenas a 15 minutos da atividade na arena do Al Arabi.

"A definição da equipe está feita, mas tenho por hábito, de agora, passar na hora do jogo. Em termos estratégicos, você consegue fazer algumas mudanças comportamentais ou de características de atletas. O (Éder) Militão já jogou nessa função (lateral direita), tem característica para tal, e o Dani é um construtor, fora a qualidade técnica e de liderança que tem. Moral da história? Não vou dizer quem vai jogar", desconversou Tite.

Reinventar é o verbo na Era Neymar desde a estreia do craque na Seleção, em 2010, sob o comando de Mano Menezes. O atacante nunca o deixou na mão, mas obrigou seu primeiro treinador a discipliná-lo depois da troca de farpas com o técnico Dorival Júnior no episódio em que René Simòes disparou que o futebol brasileiro estava "criando um monstro". Neymar ficou fora da lista de convocados. Mano atribuiu a ausência ao ato de indisciplina.

Com Dunga

Em 2015, Dunga ficou sem Neymar na Copa América disputada no Chile. O jogador se envolveu em uma confusão com o zagueiro colombiano Murillo depois da partida, recebeu cartão vermelho e foi expulso da competição pela Conmebol. O treinador teve de remodelar o Brasil para a última rodada da fase de grupos. A Seleção avançou às quartas, mas caiu nos pênaltis diante do Paraguai.

Dunga também engoliu abrir mão de Neymar em 2016, na edição centenária da Copa América. O atacante tirou férias. Sem ele, o Brasil caiu na primeira fase depois de uma derrota por 1 x 0 para o Peru. O capitão do tetra perdeu o emprego.

As contusões de Neymar são as maiores vilãs dos recorrentes processos de reinvenção da Seleção. Em 2014, Luiz Felipe Scolari viu o colombiano Zúñiga tirar o principal jogador do Brasil nas quartas de final da Copa do Mundo. Tite ficou sem o camisa 10 na Copa América de 2019 devido a uma lesão no amistoso contra o Catar, em Brasília, mas soube se virar sem ele e conquistou o título continental. Três anos depois, o problema é semelhante.

"O Brasil é dependente de todo grande talento, e o Neymar é um extraordinário talento. Claro que é dependente, mas da preparação dos demais também", reconheceu Tite. "Preparamos todos. Claro que os talentos são diferenciais técnicos, e sim, o Neymar tem importância única no nosso modelo, porém todos estão preparados para suprir a necessidade", complementou o auxiliar técnico César Sampaio.

Tite explicou do que sentirá mais falta na partida contra a Suíça. "Acredito no grande talento do atleta diferente. Aquele que faz as coisas bem feitas durante 80 minutos e, em duas ou três oportunidades, faça a diferença. Esse é o talento, a criatividade. Esses talentos aparecem três vezes durante o jogo, isso é ser diferente, e o Neymar tem essa capacidade."

 

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